A trajetória de Ana Karina dos Santos, 26 anos, jogadora do Malgi, de Pelotas, é marcada por recomeços e muita persistência. Ela foi a artilheira da primeira fase do Gauchão de Futsal Feminino 2023, com sete gols — a média é de um por jogo. No entanto, as goleiras adversárias não são, nem de longe, as maiores barreiras vencidas pela pivô do Malgi, de Pelotas, que ficou na segunda colocação da etapa classificatória.
Ana Karina nasceu na comunidade da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro. A carreira no futsal tem origem na paixão por bater bola na rua, ainda na infância. Foi somente por volta dos 13 anos que a então adolescente passou a treinar em um clube, na própria Rocinha.
A primeira experiência em uma equipe profissional veio no Telemaco Borba, do Paraná, em 2014. Entretanto, Ana Karina também soma passagens pelo futebol de campo, em clubes como Vasco, Bangu e Fluminense, mas, segundo a atleta, foi nas quadras que as oportunidades se ampliaram.
— O futsal me abraçou de uma forma que o futebol não me abraçaria. O futsal é onde eu sou feliz — comenta a atleta.
Afastamento das quadras e adaptação ao RS
Depois de atuar pelo Fluminense, no futebol de campo, em 2019, Ana Karina se afastou do esporte para investigar um problema de saúde. Aos 22 anos, ela chegou a passar por um cateterismo.
— Qualquer esforço que eu fazia, sentia muita dor. No fim, os médicos chegaram a conclusão de que os sintomas estavam ligados à ansiedade — conta a pivô, que esteve longe das quadras e dos campos por sete meses.
É a segunda passagem de Ana Karina pelo Malgi. Ela já esteve na equipe em 2018. O contrato atual veio após um convite recebido em 2021. Após a infância em uma comunidade pobre, o problema de saúde e as idas e vindas do futebol, o desafio no Rio Grande do Sul é outro: a adaptação ao clima.
— O frio é sempre uma coisa que os cariocas não gostam. Em 2017, no Paraná, cheguei a pegar um frio surreal também. O frio é demais, mas nada que uma cobertinha ou um jaquetão não resolva — brinca a jogadora.
Ela vê o Gauchão de 2023 como o mais disputado até agora. Entre as adversárias mais fortes, Ana Karina destaca o time Legendárias, de Rio Pardo, o qual o Malgi venceu por 2 a 0 na fase classificatória.
A pivô Ana Karina que, com a bola rolando, também faz a função de fixo quando a equipe defende, deixa um incentivo para quem sonha em viver do esporte. Para ela, as dificuldades são pedras para pavimentar o caminho até o objetivo:
— Acredito que as crianças e jovens que tenham um sonho, independente de qualquer coisa, têm que buscá-lo. Algumas pessoas conseguem viver do esporte, outras não tem a mesma sorte. Mas, se quiser isso mesmo, tem que ralar um pouco até alcançar um salário melhor em um lugar melhor.
O Malgi volta à quadra no dia 16, pelas quartas de final do Gauchão Feminino, fora de casa, contra o A.F.C Casablanca, de Bom Princípio.