O calendário estava em 15 de março quando Inter e Grêmio entraram em campo pela última vez. Até que os primeiros casos de coronavírus começaram a ser diagnosticados e as competições foram completamente paralisadas. Mais de quatro meses se passaram, exatos 129 dias, e as equipes voltarão aos gramados novamente nesta quarta-feira (22), pela quarta rodada do segundo turno do Gauchão.
Além disso, a partida que marcará a retomada do futebol gaúcho será justamente um clássico entre os maiores rivais do Estado. Porém, quem já esteve dentro das quatro linhas ressalta que é preciso frear grandes expectativas.
— Não podemos esperar um Gre-Nal competitivo, aguerrido, corrido, de velocidade. Porque o período que eles ficaram parados foi muito grande. Se existe a expectativa de um Gre-Nal bonito, que vai encher os olhos, temos de nos preparar porque a situação vai ser outra. Foram quase quatro meses parados — avalia o ex-zagueiro colorado Pinga.
Outro ponto ressaltado por Pinga diz respeito aos atletas. Apesar de estarem prestes a exercer sua profissão outra vez, os jogadores terão de tomar alguns cuidados com a parte física.
— Tenho quase certeza que vão aparecer lesões musculares, porque quando o jogador fica de férias por 30 dias, ele tem aquele retorno aos poucos. Até pegar ritmo de jogo, técnico e tático, o atleta sofre um pouco. Ainda mais hoje, que o futebol é mais dinâmico, rápido e exige mais força física. O cuidado tem que ser muito grande — pontua.
O ex-zagueiro sabe bem do que está falando. Ainda jovem, em 1987, sofreu uma grave lesão no joelho em um clássico Gre-Nal, voltando a atuar somente dois anos depois.
— Eu sentia muita dor muscular. Dizia até que, para me machucar, levei um segundo, mas minha recuperação foi muito longa e dolorida. Eu tinha um receio muito grande em fazer qualquer gesto e qualquer movimento. As dores eram muito intensas — recorda.
Exemplos de fora
Quem endossa o discurso de Pinga é Adílson Batista. Capitão gremista na conquista da Libertadores de 1995, o agora treinador cita o Campeonato Carioca como exemplo do que poderá ser visto no Gauchão.
— É difícil falar estando de fora. Se eu estivesse no Cruzeiro ainda, podia te dar um depoimento sobre os trabalhos que estavam sendo feitos, o grau de intensidade exigido. Mas o Flamengo que nós vimos agora, por exemplo, já não era o mesmo que a gente viu no ano passado. Evidente, pois ficaram três meses sem jogar. Aí joga sem torcida, que também é duro. Existe uma série de coisas que temos que avaliar — analisa ele.
Adílson ainda concorda quanto ao aumento na frequência de lesões. Segundo ele, a Bundesliga é a prova de que os departamentos médicos e fisiológicos precisarão estar atentos.
— Na nossa época, ficávamos no máximo 30 dias parados. Não é como agora, que ficaram mais de três meses. É muito tempo. A gente viu no campeonato alemão, com oito lesões nas seis primeiras rodadas. É uma coisa que a gente tem que se preocupar — aponta.
Por fim, o técnico, que voltou ao Paraná, cita o cenário vivenciado em sua terra natal como algo que deve ser levado em consideração para tecer comentários acerca das equipes.
— Uma hora vai ter que voltar, mas, às vezes, existem injustiças. Aqui no Campeonato Paranaense, não foi liberado para treinar na Capital. O Coritiba e o Paraná Clube, que têm CT fora da cidade, puderam treinar. O Athletico-PR, não. Isso cria um desequilíbrio. O Flamengo também voltou antes do Fluminense. Levou vantagem — conclui ele.