O destino foi cruel com Caio. Autor do gol que começou a dar ao Grêmio a sua primeira Copa Libertadores, Caio terá amputada parte da perna direita. A que ele usou para empurrar a bola para dentro do gol do Peñarol, marcando o primeiro gol tricolor no histórico 2 a 1 sobre os uruguaios, em 1983.
Conheci Caio já um senhor, em 2016, quando eu e o editor Sérgio Villar fazíamos uma dura matéria: Futebol sem fama, sobre ídolos que não fizeram fortuna com a bola. Caio era uma das personagens. Estava vivendo na concentração do Ivoti por uma deferência do presidente da Globalfut, Sérgio Madalozzo, que se sensibilizou com o apelo de colegas de Libertadores de Caio, como Tarciso, e lhe deu abrigo além de ajudar na sua primeira cirurgia para controlar o pior dos adversários contra as pernas do atacante: a trombose.
De fala mansa e com um sorriso suave, mas triste, Caio recordava as glórias passadas de Grêmio e lembrava com carinho dos amigos. Dizia que o segredo da felicidade eram as relações que havia construído em duas décadas de carreira profissional. Numa tarde calorenta em Ivoti, ele contou que havia perdido todo o dinheiro ganho com a fama e com as taças. Alugou uma cobertura nas cercanias do Olímpico e comprou o carro do ano. E convicto como um goleador nato foi certeiro na justificativa para tais despesas:
– Como eu iria receber vocês
(repórteres) se não fosse em uma cobertura? O que pensariam de mim?
Anos depois da fama, de volta a sua São Luís, as coisas já haviam mudado. Com dificuldades financeiras após investimentos malogrados no ramo de farmácias, tomou um ônibus para chegar em casa e, reconhecido por um passageiro, foi questionado como o "grande Caio" estava usando o transporte público e não um carro. E devolveu: – Minha riqueza são os meus amigos.
Em Ivoti, Caio tinha a medicação que precisava, um quarto só seu, refeições e, em troca, contava causos da bola para a gurizada das categorias de base do clube-empresa. Levava uma vida pacata e seguia a rotina recomendada pelos médicos: uma caminhada pela manhã e repouso à tarde. Não tinha luxos e sentia falta dos filhos.
Caio ainda luta uma Libertadores pessoal diante da trombose. Perdeu uma batalha, mas ainda seguirá brigando contra a doença. Como fez em 28 de julho de 1983, ao se atirar contra a bola com a perna direita, na pequena área da Avenida Cascatinha, em um Estádio Olímpico que viveu a noite da maior glória de sua existência.