Terminado o jogo contra o Godoy Cruz-ARG, na quarta, até agora o teste mais forte para o Grêmio nesta Libertadores, Pedro Geromel e Lucas Barrios usaram a mesma expressão para definir o comportamento do time. Tanto o zagueiro quanto o centroavante saudaram a maturidade da equipe para virar o jogo e, com isso, assegurar presença nas quartas de final da competição.
A mesma maturidade também pode ser enxergada em quem atua do lado de fora do campo. Perto de completar 55 anos - fará aniversário dia 9 de setembro -, Renato Portaluppi emite claros sinais, em sua terceira e mais duradoura passagem pelo Grêmio, de que a experiência lhe tem sido benéfica no desempenho do ofício.
O comportamento pode ser constatado tanto dentro de campo, com soluções táticas que transformaram a forma de jogar da Grêmio, quanto fora, em que atua como conselheiro dos jogadores.
Essas duas virtudes ficam evidenciadas no depoimento de Douglas, cujo retorno é projetado para setembro, após parada de mais de meio ano por cirurgia no joelho esquerdo.
– Renato sempre foi um grande treinador, além da grande história dele dentro de campo. Antes de chegar aqui ele já era campeão pelo Fluminense, tem DNA de campeão. Taticamente ele ajustou muito bem o time, mesmo tendo troca de alguns jogadores – disse o meia, antes de ingressar na avaliação daquilo que Renato representa como gestor de grupo. –Ele entende o jogador e tem o grupo na mão, sabe quando e onde atuar de forma muito inteligente.
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Multicampeão como treinador pelo São Paulo, Muricy Ramalho, 61 anos, hoje comentarista do canal SporTV, já encaminhava o encerramento de sua carreira como jogador, em 1985, quando Renato Portaluppi estava no auge como atacante do Grêmio. A admiração, que vem desde aquela época, só cresceu a partir do momento em que Renato passou a comandar.
– Desde o início da carreira, o Renato mostrou que tinha condições de dirigir grandes times. O tempo passa, técnico fica melhor. Na prática, é o que faz a diferença– analisa. – Ele sempre foi bom treinador, agora está mais maduro, mais experiente. Está no melhor momento de sua carreira.
O afirmação de Michel e Arthur como volantes titulares obrigou Renato a tomar uma das decisões mais difíceis desde sua chegada, em setembro. Com o surgimento da nova dupla, o técnico precisou colocar na reserva o jogador que havia sido o capitão na vitoriosa campanha da Copa do Brasil de 2016.
Maicon, o "sujeito-homem", conforme definição do técnico, compreendeu que havia perdido o lugar. Mas não diminuiu em nada sua admiração pelo comandante.
– É muito bom trabalhar com o Renato. É um cara que fez historia dentro de campo e já foi campeão como treinador. Tem muita identificação com o Grêmio e quer vencer sempre. Tem sido fundamental nesse momento importante que estamos vivendo – destaca.
Com 52 anos de Grêmio, o superintendente Antônio Carlos Verardi fala com autoridade sobre o homem Renato, a quem conheceu em 1980, ano em que o ex-atacante foi trazido do Esportivo, de Bento Gonçalves. Desde o início, Verardi percebia que o comportamento irreverente do ex-jogador escondia uma pessoa séria, preocupada desde sempre com os familiares. Também como treinador a qualidade surgiu cedo, avalia.
– Já na primeira passagem como técnico, em 2010, ele tomava decisões surpreendentes, que melhoravam o rendimento do time. Eu olhava e dizia para mim mesmo: como ele conseguiu pensar nisso? Hoje, com mais ferramentas à disposição, melhorou ainda mais – opina Verardi, citando a contribuição de Maristela, a mulher do treinador, para seu amadurecimento.
O episódio da sexta-feira, em que entrou na sala de imprensa do CT Luiz Carvalho carregando sob o braço esquerdo um busto com que o homenageara o escultor catarinense Sérgio Coirolo, também revela habilidade de Renato para administrar situações difíceis.
A tensão da entrevista, cuja primeira pergunta, necessariamente, seria sobre a demissão de seu amigo, o coordenador técnico Valdir Espinosa, ocorrida na véspera, foi amenizada pela surpresa e, depois, pelos risos dos repórteres presentes.
Primeiro, Renato retirou o óculos e o colocou no busto, dizendo que, dessa forma, personagem e obra ficavam mais parecidos. Depois, completou, ao lembrar que torcedores pediram que uma estátua sua fosse construída na Arena:
– Estão fazendo aos poucos. Mandaram primeiro o busto, depois virão as pernas e os braços.
A essa altura, mais nenhum jornalista lembrava de perguntar sobre Valdir Espinosa.