Em 1974, o francês Philippe Petit chamou atenção do mundo ao desafiar as autoridades norte-americanas e atravessar as Torres Gêmeas equilibrando-se apenas sobre um cabo de aço. No cinema, a incrível e estúpida aventura de Petit rendeu o documentário O Equilibrista (2008), vencedor do Oscar da categoria, e o drama A Travessia (2015), estrelado por Joseph Gordon-Levitt.
O prazer que Petit buscava ao tentar provar-se capaz de cruzar duas das maiores edificações da história tendo entre seu corpo e o solo uma estreita barra metálica não estava somente no ato. Petit, ao colocar-se naquela situação, tornava-se um transgressor, um homem que fazia o que nenhum outro poderia e deveria fazer. Um sujeito que, ao ser visto no céu, entre as duas torres, passaria a ser digno de amor e ódio de qualquer um que não o conhecesse antes.
Na história de Petit, há uma busca pela eternidade. Um equilibrista que afronta a vida ao caminhar entre dois prédios com mais de 400 metros depara-se, inevitavelmente, com a glória do feito conquistado ou com uma morte que, de tão óbvia, torna-se humilhante. De qualquer forma, a coragem de pôr o peito para cima e dizer ao mundo que é capaz de completar sua travessia, mesmo que o contrário lhe custe a própria vida, já tornam o equilibrista um ser digno de ser lembrado para sempre.
Assim como Petit, o Grêmio de Renato chegou onde nenhum time deveria. Em certo momento, precisou equilibrar-se na disputa de três títulos importantes e chegou a enganar que poderia se dar bem. Priorizando a Libertadores, acabou eliminado na Copa do Brasil e viu o Corinthians disparar no Campeonato Brasileiro - o que, olhando para trás, parece algo tão óbvio quanto uma possível queda de um equilibrista.
Classificado para a semifinal da América, o Grêmio, balançando com uma única perna enquanto todos aguardam ansiosos pelo tropeço final, precisa fazer com que outubro traga de volta o futebol que o credenciou a um dia ganhar três campeonatos disputados ao mesmo tempo. Este time, assim como o bravo equilibrista, já está na história. Basta saber se com a taça ou estendido sobre o chão.