Após as primeiras análises sobre o sorteio dos grupos da Copa do Mundo, o técnico Tite atendeu GZH com exclusividade, em Doha. O comandante da Seleção Brasileira garantiu que seus critérios para as convocações que restam serão rígidos e frutos de profundo acompanhamento para definir o elenco para o torneio no Catar. Ele não descartou nomes que não figuraram nas últimas listas, como o centroavante Pedro, do Flamengo, e o volante Edenilson, do Inter.
O treinador garante que a missão mais urgente será aprofundar os estudos sobre Sérvia, Suíça e Camarões, adversários na primeira fase do Mundial. A estreia será em 24 de novembro contra os sérvios. Antes disso, porém, prevê um descanso, inclusive com passagem por Caxias do Sul para uma boa caipirinha como aperitivo de um churrasco.
Mesmo assim, ele não desligará da Seleção. É seu jeito de ser. E assim será até o final da Copa, quando vai deixar o cargo por vontade própria, com ou sem o hexa. Confira a entrevista concedia ao repórter José Alberto Andrade, enviado do Grupo RBS para o sorteio dos grupos da Copa do Catar.
O maior desafio é aumentar o nível das avaliações para que ninguém chegue defasado física ou tecnicamente em novembro?
Nós trabalhamos na CBF, de segunda a sexta, das 10h às 19h, acompanhando os jogadores em várias frentes. Estamos sempre vendo os jogos completos em que nossos atletas participam. Afinal, não posso ser comentarista ou convocador apenas pelos melhores momentos. É preciso ser coerente. Também há o controle clínico, físico e fisiológico com conversas constantes com eles e seus clubes. Inclusive com os treinadores, quando estes permitem. Além disso, seguiremos com a presença em treinos e em jogos. Estar in loco é importante, porque nesta hora conta muito o "feeling". Tudo agora será intensificado.
Foi atendido o anseio brasileiro e haverá 26 jogadores inscritos e todos estarão no banco de reservas. Teu maior alívio na hora de convocar com três vagas a mais é porque o ataque te deu excesso de opções?
Absolutamente, sim, bem como o de criatividade ofensiva. Abrir esta margem para a busca de jogadores com características diferentes passa a ser importante, dando versatilidade. Mas o anseio não era nosso, foi quase um consenso que acabou prevalecendo.
Abrir esta margem para a busca de jogadores com características diferentes passa a ser importante, dando versatilidade
TITE
Técnico da Seleção Brasileira
Isto abre a possibilidade de mais dois atacantes entre os três convocados?
Teoricamente, sim. Jogadores de maior poder de criação e ofensivos. Isto, porém, dependerá muito do momento. Vê o Richarlison. Ele voltou nesta convocação e marcou três gols. Ele cheira a gol. Antes, ficou fora de duas por lesão e porque não estava ainda bem física a tecnicamente.
Em seleção se valoriza versatilidade de funções. Com três vagas a mais é possível pensar em jogadores especialistas?
Sim. Um camisa 9, atacante específico da função, sem a necessidade de transição e que não flutue pode ser importante. O Pedro é o exemplo. Homem de área, como foi o Fred no passado ou ainda como atuava o Jardel anteriormente, ou até o Dadá Maravilha. Jogadores com esta característica são especialistas. Entretanto, corre em paralelo dar valor aos atletas versáteis. E aí cito o Edenilson, que para mim é segundo jogador meio-campo. Jogou assim comigo no Corinthians, e desempenha bem na lateral direita, como já havia feito no Caxias, e como foi campeão do Mundo. Por vezes, ele joga de externo no Inter. Por dentro, não é a maneira que mais me agrada. Assim, falei de possibilidades de jogadores específicos e de versáteis.
Dos que ainda não foram chamados, o que acha do Raphael Veiga, do Palmeiras?
Ele entra neste caso do bom momento e de nossa observação constante. Este é o nosso critério, sempre com muita coerência e profundidade na análise. Eu sempre uso a máxima de saber "ver e entender para julgar e orientar". É o meu mantra que uso sempre antes dos jogos. Sempre que convocamos, ou não, sabemos que agradamos alguns e não agradamos outros.
O Edenilson, que para mim é segundo jogador meio-campo, Por vezes, ele joga de externo no Inter. Por dentro, não é a maneira que mais me agrada.
TITE
O Brasil foi amplamente superior aos demais, com resultados e desempenho, nas Eliminatórias. O que aprendeste com a experiência de quatro anos atrás, quando o desempenho da fase de classificação não se repetiu na Copa?
São situações diferentes. Em 2018, não tínhamos margem de erro quando pegamos a equipe nas Eliminatórias. Não houve tempo de experimentar atletas e táticas. Quando a coisa ia acontecer, Dani Alves, Renato Augusto e Neymar se lesionaram. E ainda ficamos com Douglas Costa e Fred sem boas condições já na Rússia. Agora está diferente. O Thiago Silva, por exemplo, vem de uma conquista de Liga dos Campeões e Mundial, o Vini Júnior está muito bem no Real Madrid, o Raphinha é a própria imagem do crescimento, ele que saiu de Porto Alegre, passou pelo Avaí, está arrebentando e vai ser uma das grandes negociações da Europa. Os momentos são outros.
O maior temor é o imponderável até a Copa, como uma lesão?
Sim, bem como o equilíbrio mental.
É hora de saber absorver a crítica para se evoluir como pessoa.
TITE
ao falar sobre Neymar
Neymar é pauta constante. Como está sendo o trabalho com ele sob todos os aspectos?
Temos uma relação do dia-a-dia. Eu cito sempre o Mario Quintana, que dizia que "uma grande caminhada sempre é realizada com o próximo passo". Falei com o Neymar e com o Marquinhos sobre o recente insucesso do PSG. Havia uma expectativa muito grande com eles e que foi frustrada. Falei como Adenor e não como o técnico Tite. Não sou alguém de ficar ao lado só na hora boa, de ficar com o suco da laranja e jogar fora o bagaço. Fiz o que sempre fiz com jogadores que se fragilizam num contexto de cobrança. É hora de saber absorver a crítica para se evoluir como pessoa. Lembrei até de outro livro, o do legado da seleção neozelandesa de rugby, os All Blacks. Lá é colocado que "um melhor ser humano é um melhor All Black". Assim sempre quero que seja na Seleção Brasileira.
Agora um tempo de descanso, um churrasco, bom galeto, uma caipirinha e uma visita a Caravaggio?
Vou me fortalecer, sim, em termos espirituais, buscar me aproximar das
pessoas que eu represento, pois elas me trazem uma energia positiva para que eu possa ser melhor. É hora de saber absorver a crítica para se evoluir como pessoa.