Um dia mais velho do que Marcelo Grohe, Paulo Victor tem a responsabilidade de substituir o titular nos últimos jogos do Grêmio na temporada.
Além de aproveitar a sequência nesse final do Brasileirão,
o goleiro de 31 anos deseja ver concretizado nos próximos dias um desejo em comum entre os jogadores do grupo:
a permanência de Renato Portaluppi para 2019. O técnico, que recebeu na sexta-feira a primeira proposta do clube para renovar seu contrato, também ouvirá dos atletas um apelo para seguir o trabalho vitorioso no próximo ano.
— Se depender de mim, vamos fazer este coro: fica Renato — sorri o goleiro.
Em entrevista na quinta-feira a GZH, sob sol intenso na beira do gramado do CT Luiz Carvalho, Paulo Victor também falou com desenvoltura sobre a experiência que viveu
no futebol turco antes de chegar à Arena. Demonstra absoluto respeito pelo momento
vivido por Grohe no clube e diz que a paciência é fundamental para que um goleiro
tenha sucesso na carreira.
— A ansiedade, muitas vezes, elimina algumas oportunidades na nossa vida — ensina.
Como vê esta sequência como titular em função da lesão do Marcelo Grohe?
Serão seis jogos preciosos para você.
A gente espera tanto pela oportunidade, né. Infelizmente, veio pela lesão de um companheiro. Mas a gente precisa estar preparado sempre, até porque goleiro tem poucas chances de ganhar uma sequência. É aproveitar este momento, espero ajudar o Grêmio da melhor maneira possível.
Como é sua relação com o Grohe?
A gente tem praticamente a mesma idade. Sou um dia mais velho do que ele. É uma parceria que tem tido sucesso, os dois tiveram crescimento desde o ano passado e isso mostra a troca de trabalho. O aprendizado é constante, não só com ele, mas também os meninos que estão subindo da base e goleiros de outras equipes. A gente sempre precisa evoluir no futebol.
Quando você veio para cá, sabia que teria pouca sequência. Por isso, nada te frustrou?
Exatamente. Falo isso porque a mentalidade e as coisas que você busca na vida precisam ser o diferencial sempre. No Flamengo, sempre trabalhei para ser titular. Tive o processo de quarto goleiro para terceiro, depois de terceiro para segundo até assumir a titularidade. Isso não ocorreu da noite para o dia, demorou seis ou sete anos. A ansiedade, muitas vezes, elimina algumas oportunidades na nossa vida. A gente tem de ter a sabedoria de esperar o momento certo para aproveitar. Quando vim ao Grêmio, sabia que tinha o Marcelo, que tem todo o respeito do clube. Mas para ter o nome que tenho hoje eu trabalhei muito, me dediquei muito e quero continuar esta história por muito tempo, sempre respeitando quem está ao meu lado e buscando meu espaço.
Como foi o período em que você atuou na Turquia?
Fui para lá no início do ano passado, num momento em que tudo estava tranquilo na minha vida. Tinha bastante tempo de Flamengo e mais três anos de contrato pela frente. Mas eu queria uma coisa nova, abrir o mercado. Aceitei o desafio e fui para o Gaziantepspor, que na época era o último colocado do campeonato. Era o momento de eu aparecer e voltei para cá depois com três propostas de clubes turcos. Estava quase acertado e aí apareceu a oportunidade no Grêmio, que não tinha como negar.
Fora de campo, como foi sua experiência naquele país?
Maravilhosa. Às vezes, a gente acha que vai encontrar alimentação diferente, futebol diferente e vi totalmente ao contrário. Era uma culinária em que me adaptei rápido, um futebol que não é o melhor da Europa, mas de alto nível, com jogadores como Eto'o e Sneijder, que já disputaram Copa do Mundo. Me deu oportunidade de crescimento e visibilidade, justamente o que eu buscava.
O fanatismo dos torcedores é maior lá do que no Brasil?
A torcida te olha na rua como uma estrela. Eles querem te abraçar e te beijar aonde você vai. Eu estava em uma cidade com 5 milhões de habitantes e a equipe tinha uma história de ligação muito grande com a população. As pessoas olham o brasileiro de maneira diferente. Teve um clássico contra o Adanaspor, cadeiras voando para tudo quanto é lado. Isso no Brasil para o jogo. Eu olhava para um lado, cadeira voando, olhava para o outro e o jogo seguindo. Fiquei até assustado. Lá tem este lado um pouco atrasado, mas o fanatismo é maior em relação ao torcedor brasileiro.
Você atuou lá no ano passado. Vivenciou o governo do presidente Erdogan, que é muito ligado ao futebol.
Ele é apaixonado pelo futebol. Os estádios lá são de primeiro nível, exemplo para o Brasil. Ele investiu muito, o sonho dele é ter uma Copa do Mundo lá. Você vê times de segunda divisão lá com estádios que as equipes de primeira aqui não dispõem. Ele tem quase 80% de aceitação do povo turco, tive a oportunidade de conhecê-lo em uma visita. Pude perceber a idolatria que as pessoas têm pelo presidente pelo país e também o amor dele pelo futebol, fez questão de cumprimentar todos os jogadores de nossa equipe.
Foi um desejo seu vir para o Grêmio. Tanto que você estava quase acertado para voltar à Turquia.
Eu viajaria em um domingo para lá e fechei com o Grêmio na sexta-feira anterior. Foi algo que ocorreu de repente, o desejo familiar e profissional de vestir essa camisa era muito forte. Não mirei ser o primeiro ou segundo, mas sim a oportunidade de trabalho. Não tenho tempo estipulado para ser titular ou não. Tenho tempo para servir o Grêmio da melhor maneira possível.
Por conta desta sequência como titular, você está se esforçando mais nos treinos?
Não trabalho para ser o reserva, trabalho para ser o primeiro sempre. No Flamengo, muitas vezes entrava em final ou semifinal e tinha de corresponder. O torcedor não quer saber se você é o primeiro ou se é o segundo, ele quer saber do resultado. Muitas vezes, não entende que, para o goleiro, é muito mais difícil sem a sequência e que a gente tem de superar isso. Eu treino mais ou menos, mas sempre em alto nível para não ser surpreendido. Tem vezes que as coisas não vão acontecer como a gente espera, um dia em que não serei tão feliz, mas vou estar preparado.
Aos 31 anos, você já atingiu um momento de maturidade na carreira?
Procuro aproveitar o máximo de cada coisa. Do título, do trabalho, da convivência e da experiência. A maturidade do goleiro chega neste momento, aos 31, 32 anos, e pode levar a carreira até os 38, 40 anos. Já o jogador de linha tem esta maturidade aos 26, 27. Cheguei a um estágio em que sei o que posso render, ainda mais em uma sequência em que posso mostrar meu futebol. O goleiro vive de pequenas oportunidades para mostrar seu valor.
Como vocês estão assimilando esta eliminação na Libertadores e a decisão do Tribunal da Conmebol?
Digerir isso é algo complicado, ainda mais uma derrota. Mas temos um grupo muito vencedor, que vem ganhando títulos há dois anos. Só neste ano, foram duas conquistas. Nosso clube tem jogadores com maturidade. Nossa maior resposta foi esse jogo com o Atlético-MG, um jogo logo depois da eliminação, em que vencemos um concorrente direto pela vaga ao G-4. Precisamos do apoio do nosso torcedor, para que nos abracem nestes últimos seis jogos a gente consiga esta vaga direta na Libertadores. Assim, poderemos brigar por grandes coisas no ano que vem.
O Renato está tratando da renovação de contrato com o Grêmio. Vocês chegaram a conversar com ele sobre isso?
A gente espera sempre ter ele ao nosso lado. Além do profissional que ele é, tem esse jeitão que as pessoas pensam que ele é só de praia, mas é um cara que trabalha muito e que cobra muito do jogador no dia a dia. A gente não pode negar que é um dos treinadores mais vitoriosos nos últimos anos e será assediado por equipes de dentro e de fora do país. A gente torce para que o presidente consiga segurar ele aqui com a gente. Mas não podemos esquecer que a concorrência é grande, pelo nível de maturidade dele como treinador e também o currículo que ele tem.
Vocês vão fazer um apelo ao Renato para que ele permaneça no Grêmio?
Claro que a gente vai pedir para o Renato ficar, não tenha dúvida. Mas temos sempre que respeitar as decisões e o que pesa ao profissional. Agora, ter o Renato aqui por mais um ano seria um prazer para a gente. Se depender de mim, vamos fazer este coro: fica Renato. Hashtag fica Renato. Um treinador vitorioso como ele, vai receber proposta de outros lugares. Cabe a ele decidir o que é melhor para a vida dele. Eu troquei uma oportunidade maior financeira para estar no Grêmio e disputar uma vaga. Cada um sabe o que é melhor para sua vida e para crescer na profissão.