O treinador da seleção brasileira de futsal, Marquinhos Xavier, divulgou a última lista de convocados em 2023. Entre os 15 nomes, somente dois atuam no Brasil. Com exceção de William, goleiro do Joinville, e Lucas Gomes, fixo do Magnus, os demais estão em clubes do velho continente. O comparativo é um exemplo do êxodo de talentos das quadras para a Europa, a exemplo do que ocorre no futebol brasileiro.
Em entrevista à GZH, logo após o título da Copa das Nações, em setembro, Xavier alertou sobre a perda de jogadores brasileiros para outros mercados.
— Antes que alguém diga que isso é uma opção do treinador, eu já me defendo dizendo que não. É uma questão técnica mesmo. Hoje, a gente tem mais de 70% de jogadores na seleção brasileira que são de outros países — analisou o treinador na ocasião.
Vantagens e sacrifícios
A Uruguaianense, time que está na semifinal do Gauchão de Futsal, perdeu sete jogadores para a Europa somente na temporada de 2023. Um deles é o ala Gregory, 29 anos, que se transferiu para o Nyiregyhaza, da Hungria. O jogador afirma que a melhora do nível salarial e a oportunidade de conhecer outro país pesou na decisão de ir embora. Os colegas de clube Jezin, Juninho, Duh Moura, Anderson Cabeça, Guilherme e Evaristo foram para lugares como Itália, Arábia Saudita e Espanha.
— No ano passado, eu já tinha tido uma oportunidade de estar na Arábia Saudita. Foi muito bom para conhecer novas culturas e pessoas. Claro que a parte financeira é a que mais influencia. Tem que abdicar de ficar perto da família, mas é um lugar que eu gostaria muito de voltar. Agora estou na Hungria. É uma oportunidade boa para mim e minha família — explica.
Quem também deixou o Brasil há pouco tempo foi Vinícius Feitoza, que passou pela Assoeva e é sobrinho do experiente ala do time de Venâncio Aires, Valdin. Aos 24 anos, Feitoza saiu do Ceará para a Lituânia, no centro-norte europeu.
Ele estava desempregado quando o empresário apareceu com a proposta de transferência. O treinador do Zalgiris conheceu o ala por vídeos e aprovou a contratação. Feitoza havia acabado de sair de um time de Sorriso, no Mato Grosso.
— O que me motivou foi conhecer outra cultura fora do país, jogar uma Champions League, condições financeiras melhores, estrutura melhor. A gente sabe que vai ficar longe de quem ama, mas temos que abdicar de algumas coisas para conquistar outras lá na frente. Deus colocou esse empresário na minha vida. Está sendo uma experiência maravilhosa — conta o jovem.
Preocupação
O treinador da seleção brasileira sub-20, Vanildo Neto, também já identificou a crescente saída de jovens atletas. Para ele, trabalhar melhor as categorias de base é uma das formas de amenizar o impacto da disparidade econômica e, ao menos, retardar as transferências.
— Cada vez mais os atletas estão indo jogar lá fora por conta do euro e do dólar. Pensar na base é pensar em uma estrutura para que os atletas do clube, formados pelo clube, joguem pelo adulto desse clube e deem frutos para essa equipe. A base é de total relevância para que o futsal adulto mantenha a qualidade — opinou o treinador em entrevista concedida à GZH na semana em que conquistou o título do Sul-Americano Sub-20 com o Brasil.
A gente sabe que vai ficar longe de quem ama, mas temos que abdicar de algumas coisas para conquistar outras lá na frente.
VINICIUS FEITOZA
jogador brasileiro na Lituânia
A mudança precoce traz um outro fenômeno crescente: a naturalização de jogadores brasileiros em outros países. Assim, sementes que poderiam vingar com a amarelinha acabam por defender outras cores.
De acordo com Marquinhos Xavier, o fato do futsal ser um esporte de massa torna a oferta grande para as poucas vagas da seleção brasileira. Com a falta de perspectiva de convocações, jovens optam pela naturalização e pela chance maior de defender outra seleção. A facilidade para processos migratórios, como a obtenção de dupla nacionalidade ou da própria naturalização é um atrativo para quem está em busca de oportunidades.
— Nós tivemos agora, recentemente, um jogo pela classificatória da Europa entre Armênia e Geórgia, onde nós tínhamos ali seis, sete brasileiros naturalizados nos dois países. Então, quer dizer, daqui a pouco nós estamos jogando contra nós mesmos — acrescentou Xavier na conversa com GZH.
Seleção brasileira
Com os selecionados que irão atravessar o Atlântico para jogar em dezembro, o Brasil tem dois amistosos marcados para os dias 16 e 17, contra a Costa Rica, às 19h e ao meio-dia, respectivamente. Os jogos serão realizados no Paraná. A equipe segue em preparação para a Copa do Mundo de Futsal, a ser realizada em 2024, no Uzbequistão.