A virada do Grêmio tem a cara de Roger, mas passa também pelas mãos Rogério Dias Luiz, 39 anos. Rogerinho, como é conhecido, acelerou o Grêmio para dar, com Roger, esta escalada no Brasileirão. Com vídeos dos treinos do Bayern de Munique e tecnologia de acompanhamento em tempo real do desempenho dos jogadores, o preparador físico deu o gás para que a intensidade pretendida pelo técnico pudesse aparecer.
A dupla Roger Machado e Rogerinho ascendeu junto no vestiário gremista. Em 2011, Roger, que recém havia deixado a carreira de lateral-esquerdo, foi convidado por Renato Portaluppi para integrar sua comissão técnica como auxiliar. Na mesma época, Rogerinho subiu da base para o profissional, como auxiliar da preparação física.
Roger saiu, iniciou a carreira de técnico. O destino fez os dois ascenderem juntos outra vez em junho. Depois da demissão de Felipão e sua comissão, o presidente Romildo Bolzan Júnior apostou na dupla de Rs. Rogerinho, depois de 14 anos no Grêmio, chegava ao topo como preparador principal do clube. Nesta semana, ele recebeu ZH para uma conversa. Leia trechos a seguir.
O Grêmio já está com seu melhor condicionamento físico ou isso ainda será alcançado até o final do ano?
Vejo que, por estarmos virando o turno, não conseguiremos evoluir muito em performance física. Não temos tempo para evoluir muito mais do que estão apresentando. Hoje, fazemos manutenção. Nosso foco é recuperá-los e prevenir lesões para a próxima partida.
Como se explica a mudança de intensidade do Grêmio?
Os jogadores se adaptaram a essa metodologia que o Roger trouxe e aos ajustes que fizemos na preparação física. Tem aquela frase do Roger: "Ninguém treina andando e joga correndo". O que vejo é esse equilíbrio, os jogadores se adaptaram a treinar assim. Isso que vemos nos jogos é a tradução do equilíbrio entre os treinos físicos e os trabalhos técnicos. Isso só aconteceu porque eles se entregaram à nossa proposta.
Qual a principal objetivo do trabalho do dia a dia da preparação?
Nossa metodologia é de treinos integrados, em trabalho alinhado com o Roger, direcionados à resistência anaeróbia, à potência e à força. Tentamos fazer encaixe sempre buscando a transferência para um trabalho de campo também. Nosso trabalho, além de fazer a manutenção da condição física, melhora a performance.
Como é o controle da carga de treinos?
A partir das avaliações de janeiro, temos parâmetro de como se apresentaram. Normalmente, após três meses, fazemos reavaliações para monitorar cada jogador. Controlamos em todos os treinos, observamos como está a intensidade nos trabalhos. Em cima dessas informações, tomamos decisões. Contam ainda o feedback do jogador, a alimentação, o sono e o descanso. Também adotamos alguns marcadores bioquímicos para ver a recuperação entre um estimulo e outro. Após 24h e 48h depois do jogo, monitoramos de forma intensa o retorno para ver se já atingiram os parâmetros normais de repouso. Aí, decidimos se treinará integralmente.
A gota do sangue para análise é colhida diariamente?
Não, aquilo é 24h depois do jogo. Quando em treino alguém baixa muito de intensidade, fazemos o exame. Com isso, criamos um banco de dados e montamos uma média de trabalho. Vamos cercando os fatores que podem prejudicar o desempenho.
O controle do desgaste é em tempo real?
Recebemos a informação e, a partir disso, converso com o Roger e tentamos tirar do jogador as informações complementares. Como jogador não quer ficar fora do treino, ele omite que levou pancadas. Jogador quer treinar sempre.
Eles querem mesmo? Não tem corpo mole?
A cultura dos jogadores mudou muito. Quem está no time, não quer dar brechas. Com a comissão tendo critérios transparentes de escolha, o jogador quer treinar. Às vezes, em treinos físicos, de pré-temporada, pode um que outro tente fazer uma parte. Mas 90% querem treinar, para sempre estar no time.
Como é o controle da condição física dos jogadores?
Temos alguns parâmetros estipulados pelo clube. De 20 em 20 dias, fazemos reavaliação com eles. Gordura e massa muscular. Cada jogador tem seus parâmetros, não é igual para todos. Tem alguns que precisamos dar uma tolerância a mais. Nosso padrão do percentual de gordura é de 11,5%, mas temos um grupo que pode estar com 12%. A gente sabe que, com alguns, temos que dar margem pela constituição muscular e óssea. Hoje, todo o grupo está dentro destes parâmetros. Conseguimos readequá-los. Quem sair, tem a caixinha. Se alguém estiver acima, tem 10 dias para recuperar. Tivemos só um ou dois eventos destes.
Você dá espaço no futebol para as novas tecnologias?
É preciso estar atento a tudo que tem no mercado. Não precisamos ter tudo, mas saber filtrar o que é funcional para a nossa realidade. Temos de melhorar as técnicas, as metodologias de trabalho. O jogador está sedento por isso, quer novos desafios, precisa desses estímulos. O futebol mudou muito. O jogo virou de mais intensidade, dinâmico, de mais força e menos espaço. O jogador tem que vivenciar isso nos treinos.
No Brasil, os jogadores treinam muito?
Acho que já se treinou mais. Há cinco, 10 anos se treinava bem mais. Hoje, já vemos a maioria das comissões técnicas fazendo trabalhos mais curtos e mais intensos. A sequência de jogos é muito pesada. O jogador não suporta treinar altos volumes. Nosso país é tropical, com altas temperaturas. Se treinarmos em alto volume no verão, o jogador não conseguirá recuperar e irá para o próximo jogo sem as melhores condições. Lá fora se treina menos ainda, com trabalhos reduzidos e mais intensos que os nossos.
Mas como se treina menos e vemos jogos com maior intensidade que os nossos na Europa?
Eles se adaptaram a essa forma. Vejo nossa equipe jogando de forma muito semelhante à dos times da Europa. Temos estatísticas internas em que nossas finalizações, movimentações, números de passes, triangulações e roubadas de bola são muito parecidas, e com alguns índices até maiores do que equipes europeias.
É possível contar com um jogador em todos os jogos entre janeiro a dezembro?
Fisiologicamente, é inviável. Ele acaba indo a campo, apesar de todos os cuidados e controles que temos de recuperação, sem estar na melhor condição. Quando o jogo é às 22h, vamos jantar só 1h30min, e o voo acontece às 7h. Já não tem o sono para descansar de forma devida, que é o que mais ajuda a recuperar. A lesão vai aparecer, será obrigatório fazer uma parada. O fator emocional também é muito forte, os jogadores estão sempre sob pressão. É muito desgastante. É inviável fazer o calendário inteiro.
Como se trabalha com um grupo de perfis tão diferentes?
Temos que estar atentos a jogadores de outras culturas, idades diferentes e composições corporais diversas também. Procuramos individualizar o máximo possível. O Luan, por exemplo, trabalha grande parte do tempo no grupo e duas vezes por semana vem para a academia, onde faz trabalhos de prevenção pelas pancadas que ele leva. A ideia é dar condições para que suporte os impactos. O Douglas, no outro extremo, é experiente e sempre faz trabalho de prevenção. Por vezes, optamos que faça parte menor do treino de campo e para realizar trabalhos de potência na academia. É dessa forma, individualizamos. Não adianta tentar tornar um jogador menos rápido em um velocista.
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