O Grêmio é “um time de pouca expressão” onde “Bebeto jogou”. Porto Alegre fica “perto de Salvador” e Renato Gaúcho “é irmão do Ronaldinho”. Estas são apenas algumas das pérolas que você escuta nas ruas de Madri quando se atreve a colocar à prova o conhecimento da torcida espanhola sobre o futebol brasileiro. É só dar uma volta pela capital para perceber, rapidamente, que os espanhóis sabem muito pouco sobre o possível futuro rival do Real Madrid no Mundial de Clubes.
— O que eu sei sobre o Grêmio?! Que é um time brasileiro… É onde o Ronaldinho Gaúcho jogou, não é? — pergunta Pablo López, torcedor do Real Madrid de 38 anos, que não tinha a menor ideia que, poucas horas antes, o clube de Porto Alegre tinha ganhado a Libertadores e, com isso, conquistado o direito de jogar o Mundial de Clubes, provavelmente contra o Real Madrid na final.
— Não sabia… Quando é o Mundial? É no Japão ainda? — indaga o programador, que ao mesmo tempo revela um vasto conhecimento dos jogadores brasileiros que passaram pelo futebol europeu.
Pablo se diz fã de Rivaldo, Roberto Carlos, Ronaldo e Juninho Pernambucano. Lembra saudoso da classe de Aldair, da velocidade de Cafu e da segurança de Ricardo Rocha. Mas, na hora de falar do maior ídolo, Bebeto, volta a mostrar o desconhecimento dos clubes brasileiros que a grande maioria dos espanhóis que Gaúcha ZH entrevistou.
— Sou galego e o La Coruña de Bebeto, Mauro Silva e Donato marcaram minha infância… O Bebeto não era do Grêmio? — pergunta.
O jornalista Rubén Martín, 28 anos, também é torcedor do Real Madrid e se define como “fanático por futebol”. O madrilenho “ouviu no rádio” esta manhã sobre o título do Grêmio. E “achou estranho”.
— Esperava que o campeão fosse um time de maior expressão, deve ter sido uma grande surpresa — explica torcedor do Real Madrid, que esperava um representante sul-americano “com mais tradição” no Mundial de Clubes.
Martín faz cara de susto quando revelo que esse é o terceiro título e a quinta final do tricolor gaúcho na Libertadores e que o Grêmio está empatado com o São Paulo e Santos como os clubes brasileiros mais vitoriosos na maior competição sul-americana.
— Sério? Não imaginava que fosse um clube tão tradicional. Quando pensamos em grandes clubes brasileiros, pensamos no Flamengo ou Santos… Mas pelo visto não sabemos nada de futebol brasileiro aqui na Espanha — ri de si mesmo Martín, admitindo que faltam cultura e interesse do torcedor europeu de conhecer o futebol sul-americano.
Sergio Gómez é um renomado jornalista esportivo no Grupo Prisa e cobre o Real Madrid há anos. Mas quando perguntado sobre o Grêmio, ele admite que “a única coisa que sabe é que é o clube que formou Ronaldinho Gaúcho”.
— Não tenho a mínima ideia de onde está Porto Alegre… é perto da Bahia — sorri meio envergonhado Gómez, consciente de que foi pego em flagrante opinando sobre um assunto que claramente não domina.
— Hoje, na Espanha, só sabemos quem é Arthur, porque o Barcelona foi a Lanús para observá-lo, mas não seria capaz de dizer o nome de nenhum outro jogador ou inclusive ex-jogador — admite.
Quando lhe pergunto se sabe quem é Renato Gaúcho, ele responde com outra pregunta, seguida de uma gargalhada:
—Irmão do Ronaldinho?
Gómez acredita que são vários os fatores que impedem o torcedor europeu de seguir com maior proximidade o futebol brasileiro e sul-americano em geral. O fuso horário (durante boa parte do ano são cinco horas de diferença), a falta de opções na programação (apenas um jogo da rodada do domingo é transmitido ao vivo na TV a cabo espanhola) e, principalmente, o nível da competição.
— O mais difícil para o torcedor é o ritmo do jogo, a velocidade. Todas as vezes que tentei ver um jogo do campeonato brasileiro, acabei entendiado porque é muito mais lento do que estamos acostumados na Europa — explica o jornalista.