Às vésperas do primeiro confronto entre Tiago Nunes e Miguel Ángel Ramírez, parecem claras as formas como Grêmio e Inter devem tentar a vitória nos dois jogos que definirão o campeão gaúcho de 2021. O Tricolor tem hoje como um dos seus pontos fortes os duelos individuais, liderando o campeonato em dribles, enquanto o Colorado é um dos times mais perigosos nas bolas aéreas.
As jogadas pelo alto, inclusive, colocam os dois finalistas do Gauchão como opostos. Se o Inter tem chegado bastante ao gol desta forma, o Grêmio ainda apresenta fragilidades defensivas quando precisa afastar lances que chegam à sua área por cima. Foi em uma cobrança de escanteio, por exemplo, o gol marcado pelo Caxias na primeira partida da semifinal. O próprio Aragua, nas poucas vezes em que ameaçou a equipe gaúcha quando foi goleado por 8 a 0, o fez levantando a bola contra a defesa gremista.
E essa dificuldade tricolor deve ser bastante explorada por Ramírez. Ainda que as jogadas tramadas representem a maior parte dos gols marcados pelo Inter nas goleadas recentes, como mostrou levantamento feito por GZH na última sexta-feira (7), o time do técnico espanhol agride bastante o adversário pelo alto. Já foram oito bolas na rede dessa forma em 13 jogos.
O que não quer dizer necessariamente que os gols tenham surgido de bola parada. Na vitória sobre o Brasil-Pel, ainda em março, Rodinei e Mauricio foram à linha de fundo e encontraram Abel Hernández e Rodrigo Dourado. O próprio gol de bicicleta anotado por Caio Vidal diante do Olimpia saiu em um cruzamento após chegada do time ao ataque. Ainda assim, as faltas e escanteios seguem representando uma fatia maior, com cinco gols originados dessa forma.
Analista tático do UOL, o jornalista Rodrigo Coutinho aponta que o Inter hoje tem uma boa variação de jogadas aéreas. Uma delas é a que resultou nos dois gols marcados por Víctor Cuesta em cobranças de escanteio no ano, com uma linha de jogadores puxando a marcação para o primeira trave e o zagueiro aparecendo livre no segundo poste. Ele acredita que Ramírez possa aparecer com novidades para o clássico.
— Em jogos assim, os treinadores quase sempre tentam criar movimentações novas para surpreender o adversário, porque o nível de estudo e detalhamento (dos defensores) é muito grande. Por isso que é necessário você criar alguma novidade — afirma.
Coutinho destaca a troca recente no comando técnico do Grêmio como um dos motivos para os problemas apresentados recentemente. Com Renato, o time fazia uma marcação individual, enquanto o novo treinador opta por um sistema predominantemente em zona.
— Existe uma mudança de postura de marcação, de posicionamento corporal. Isso demanda um tempo, o treinador vai corrigindo de jogo a jogo, de treino a treino, mas estar vazando desse jeito é normal. Essa mudança recente é bem significativa — observa.
No lado de ataque gremista, os confrontos de mano a mano têm se mostrado uma arma poderosa da equipe. O Grêmio é o time que mais teve dribles certos no Gauchão, com 65 (média de cinco por jogo) — o Inter teve 51 (média de 3.9). Na Sul-Americana, o Tricolor é o segundo no ranking, atrás do Atlético-GO, mas já foram 32 dribles (8.3 por partida). Mesmo eliminado na fase preliminar da Libertadores, também foi o time que mais conseguiu driblar, com 19 jogadas bem-sucedidas (4.8 por jogo).
Líder do Gauchão no quesito, com 21 vitórias pessoais em 11 rodadas, Ferreira é a principal referência gremista no assunto. Na vitória sobre o Lanús, foi um drible dele na linha lateral que deu início ao lance que terminou em gol de Léo Pereira. Contra Aragua e Caxias, ele próprio marcou após livrar-se dos marcadores.
— No Athletico-PR, o Tiago Nunes montou uma equipe que tinha um padrão ofensivo nas proximidades da área mais elaborado, com uma variação de jogadas, coordenação dos movimentos dos jogadores. A gente não sabe se isso vai aparecer no Gre-Nal de uma forma mais ampla, a tendência é que o jogo tenha o caráter do Inter um pouco mais com a posse de bola. Para resolver perto do gol, um Grêmio um pouquinho mais baseado na parte individual — aposta ele.
O analista ainda aponta uma maneira de o Inter tentar parar o ataque gremista na decisão.
— O Inter tem que tentar manter a compactação dentro do próprio setor, e entre os setores também. E agressividade para marcar, não tem outro remédio, você só consegue neutralizar o adversário dessa forma. Se você se posicionar bem, mas não for agressivo na abordagem de marcação, o adversário vai te atropelar.
O tempo de trabalho dos dois treinadores ainda é curto, e o resultado da final ainda não deve servir para conclusões muito definitivas. Mas os dois Gre-Nais que apontarão o campeão estadual devem apresentar um duelo particular entre os dois treinadores.
Gols do Inter pelo alto
- Novo Hamburgo 0x1 Inter (Marcos Guilherme, após falta cobrada por Moisés)
- Brasil-Pel 1x2 Inter (Abel Hernandez e Rodrigo Dourado, após cruzamentos de Rodinei e Mauricio)
- Inter 5x0 Esportivo (Rodrigo Dourado e Zé Gabriel, após faltas cobradas por Rodinei)
- Inter 4x0 Deportivo Táchira (Víctor Cuesta, após escanteio cobrado por Rodinei)
- Inter 6x0 Olimpia (Victor Cuesta, após escanteio cobrado por Rodinei, e Caio Vidal, após rebatida na área)
Ranking dos dribles gremistas
Gauchão (primeiro colocado)
- Grêmio: 65 (5 por jogo)
Fase preliminar da Libertadores (primeiro colocado)
- Grêmio: 19 (4.8 por jogo)
Copa Sul-Americana (segundo colocado)
- Grêmio: 32 (8.3 por jogo)