Embora Gauchão seja quase um sinônimo de rivalidade Gre-Nal — afinal, juntos, somam 82 títulos em 100 anos de campeonato —, Grêmio e Inter decidiram o Estadual apenas cinco vezes neste século. Na quarta-feira, na Arena, a partir das 21h30min, os times de Renato Portaluppi e Odair Hellmann vão pelear pelo sexto caneco envolvendo o clássico nos anos 2000.
Caxias, em 2000, e Novo Hamburgo, em 2017, foram os únicos "intrusos" que levaram o troféu do Gauchão neste período de 20 edições do torneio. Nas outras 18 vezes, as conquistas se revezaram entre Inter e Grêmio. Mas clássico, mesmo, só resultou em taça em 2006 e 2010 para o lado azul, e 2011, 2014 e 2015 para o vermelho.
GaúchaZH relembra os personagens destes Gre-Nais.
2006 - Pedro Júnior faz o gol do título do Grêmio
O empate sem gols no jogo de ida, no Olímpico, deu ao Grêmio o benefício de levar o título em qualquer nova igualdade no placar, desde que com gols — na época, diferente do regulamento atual, valia o gol qualificado — na partida de volta. E foi o que aconteceu: no Beira-Rio, 1 a 1.
Os gremistas tinham, pela frente, um time que seria, meses mais tarde, campeão da Libertadores e do Mundo. O Inter saiu na frente com gol de Fernandão, mas a nuca de Pedro Júnior, conforme destacou a edição de Zero Hora do dia seguinte ao título, que decidiu. O jogador foi chamado aos 17 minutos do segundo tempo por Mano Menezes, que sacou o meia Ramón para a entrada do atacante.
Em reportagem publicada em 2015 por GaúchaZH, o herói da conquista definiu o feito como a vitória "do time de ferro sobre a equipe dos diamantes" — expressão utilizada pelo treinador colorado, Abel Braga, quando se referia ao grupo colorado.
2010 - O dedo de Silas
O Grêmio chegou ao segundo jogo da final do Gauchão de 2010 com a tarefa mais difícil cumprida — do Beira-Rio, levou uma vantagem de 2 a 0 para confirmar o título em frente à sua torcida no Olímpico.
— A semana foi bem agitada, pois o Inter vinha muito bem, com time muito forte. A nossa campanha era muito boa e estávamos com muitos jogadores de qualidade, como o Jonas, o Victor, o William Magrão. As equipes se equiparavam — avalia Silas.
A folga no placar, no entanto, virou apreensão logo cedo. Com 9 minutos de jogo, Giuliano marcou 1 a 0 para o Inter. Mais um gol colorado daria contornos dramáticos à decisão, e o Grêmio não estava bem na partida. No intervalo, porém, entrou em ação o técnico gremista: Silas tirou Leandro de campo e colocou Hugo. Paulo Sant'Ana, o icônico colunista gremista da Zero Hora, destacou que "o dedo de Silas agiu, e o Internacional desapareceu de campo".
— A gente sabia que, mesmo com 1 a 0 para o Inter, seríamos campeões. Talvez eles tenham pensado que administrariam no início do segundo tempo para tentar o tudo ou nada no final. Mas tomamos conta do segundo tempo e tivemos muitas chances de gol — recorda Silas.
O placar terminou 1 a 0 para o Inter, mas a taça acabou no armário do Grêmio. Na época, o treinador gremista foi elogiado por controlar um time que, meses adiante, conquistou o bicampeonato da Libertadores.
2011 - A volta por cima de Renan
O destino parecia insistir em deixar o Inter sem o caneco do Gauchão de 2011: no Beira-Rio, uma vitória por 3 a 2 do Grêmio encaminhou o título para os tricolores, que ainda tinham o segundo jogo no Olímpico para garantir a conquista.
— A atmosfera depois do primeiro jogo era que o Grêmio já era campeão. O Falcão trabalhou isso. A gente tinha que tentar tirar essa diferença. Passamos uma semana de muita pressão — relembra Renan.
No Gre-Nal decisivo, o time de Renato Portaluppi ainda saiu na frente. A missão, que já era difícil, ficou ainda mais complicada para a equipe de Falcão. Aos 30 minutos da partida, porém, Leandro Damião empatou. No finzinho do segundo tempo, Andrezinho virou.
A etapa complementar permaneceu intensa e muito disputada. Com meia hora de jogo, D'Alessandro converteu pênalti e garantiu o placar de que o Inter precisava: 3 a 1. Cinco minutos depois, porém, Borges aproveitou uma falha do goleiro colorado e empurrou para as redes o resultado que levou a decisão para os pênaltis.
— Claro que eu tava consciente que aquele gol poderia nos prejudicar muito. Mas pensei que estava tudo desenhado para definir nos pênaltis. E ali eu poderia me recuperar — afirma o goleiro.
E se recuperou: defendeu três cobranças. Inter campeão no Olímpico.
— Foi a melhor sensação possível. Eu estava desde os nove anos na base do clube. Sabia da importância de vencer o clássico. O pessoal todo passou força pra mim, e eu tinha um histórico bom nos pênaltis. O Falcão me disse que era o meu momento. Ele me motivou dessa maneira. Queria honrar tudo o que meus pais batalharam por mim e estavam lá me abençoando — finaliza.
Renan havia, recentemente, perdido a mãe, Zilá Teresinha de Brito Soares, em um acidente de carro. Seu pai, que se recuperava dos ferimentos da mesma colisão, morreu poucos dias depois do título gaúcho após um mal súbito.
2014 - Goleada do Inter e protagonismo de D'Alessandro
Com o Beira-Rio ainda em fase de testes após as obras de reformulação, o Inter mandou o segundo jogo da decisão do Gauchão em Caxias, no Estádio Centenário. O time de Abel Braga saiu de Porto Alegre com um placar favorável de 2 a 1, construído na Arena.
Na Serra e comandados por D'Alessandro, os colorados aplicaram uma goleada de 4 a 1 na equipe de Enderson Moreira. O gringo ganhou destaque na ZH, pois, na ocasião, marcou seu oitavo gol em sete temporadas de Gre-Nais e emendou uma série de oito clássicos de invencibilidade.
2015 - Aguirre é o primeiro técnico estrangeiro a conquistar o Gauchão desde 1950
Após quatro meses de desconfiança no comando técnico do Inter, Diego Aguirre conduziu o time ao pentacampeonato do Gauchão. Com show de Nilmar e Valdívia, o treinador superou o Grêmio de Felipão por 2 a 1 em um Gre-Nal aberto no Beira-Rio, já que o primeiro clássico terminou empatado em 0 a 0 na Arena.
O uruguaio foi o primeiro técnico estrangeiro a conquistar o Estadual desde 1950 pelo Inter, quando o argentino Alfredo González foi campeão gaúcho. E aquela vitória sobre o Grêmio tinha a cara de Aguirre: logo aos 18 minutos do primeiro tempo, o placar já apontava 2 a 0 para os vermelhos, que tinham como marca a intensidade no início das partidas. Giuliano descontou aos 47 minutos de jogo.