Ao vestir a faixa de pentacampeão da Copa do Brasil, Marcelo Grohe tornou-se um símbolo da conquista e da persistência dos gremistas. Com méritos e coragem para enfrentar as críticas, é um personagem decisivo na epopeia que nos libertou do jejum de 15 anos.
Ainda nas oitavas de final, contra o Atlético-PR, o Grêmio esteve a uma bola de ser eliminado. Marcelo falhou no tempo normal, vacilo que levou a decisão para os pênaltis. Logo na chegada de Renato, nosso arqueiro ficou cara a cara com Weverton. Se o goleiro rival, protagonista no ouro olímpico, convertesse a cobrança, a fila iria para 16 anos. Seria mais uma eliminação na Arena.
Weverton embalou e soltou um balaço no canto. Com o braço esquerdo esticado, Marcelo voou e barrou a frustração. Em seguida, classificamos. A tênue linha entre fracasso e sucesso foi cruzada pelos gremistas de mãos dadas com Marcelo. Uma linha que parecia intransponível até a noite de 7 de dezembro de 2016.
Dez anos antes, surgia nosso goleiro. Lembro dele ainda guri naquele Gre-Nal em que Pedro Júnior calou o Beira-Rio. Depois do título, uma falha em um clássico no final do mesmo 2006 iniciou um longo inverno para o jogador. Contestado, tornou-se reserva. Viu Saja em uma Libertadores, aprendeu com a ascensão de Victor, assumiu a titularidade e voltou ao banco com a chegada de Dida. Em 2014, virou o dono da camisa 1 de vez.
Convocado para a Seleção, Marcelo também conviveu com críticas por falhas em jogos decisivos. A cada frustração azul, era alvo dos impropérios de uma torcida apaixonada (estou entre os reclamões) que mirava os céus angustiada pelos títulos que não vinham.
Admito que muitas vezes duvidei de Marcelo, imaginei que deixaria o clube sem uma conquista de expressão. Por outro lado, sempre respeitei a capacidade do arqueiro de responder contestações com trabalho. Ele matou no osso do peito a sina de goleiro sem estrela, incinerada no penta da Copa do Brasil. Marcelo nunca desistiu.
O futebol é lindo por reescrever biografias no campo. Se Marcelo era pé frio, depois do fim do jejum grafou na história tricolor seu nome como o primeiro grande goleiro da Era Arena. No primeiro jogo oficial do estádio, uma pré-Libertadores com a LDU em 2013, foi herói. Catou o pênalti da classificação. O rapaz também estava em campo nos Gre-Nais do 4 a 1 e do 5 a 0. E, em setembro passado, defendeu três pênaltis, incluindo o batido por Weverton. Era um presságio. Desta vez seria diferente.
Seguro contra Palmeiras e Cruzeiro, Marcelo foi decisivo no Mineirão contra o Galo. Espalmou um chute violento de Júnior Urso de curta distância. Espalmou as maldições que nos assombravam desde 2001. Na Arena, pouco exigido pela proteção de um paredão, bastou ser tranquilo e seguro.
Das críticas ao penta da Copa do Brasil, a trajetória de Marcelo ilustra a resistência de cada gremista na longa seca da qual fomos libertados. Ele nunca desistiu. Os gremistas nunca desistiram. O jejum acabou!