Três fortes adversários em sequência, a começar pelo Corinthians, neste domingo, na Arena, não diminuem a responsabilidade do Grêmio de dar o salto que pode ser definitivo na tabela de classificação.
Quem assim entende é o zagueiro Wallace Reis, que critica o time pelos pontos desperdiçados contra América-MG e Santa Cruz, dois candidatos ao rebaixamento.
- Tivemos três, quatro, cinco oportunidades de ficar na frente. A verdade é essa: já passou da hora de assumir a liderança - cobra-se o parceiro mais confiável de Pedro Geromel desde Rhodolfo e Erazo.
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Nenhuma entrevista é breve com o baiano de 28 anos e 1m84cm, cujo gosto pelos livros o levou a criar o blog wallaceleu.com.br.
Wallace, que aqui ganhou o Reis para diferenciar-se do volante e do lateral direito homônimos, gosta de fundamentar seus pensamentos em frases longas e bem encaixadas. Como o que tem a respeito dos defeitos que impediram o time de estar em primeiro lugar, mesmo com um jogo a menos - a partida contra o Botafogo ficou para 4 de setembro.
- Faltou um pouco mais de concentração, ser mais cirúrgico em alguns momentos. Não tem nada a ver com o treinador ou o diretor. É questão do jogador mesmo. Faltou capricho maior na marcação, na finalização, no passe. Estamos abaixo. E contra números e fatos não há argumento - reconhece.
Para o zagueiro, é preciso saber lidar com a sede da torcida por títulos. Wallace conta que, ao visitar o Olímpico como adversário, admirava a reverência ao uruguaio Hugo De León, cuja foto ornamentava o vestiário visitante.
Admira o gigantismo do clube e cita de cabeça títulos como o Mundial de 1983, o Brasileirão de 1996 e a Copa do Brasil, " com passe de Roger e gol de Carlos Miguel contra o Flamengo".
- Temos que entender que, além da grandeza do clube, precisamos marcar história. Temos que ligar a chave do discernimento e entender que a paciência do torcedor está no limite por esses 15 anos sem vencer - exige.
É um desperdício reduzir ao futebol a conversa com Wallace. Ele discorre com naturalidade sobre qualquer dos assuntos propostos. Se o tema é música, percebe-se que o gosto destoa da maioria dos jogadores. Embora ele tenha o cuidado de não condenar quem prefere pagodes ou sertanejos, a trilha sonora comum aos vestiários.
- Houve um período em que ouvi muito Janis Joplin. Em outro, The Doors. Ultimamente, estou retomando as raízes nordestinas e ouvindo Luiz Gonzaga. Já ouvi muito Ramones, Cazuza, Legião Urbana. Gosto de Los Hermanos, que tem essa coisa melancólica, meio triste, que curto muito - conta.
A entrevista chega à política. Wallace vê como natural que o Congresso tenha avançado no processo de impeachment de Dilma Roussef e não considera ter havido golpe, "por estar na Constituição". Preferiria que tivesse havido alternância de poder nos últimos anos, para evitar acomodações.
- O que lamento é que esse cartel esteja instituído nesse país há 500 anos. Quando lemos 1808 (livro de Laurentino Gomes que descreve a chegada da corte portuguesa ao Brasil) percebemos isso. No caso de Dilma, ela foi traída por pessoas que estavam do seu lado e debandaram quando a opinião pública ficou contra ela - entende.
Para os próximos dias, Wallace pretende repaginar o blog. Obras de Ariano Suassuna, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Caio Fernando Abreu têm consumido seus momentos de folga.
- No Rio, sofri críticas mais por meu posicionamento político e ideológico do que pelas coisas de campo. Até porque, modéstia à parte, fui muito regular. Senão, não teria feito quase 200 jogos pelo Flamengo. Muita gente me criticava pelo fato de ler livros. Isso incomodava mais que meu desempenho - afirma.
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