O livro chega às bancas neste fim de semana. Não tive tempo de ler a biografia do ex-presidente Fábio Koff inteira. Recebi um exemplar na tarde de sexta-feira, horas antes do fechamento das edições de sábado e domingo. Como resolver esta questão intransponível, ditada por exigências industriais sobre as quais tenho ingerência zero?
Resolvi ir direto para a parte mais polêmica da obra de 247 páginas assinada pelo ex-presidente, pelo professor Paulo Silvestre Ledur e pelo jornalista Paulo Ledur: a Arena. Há histórias de bastidores, com personagens da história do Grêmio. Os torcedores vão se deliciar. Mas, por ora, fiquemos na Arena. Nem todos os nomes dos envolvidos em encontros secretos são revelados.
O cerne da questão, claro, refere-se aos mais de R$ 42 milhões anuais (algo em torno de R$ 3,7 milhões por mês) que, por contrato, o Grêmio teria de pagar à OAS por conta dos sócios que, mediante mensalidade, entravam no Olímpico sem comprar ingresso. Depois, as tratativa de compra da gestão por R$ 24 milhões anuais, interrompidas pelas prisões da Lava Jato na OAS. Pincei apenas alguns trechos da biografia. Vamos a eles.
O impacto inicial
Assim que assumiu, no dia 21 de dezembro de 2012, Fábio Koff se deparou com um documento assinado no dia 18 daquele mês em que o Grêmio se comprometia a pagar pouco mais de R$ 42 milhões por ano à OAS.
- A euforia por assumir mais uma vez a presidência do clube, e desta vez totalmente concentrado no futebol, pois o novo estádio ali estava, desapareceu como por encanto (...) A primeira medida que adotei foi cancelar todo e qualquer pagamento à OAS, inclusive os R$ 2 milhões previstos como prestação inicial.
Reunião com um executivo da OAS, no Olímpico, em meio a todos os vice-presidentes, para resolver a questão das cadeiras a menos encontradas por uma auditoria contratada pelo Grêmio (55 mil em vez de 60 mil). O Conselho Deliberativo exigia compensação financeira. O livro descreve o seguinte diálogo:
- Então, presidente, o que a gente faz? - perguntou o executivo.
Koff pegou um papelzinho que tinha ao seu lado, escreveu R$ 15 milhões, virou o papel e empurrou-o em direção ao executivo da construtora. O silêncio era total na sala. O executivo olhou o papelzinho, pegou uma caneta, riscou o número 1, virando 5 em vez de 15, e o devolveu. Na sequência, foram dez minutos de tensão até que o presidente fez a proposta final:
- Meu caro, vamos sair daqui com esse negócio resolvido. R$ 10 milhões, e a gente fecha negócio.
- É para resolver, presidente?
- Sim.
- Então, fechado!
Os dois se levantaram e se deram um forte aperto de mãos.
Encontro com os proprietários da OAS
Depois de longa espera, um grupo de empresários gremistas conseguiu promover um encontro com a família Mata Pires (dona da OAS). Koff até hoje agradece a oportunidade de dizer que o negócio era totalmente funesto para o Grêmio. Logo no início da reunião, realizada no escritório de um grande empresário gremista, Koff começou declarando de forma enfática:
- Não sei o que levou vocês a fazerem esse contrato com o Grêmio. Também não me interessa. Nós o lemos e entendemos o que aconteceu. Sei que vocês me chamam de velho, alguns até de caduco, de senil, de que não sirvo para mais nada. Mas vou dizer um negócio para vocês: eu não pagarei nada para a OAS em relação a esses contratos assinados no final de 2012. E não saio do Olímpico. Não saio e não pago. E não pensem vocês que estou envergonhado por não pagar; o Grêmio não está inadimplente. Vocês vão ter que renegociar.
- O que é isso! Vamos renegociar. Temos uma relação de 20 anos. Ninguém quer brigar. Temos uma relação de 20 anos pela frente.
Nesse tom terminou a reunião.
O que, afinal, o Grêmio pagou a OAS?
Na negociação, além dos R$ 10 milhões oriundos das cadeiras, o Grêmio obteve também recursos da OAS para concluir a construção do seu CT, para preparar a área administrativa do clube na Arena e para a mudança do Olímpico. Relativamente aos valores cobrados para que seus sócios acessassem a Arena, o Grêmio deixou de pagar em 2013 a quantia então cobrada pela OAS, de R$ 42 milhões, não restando dívidas sobre esses valores. Em 2015, fixou-se o valor de R$ 18 milhões anuais, mantendo-se valores semelhantes ao longo da parceria.
Fábio Koff, na primeira pessoa
"A questão mais preocupante que fica: se houvesse saído vitorioso o outro candidato, naquele clima de euforia pela nova e festejada casa, teria ocorrido a renegociação dos contratos da Arena? Não ocorrendo, como estaria hoje a situação econômico- financeira do clube? O que o Grêmio ainda teria de patrimônio? O que poderia esperar do futuro?"(...)
"Eu me orgulho muito por ter tido a coragem de dizer publicamente que a Arena não era do Grêmio, declaração que me valeu a indisposição de muitos gremistas ilustres e de boa parte dos torcedores, que desconheciam as cláusulas extremamente limitadoras, engessantes e injustas que os contratos originais impunham à administração gremista" (...)
"Lamentavelmente, em vez de fazer o que mais gosto, que é tratar das coisa do futebol, neste último período tive que desviar o melhor da minha atenção à questão da Arena, pois o assunto envolvia o bem maior: a saúde e até mesmo a sobrevivência do Grêmio" (...)
"Sinto-me aliviado e com a sensação do dever cumprido, na medida em que o meu Grêmio será dono da Arena e que o Olímpico ainda é nosso. Espero que todos tenham o equilíbrio e bom-senso para encerrar este capítulo da história do clube com dignidade, sem qualquer prejuízo da negociação realizada até aqui".
Leia mais:
Defesa do Grêmio vira problema para Roger resolver
Em pré-temporada, Miller Bolaños começa treinos com bola
Jornais mexicanos valorizam "baile" em vitória do Toluca sobre o Grêmio
Acompanhe o Grêmio através do Gremista ZH. Baixe o aplicativo:
*ZHESPORTES