Em um único jogo, Messi pode desbancar duas vezes Lothar Matthäus. Quando começar a correr atrás da bola na final contra a França, no domingo (18), o camisa 10 argentino ultrapassará o alemão como o jogador com mais partidas disputadas em Copas do Mundo. Se conseguir colocar as mãos na taça intocada por mãos portenhas desde 1986, dará ao povo do seu país o maior presente do ano (em décadas, na verdade).
Em um ato de generosidade, em agosto, Matthäus entregou à Federação Argentina (AFA) a camisa utilizada por Maradona na final do Mundial de 1986. Um relíquia avaliada em 5 milhões de dólares. O mimo aplacou um pouco a dor dos argentinos em relação ao manto usado pelo craque argentino na partida contra a Inglaterra naquela edição do Mundial, quando ele marca um gol em que dribla até a Rainha Elizabeth. Em maio, em um leilão, a peça histórica foi arrematada por 7 milhões. O felizardo não teve a identidade revelada, mas é do mundo árabe. A AFA e um grupo de empresários tentaram reverter, sem sucesso, a situação.
Matthäus e Maradona foram tão rivais quanto amigos. O ex-meio-campista alemão teve a incumbência de marcar o argentino em diversos confrontos. Não só entre as duas seleções, mas também pelos seus clubes. No anos 1980, os dois eram as principais estrelas do Campeonato Italiano, uma competição que à época tinha o status que hoje pertence à Premier Legue.
Maradona defendia o Napoli junto com os brasileiros Alemão e Careca. Matthäus liderava uma trinca de alemães ao lado de Andreas Brehme e Jürgen Klinsmann na Inter de Milão.
— Quando penso em Diego, me lembro de uma amizade muito profunda. Nos vimos muitas vezes, e hoje ele não pode estar aqui conosco. Nos entendíamos sem muitas palavras. Às vezes, falávamos de futebol, outras vezes tomávamos uma cerveja – contou no evento em que entregou sua camisa para posse da AFA.
Se Maradona levou a melhor na final de 1986, o alemão saiu vencedor quatro anos depois novamente na decisão. O polêmico pênalti assinalado para o alemães foi cobrado por Brehme, embora Matthäus fosse o batedor oficial. Ele trocou de chuteiras no intervalo do confronto. O novo par não parecia tão moldado ao pé quanto o anterior. Sem confiança, deixou o companheiro desferir o chute decisivo.
— São momentos que sempre terei no coração. Sempre foi um desafio enfrentá-lo. Ele esteve comigo metade da minha vida, foi meu melhor adversário. Morreu cedo demais, aos 60 anos. A notícia me deixou muito triste — comentou quando Maradona morreu em 2020.
Era um período de domínio alemão. O que levou Gary Liniker, atacante da seleção da Inglaterra, cunhar a frase que diz que "o futebol é um jogo simples. 22 jogadores perseguem a bola e no final ganha a Alemanha". Um pouco da onipresença alemã esta vinculada a Matthäus. Durante toda a década de 1980 e até um pouco mais da metade dos anos 1990, eles estavam sempre nas fases finais dos grandes torneios.
O ex-jogador surge na Euro de 1980. Entrou faltando 15 minutos para o fim da partida contra a Holanda. Instantes depois de sua entrada, cometeu um pênalti. Para preservar seu futuro, o técnico Jupp Derwall optou por não utilizá-lo mais no torneio vencido pelos alemães.
Na sequência, tornou-se expoente de uma geração vitoriosa. Disputou todas as Copas entre 1982 e 1998. Chegou às 25 partidas em Copas, superando o seu compatriota Uwe Seeler, que disputou 21 jogos entre 1958 e 1970.
— Ele é o jogador perfeito. Ele tem habilidade, velocidade e entendimento do jogo — comentou Fran Beckenbauer, técnico da Alemanha em 1990, em entrevista concedida ao New York Times em 1994.
Passagem pelo Brasil
Depois de encerrar a carreira, teve uma trajetória pouco lustrosa como técnico. Uma de suas aventuras foi no comando do Athletico-PR, em 2006. Foi uma passagem menor do que a quantidade de partidas que Matthäus disputou em Copas. Seu trabalho terminou após somente oito partidas, com seis vitórias, dois empates e uma polêmica.
— Se eu pudesse mudar alguma decisão na minha vida, seria essa decisão, quando deixei Curitiba após dois meses. Eu tive alguns problemas familiares na Alemanha. Não acho que tenha sido correto da minha parte — comentou em entrevista à ESPN Brasil.
O motivo divulgado na época era de que Marijana, então esposa de Matthäus, pediu que ele voltasse para casa. Ela sentia ciúmes de o marido morar no Brasil. Ele também se envolveu em uma briga com um fotógrafo.
A carreira de técnico desmoronou. O casamento também ruiu. Neste domingo (18), será o seu recorde que cairá.