Não existe indiferença quando se fala de Neymar. Com ele, é 8 ou 80. Amor ou ódio. Fã ou hater. Neylindo ou Neymídia. O camisa 10 da Seleção Brasileira é uma máquina de produzir emoções. Para o bem e para o mal.
Do cabelo aos impostos, das posições políticas aos golaços, dos dribles às quedas, trata-se de uma das mais figuras mais emblemáticas da história do futebol brasileiro. Sim, da história do futebol brasileiro. Não é exagero (o que é estranho, se tratando de um personagem marcado pela hiperexposição).
Foi campeão paulista, da Copa do Brasil, da Libertadores, do Espanholão, do Francesão, da Champions, do Mundial de Clubes, da Copa das Confederações, da Olimpíada. Foram 431 gols no futebol profissional até hoje. Destes, 75 são pela Seleção. Só o Rei Pelé fez mais do que ele — e, naquela contagem chata dos europeus, apenas dois a mais. Finalista da Bola de Ouro, hors concours na Bola de Prata, vencedor do Prêmio Puskas.
É de Neymar a maior verba já recebida por um clube brasileiro em venda de jogador — o Barcelona pagou 88 milhões de euros para tirá-lo do Santos em 2013.
É dele a maior verba já recebida por um clube de qualquer continente em uma venda de jogador — o PSG pagou 222 milhões de euros para tirá-lo do Barcelona em 2017. É, obviamente, o atleta nascido aqui mais bem pago no mundo. A cada dois dias, pinga em sua conta o equivalente a R$ 1 milhão.
Por isso que até quem não o suporta admite: Neymar é um craque. Um desses cometas que passam a cada 20 anos nos céus brasileiros. Daqueles que, por onde passa, faz parecer que o mundo parou para lhe ver.
As arrancadas, se não são a de um bólido como foram as de Ronaldo, são capazes de enfileirar zagueiros que mal percebem a agilidade das pernas. O faro artilheiro é como o de Romário. As cobranças de falta lembram as de Zico. As acrobacias de Garrincha. A leveza de Ronaldinho.
E ele sempre foi assim. Sempre. Neymar é craque desde criança. Com 12 anos foi jogar no Santos. Profissionalmente, com contrato e tudo. Foi Roberto Antonio dos Santos, o Betinho, quem o "inventou". Conhecido descobridor de talentos, o morador da Praia Grande viu aquele menino magricelo agitando as pernas, desmontando guris de sua idade e nem teve dúvidas:
— Ali estava um craque. Uma raridade. Falei para o pessoal do Santos que ali tinha uma joia.
No campo, Neymar tem entregado tudo aquilo que se esperava dele. Teve sua vida praticamente documentada. Estreou ao "grande público" na Copa São Paulo de 2008, quando tinha 15 anos. Era um menino.
Menino. Essa trissílaba infantil, inocente, didática ganha outro significado quando vem ao ao lado de Neymar. Menino Ney. O que deveria ser uma forma de simpatizar transformou-se no pior predicado do camisa 10. E isso até os Neylovers concordam: trata-se de uma mala (com o perdão da expressão das ruas).
A hiperexposição do jogador, — que, é verdade, lhe salvou de uma falsa acusação de assédio em 2019, às vésperas da Copa América —, muitas vezes vinda de si próprio, com vídeos e posts nas redes sociais, prejudica a própria imagem. Aos 30 anos, de fato age infantilmente no Instagram, no Tik-Tok e no Twitter. Entra em polêmicas que não são suas. Ou as cria. Dancinhas, risadinhas, brincadeirinhas bobas.
E problemas grossos. Sempre ao lado de seu pai, viu-se no meio de um processo da Receita Federal brasileira pelo não pagamento de impostos. Algo semelhante já havia ocorrido na Espanha, onde foi absolvido e o processo, extinto.
Aqui, briga na Justiça para ter o mesmo final. Isso foi tema até na eleição. Posicionou-se a favor do candidato Jair Bolsonaro. Caiu em uma fake news. Ficou brabo que Lula declarou que talvez o craque tivesse medo de fossem investigadas suas contas.
Em um país basicamente dividido, é claro que não agradaria a bastante gente este apoio. Pela contagem dos votos, aliás, à maioria dos eleitores. Isso se agrava porque existia um pacto na Seleção de evitar manifestações próximas à Copa. A ordem era direcionar energias ao Catar.
Internamente, não deve ser problema. Por mais que tenha fama de mimado por quem vê de fora, no meio do futebol, é considerado um grande colega. Basta ver o amor que nomes importantes como o argentino Messi e o uruguaio Suárez têm pelo brasileiro.
Para evitar que vire polêmica externa, o ideal é Neymar manter no Mundial o que vem fazendo, em campo, na atual temporada. São 19 jogos pelo PSG, 15 gols e 11 assistências. É o brasileiro que mais fez gol entre os que atuam no continente europeu.
O camisa 10 chega à Copa do Mundo em um de seus melhores momentos. Quase como em 2014, quando era destaque até a entrada do colombiano Zuñiga lhe tirar da semifinal, muito acima do que em 2018, quando ainda não estava recuperado de uma lesão. Ao lado do filho Davi Lucca, que já tem 11 anos, acompanhou a convocação e deu um longo abraço no guri.
— Mais uma! Mais uma! — ele dizia, enquanto segurava o filho.
A terceira Copa de Ney. A busca pelo Hexa. A consagração de um menino que não cresce, para o bem e para o mal.