Pensar adiante é um dos segredos do São José, o adversário do Inter neste sábado, na abertura das semifinais do Gauchão. O bom desempenho que empolga a comunidade da zona norte da Capital e encanta os críticos não surpreende quem administra o dia a dia do clube. Reflete um entrosamento que vem desde julho do ano passado, quando teve início a pré-temporada.
Diferentemente da maioria dos outros participantes do campeonato, que deixaram para fazer as últimas contratações às vésperas da estreia, o São José só acrescentou o zagueiro Claudinho, o volante Alberto, o atacante Guilherme e o meia Claiton no período que precedeu o Gauchão.
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Em dezembro de 2013, o clube terceirizou o departamento de futebol com o grupo Aspecir, atuante nos ramos de seguradora, previdência e financeiro. Pelas regras da parceria – que irá se estender até 2018, com possibilidade de renovação por mais 10 anos –, é a empresa quem banca a folha de pagamentos, de R$ 165 mil mensais. São R$ 146 mil para os jogadores e outros R$ 19 mil para a comissão técnica.
Esse valor é gasto entre janeiro e maio, período de realização do Gauchão. Depois, ele sofre uma baixa, com a saída de alguns jogadores, atraídos por ofertas melhores. Um deles saiu em meio ao campeonato: trata-se do meia Claiton, emprestado ao Sport até dezembro, com passe estipulado. Caso aprove no clube pernambucano, irá gerar valores suficientes para bancar boa parte das despesas do próximo ano.
Mais quatro nomes já estão na mira de outros clubes. O zagueiro Wagner e o atacante Jô deverão disputar a Série B. O goleiro Fábio pode parar na Série A. Mas é o centroavante Heliardo, 23 anos, goleador do Gauchão, com oito gols, quem renderá maiores recursos. Conforme o diretor executivo João Carlos Lock, está em estágio avançado a negociação com um clube paulista, que poderá pagar até R$ 2 milhões por 50% dos direitos do jogador.
– É um clube paulista campeão brasileiro – despista Lock, abrindo um leque que poderá incluir Corinthians, São Paulo, Santos ou mesmo Palmeiras.
O custo final da folha do São José, que chega a R$ 205 mil, incluídos os gastos com a categoria de base, é bancado por investidores, que entram com valores mensais, em troca de percentuais sobre os direitos de jogadores vendidos. O goleiro Tiago Volpi, negociado em janeiro de 2015 com o mexicano Querétaro, foi um dos primeiros a gerar dividendos. Mas é um negócio de risco. Se a venda não sair, o investidor não terá seu dinheiro reembolsado.
Além do prestígio que a exitosa campanha no Gauchão representa, o São José tem direito a 5% da negociação dos jogadores. Pode parecer pouco, mas é importante citar as melhorias recebidas pelo Estádio Passo d'Areia. Desde 2013, ele recebeu reformas internas, já foi repintado três vezes, os camarotes ganharam aparelhos de ar condicionado, e os vestiários foram remodelados. Em troca, o grupo Aspecir explora o aluguel das quadras sintéticas, lojas, painéis publicitários internos e externos e aluga o Passo d'Areia para eventos.
– É um bom negócio para os dois lados. O clube não ganhava nada havia 30 anos e agora já conquistou a Super Copa Gaúcha e a Copa Walmir Louruz – destaca Lock.
A comissão técnica rejeita a tese de que o diferencial do time é o gramado sintético, estranhado pelos adversários. Tanto que o técnico China Balbino confia em rendimento ainda melhor no Beira-Rio. Como forma de adaptação, os jogadores treinaram quarta e quinta-feira no CT Luiz Carvalho, do Grêmio.
A conquista da Super Copa Gaúcha garantiu ao São José uma vaga na Série D brasileira, a partir de junho. A campanha no Gauchão deste ano terá como prêmio a entrada na Copa do Brasil em 2017. O sonho secreto é coroar a temporada com o título de campeão gaúcho.