As finalistas estiveram aqui. Durante a Copa do Mundo de 2014, Porto Alegre foi palco de cinco partidas — quatro da fase de grupos e uma das oitavas de final. Nove seleções atuaram no Beira-Rio, entre elas Alemanha, Argentina e Holanda — campeã, a vice e a terceira colocada, respectivamente. E assim diversos jogadores de renome pisaram no gramado da casa do Inter. Confira os detalhes das partidas na Capital.
França 3x0 Honduras (15 de junho de 2014)
A Copa começou no Brasil em 12 de junho, porém o pontapé inicial em Porto Alegre foi dado três dias depois. Em um "domingo de futebol", desta vez não era o Inter que pisava no Beira-Rio. Eram as seleções de França e Honduras, que fizeram um jogo aberto, mas com um placar previsível.
O atacante Karim Benzema, duas vezes (quase três), marcou para os franceses. Quase três pois o segundo daquela tarde foi considerado gol contra pelo árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci, e assim o goleiro Valladares levou a marca. Este lance do gol contra, aliás, deixou a dúvida se a bola entrou ou não. O chute de Benzema bateu na trave esquerda, a bola passou sobre a linha, e o goleiro hondurenho se atrapalhou quando tentou pegá-la. A olho nu, ficou a dúvida, mas a tecnologia da linha do gol, estreando em Copas, confirmou que a bola cruzara a linha.
Falando em tecnologia, uma pane técnica impediu execução dos hinos de França e Honduras quando as equipes estavam perfiladas — cena tradicional na Copa do Mundo. A Marseillaise e o hino de Honduras tiveram de ser entoados pelo público arquibancadas. Estas, recheadas de torcedores de todos os cantos do planeta.
Fantasias de galo, chapéus de Napoleão e fantasias de Asterix e de Obelix se destacaram no lado dos franceses. Os hondurenhos, também festivos, chamavam a atenção pelo uso de cartolas na cabeça. Tudo isso no meio de brasileiros com camisas de seus times ou torcedores de outros países sul-americanos que queriam ver a Copa de perto.
— Assistir a um jogo de Copa no estádio é um dos maiores objetivos para todo o apaixonado pelo futebol. Quando o Brasil foi anunciado, não pensei duas vezes em estar lá. E consegui vivenciar todo aquele momento. Caminho do Gol, o ambiente de estádio pré-jogo, interação com as torcidas e toda a estrutura que o Copa oferece foi muito marcante. Ver jogadores que eu só acompanhava pela TV parecia inacreditável. Sempre vou lembrar com muito carinho — relembra Rafael Baneiro, advogado.
Copa do Mundo — 1ª rodada do Grupo E — 14/6/2014
FRANÇA (3)
Lloris; Debuchy, Varane, Sakho e Evra; Cabaye (Mavuba, 19'/2°), Matuidi, Valbuena (Giroud, 32'/2º), Pogba (Sissoko, 11'/2º) e Griezmann; Benzema. Técnico: Didier Deschamps
HONDURAS (0)
Valladares; Beckeles, Bernárdez (Osman Chavez, int.), Figueroa e Izaguirre; Wilson Palacios, Garrido, Najar (Claros, 12'/2º) e Espinoza; Bengtson (Garcia, int.) e Costly. Técnico: Luiz Fernando Suárez
GOLS: Benzema (F), aos 44min do 1° tempo; Valladares (H)(contra), aos 3min e Benzema (F), aos 27min do 2º tempo.
CARTÕES AMARELOS: Evra, Pogba, Cabaye (F); Palacios, Garcia, Garrido (H).
ARBITRAGEM: Sandro Meira Ricci, auxiliado Emerson de Carvalho e Marcelo van Gasse (trio brasileiro).
EXPULSÃO: Palacios (H).
LOCAL: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.
PÚBLICO: 43.012 torcedores.
Austrália 2x3 Holanda (18 de junho de 2014)
O Beira-Rio colorido pelos tons quentes de laranja e azul da Holanda misturados com o verde e amarelo da Austrália viu no confronto da segunda rodada da Copa do Mundo a "partida dos golaços".
Quem imaginava que os holandeses iriam passear viram australianos valentes e competindo o tempo todo. Robben abriu um placar com um golaço, mas os cangurus viraram com um também golaço de Tim Cahill e outro de Jedinak, de pênalti. Com Van Persie e Memphis, a Laranja Mecânica retomou a liderança do placar e venceu por 3 a 2.
Ainda que os 90 minutos tenham sido frenéticos, a euforia de Holanda e Austrália foi muito maior pelas ruas de Porto Alegre. Não houve dúvida, eles foram os mais festivos. Seja na chegada ao aeroporto ou rodoviária, muitos deles já utilizando fantasias típicas, ou na volumosa concentração de torcedores no Caminho do Gol, trajeto entre Centro e Beira-Rio pela Avenida Borges de Medeiros.
— O mais impressionante daquilo tudo não foram os 90 minutos, nem o futebol em si. Aquela partida, pela atmosfera criada em Porto Alegre, que teve encontro de torcedores de todas as partes do mundo, teve um mar laranja no caminho pro estádio e teve, no pós-jogo, no Anfiteatro, uma festa enlouquecida tanto de quem venceu como de quem perdeu o jogo, deu a dimensão do que é uma Copa do Mundo. Ali eu percebi, naquele encontro de povos tão diferentes, que uma Copa não é um torneio de futebol apenas. É muito mais, vai muito além. De todos os jogos, eu acho que aquele mostrou que não é um torneio de futebol, que é uma festa global mesmo — recorda Jonathan Silva, policial penal.
Copa do Mundo — 2ª rodada do Grupo E — 18/6/2014
AUSTRÁLIA (2)
Ryan; McGowan, Wilkinson, Spiranovic e Davidson; Jedinak, McKay e Bresciano (Bozanic); Leckie, Cahill (Halloran) e Oar (Taggart). Técnico: Ange Postecoglou
HOLANDA (3)
Cillessen; Vlaar, De Vrij e Martins Indi (Depay); Janmaat, De Jong, De Guzman (Wijnaldum), Sneijder e Blind; Robben e Van Persie (Lens). Técnico: Louis van Gaal
GOLS: Robben (H), aos 19min e Cahill (A), aos 21 do primeiro tempo; Jedinak (A), aos 9, Van Persie (H), aos 12, e Depay (H), aos 22 minutos do segundo.
ARBITRAGEM: Djamel Haimoudi (Argélia), auxiliado por Redouane Achik (Marrocos) e Abdelhak Etchiali (Argélia)
CARTÕES AMARELOS: Cahill (Austrália); Van Persie (Holanda)
LOCAL: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.
PÚBLICO: 42.877
Coreia do Sul 2x4 Argélia (22 de junho de 2014)
Mesmo sem a grife das demais seleções que pisaram em Porto Alegre, Argélia e Coreia do Sul garantiram a marca de não haver um jogo morno de Copa no Beira-Rio. Os asiáticos esboçaram reação após os africanos abrirem 3 a 0 ainda no primeiro tempo, mas não evitaram a derrota por 4 a 2. Ali os argelinos, comandados por Slimani e Brahimi, chamaram a atenção do planeta e mostraram que poderiam ser melhores do que a Rússia para avançar às oitavas de final em um grupo que também contava com a Bélgica.
Menos concorrido que as demais partidas, Argélia e Coréia do Sul foi a oportunidade de acompanhar um jogo de Copa do Mundo para aqueles torcedores que deixaram para comprar ingressos na última hora. Ou também para quem não estava preocupado com astros em campo, mas sem em ter a experiência de estar presente da atmosfera mundialista.
O jogo também foi especial para o jornalista Bruno Marsilli. Em Pelotas, ele passou noites em claro tentando comprar ingressos para os jogos da Copa em Porto Alegre. O objetivo era estar no Beira-Rio acompanhado da avó, Vany da Conceição, 77 anos, uma de suas grandes incentivadoras na vida esportiva e profissional.
— Eu lembro com muito carinho daquele jogo. Pegamos um ônibus de Pelotas a Porto Alegre e depois um táxi, da rodoviária até um certo ponto da Borges de Medeiros. Ficamos presos no trânsito. Ela já tinha idade e uma certa dificuldade de locomoção, mas precisaríamos fazer grande parte do Caminho do Gol a pé. E foi necessário até apertar um pouco o passo para não perder o horário da partida. No deslocamento, ela eternizou um comentário: "Que caminhada bem boa. Fazia anos que não me mexia tão bem" — recordoa Marsilli.
O jogo de seis gols coroou a tarde de domingo do neto com a avó, emocionante lembrança que jamais será esquecida.
— Pra nossa sorte, seis gols. Vimos tudo de uma posição privilegiada e com coreanos e argelinos nas cadeiras ao lado. Naquela época, minha avó já sofria com os sintomas iniciais do Alzheimer antes mesmo de sabermos. Só que aquela memória foi carregada por ela até os últimos minutos da vida dela, que só vieram depois de colarmos figurinhas do álbum da Copa de 2022 — complementou.
Copa do Mundo — 2ª rodada do Grupo H — 22/6/2014
COREIA DO SUL (2)
Jung Sungryong; Lee Yong, Kim Gwon, Hong Ho e Yun Suk Young; Han Kook Young (Ji Dongwon, 34'/2°), Lee Yong (Lee Keunho, 19'/2º), Ki Sung, Park Chuy (Kim Shinwook, 12'/2º), Koo Jacheol; Son Heungmin. Técnico: Hong Myungbo
ARGÉLIA (4)
MBolhi; Medjani, Bougherra (Belkalem, 43'/2º), Halliche e Mesbah; Mandi, Brahimi (Lacen, 32'/2º), Djabou (Ghilasa, 28'/2º), Bentaleb e Feghouli; Slimani. Técnico: Vahid Halilhodzic
GOLS: Slimani (A), aos 25, Halliche (A), aos 27, e Djabou (A), a 37 minutos do primeiro tempo. No segundo, Son Heungmin (C), a 4 minutos, Brahimi (A), a 16, e Koo Jacheol (C), aos 19.
ARBITRAGEM: Wilmar Roldan (COL), auxiliado por Eduardo Diaz (COL) e Christian Lescano (EQU).
CARTÕES AMARELOS: Lee Yong, Han Kook Young (C), Bougherra (A)
LOCAL: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.
PÚBLICO: 42.732
Nigéria 2x3 Argentina (25 de junho de 2014)
Quem diria que Lionel Messi iria comemorar um aniversário em Porto Alegre? Foi o que ocorreu na inesquecível Copa de 2014. Em 24 de junho, quando o craque completou 27 anos, a seleção argentina já estava na Capital para o confronto com a Nigéria, no dia seguinte. Enquanto seus torcedores compatriotas invadiam a cidade (cerca de 50 mil) e muitos deles festejavam com antecedência pelos bares da Cidade Baixa, Messi assoprou velinhas em uma cerimônia simples no hotel onde a delegação albiceleste estava hospedada, pois ainda havia uma preocupação com sua condição física. Afinal, da partida anterior, contra o Irã, Messi vomitara em campo.
Recuperado, o jogador festejou em campo. No dia 25 de junho, foram dele dois dos gols da Argentina na vitória por 3 a 2 sobre a Nigéria — o primeiro aproveitando um rebote de uma finalização de Di Maria e o segundo em cobrança de falta.
Nas arquibancadas, havia uma mistura de camisetas da seleção e de clubes da argentina com as de Grêmio, Inter e outros times do Estado. Argentinos e brasileiros do Rio Grande do Sul, todos gaúchos na essência, unidos e em êxtase por Messi.
— Eu iria só recepcionar meu irmão que veio para o jogo. Mas não sabia se eu iria. Precisava cuidar do meu bar, que estava recebendo muito movimento. Mas chegando perto da data, com aquela invasão de argentinos, começou a subir a vontade de ir no estádio. De última hora, consegui três ingressos com uma prima da minha esposa, e fui junto com a família toda. O jogo foi inesquecível, dramático. Foi emocionante estar com minha galera vendo o Messi e a seleção — destacou Alfredo Navarro, argentino radicado em Porto Alegre há 25 anos e dono do bar El Farol.
Ainda que os holofotes estivessem nos jogadores argentinos, a passagem da Nigéria por Porto Alegre também foi marcante. Como foi o caso do gestor hospitalar Brenno Victoria, que encontrou Nwankwo Kanu (atacante perigoso, já aposentado) no Beira-Rio.
— Foi uma experiência transcendental. Depois de passar pelo Caminho do Gol, assistir a um grande jogo, na saída ainda pude encontrar na área do estacionamento o craque nigeriano Kanu, que eu lembrava de ver no Arsenal — conta Brenno.
Copa do Mundo — 3ª rodada do Grupo F — 25/6/2014
NIGÉRIA (2)
Enyeama; Ambrose, Yobo, Oshaniwa e Omeruo; Onazi, Obi Mikel, Musa e Babatunde (Ochebo, 20/2º); Odewingie (Nwofor, 34/2º) e Emenike. Técnico: Stephen Keshi
ARGENTINA (3)
Romero; Zabaleta, Fernandez, Garay e Rojo; Gago, Mascherano e Di María; Agüero (Lavezzi, 37/1º), Higuaín (Biglia, 45'/ 2º) e Messi (Alvarez, 17/2º). Técnico: Alejandro Sabella.
GOLS: No primeiro tempo, Messi (A), aos 3 minutos, Musa (N), aos 4 e Messi (A), aos 46. No segundo, Musa (N), aos 2 minutos e Rojo (A), aos 5.
ARBITRAGEM: Nicola Rizzoli, auxiliado por Renato Faverani e Andrea Stefani (trio italiano).
CARTÕES AMARELOS: Omeruo, Oshaniwa (N)
LOCAL: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre
PÚBLICO: 43.285
Alemanha 2x1 Argélia (30 de junho de 2014)
A Alemanha começou e terminou a Copa do Mundo de 2014 de forma avassaladora. Na estreia uma goleada por 4 a 0 sobre Portugal e o desfecho com um 7 a 1 no Brasil e, depois, o título sobre a Argentina, com festa no Maracanã. Só que durante a campanha do tetracampeonato, o alemães também sofreram na primeira fase pra confirmar a classificação num grupo com Gana e Estados Unidos. E depois nas oitavas de final, diante da Argélia.
No Beira-Rio, os africanos fizeram jogo duro e conseguiram segurar o empate até a prorrogação. Depois, Schürrle e Ozil abriram 2 a 0, com os argelinos descontando no último lance. Depois, a campanha do tetra alemão ainda teria uma grande vitória sobre a França.
Ao contrário das demais partidas da Capital, que foram mais cedo, Alemanha e Argélia começou às 17h. Na época, estava em vigor o Ramadã para os muçulmanos. No ritual, o jejum é encerrado no pôr do sol. Mesmo que aquela tenha sido uma segunda-feira chuvosa em Porto Alegre, quando caiu o entardecer no Guaíba, muitos torcedores argelinos identificados com a religião tiraram pães e bolachas da mochila e comeram festejando, como se fosse um gol.
Em campo, outra cena icônica da Copa. Em uma jogada ensaiada bizarra, Müller fingiu um escorregão para tentar enganar a barreira argelina, mas o lance não deu em nada. O destaque maior foi para o goleiro Neuer e suas coberturas aos lançamentos às costas de sua defesa, como um verdadeiro líbero.
— Foi muito marcante a festa de todas as torcidas. Sempre tinha uma troca de pins, de camisetas, com as pessoas muito receptivas — recorda Danielle Frizzo, da equipe de voluntários da Fifa naquela partida.
Copa do Mundo — oitavas de final — 30/6/2014
ALEMANHA (2)
Neuer; Mustafi (Khedira, 24'/2°), Boateng, Mertesacker e Howedes; Lahm, Schweinsteiger (Kramer, 3'/2° da prorrogação) e Kroos; Özil, Götze (Schürrle, int.) e Müller. Técnico: Joachim Löw
ARGÉLIA (1)
M'Bolhi; Mandi, Halliche (Bouguerra, 5'/1° da prorrogação), Mostefa, Belkalem e Ghoulam; Lacen; Taider (Brahimi, 32'/2°), Soudani (Djabou, 9'/1° da prorrogação) e Feghouli; Slimani. Técnico: Vahid Halilhodzic
GOLS: Schürrle (ALE), 1min do primeiro tempo da prorrogação, Özil (ALE), aos 14min do segundo tempo da prorrogação e Djabou (ARG), aos 16min do segundo tempo da prorrogação.
ARBITRAGEM: Sandro Meira Ricci, auxiliado por Emerson de Carvalho e Marcelo Van Gasse (trio brasileiro)
CARTÕES AMARELOS: Lahm (AL) e Halliche (AR)
LOCAL: Beira-Rio (Porto Alegre)
PÚBLICO: 43.063 torcedores