Para o Brasil, as Eliminatórias da Copa do Mundo se transformaram naqueles jogos de videogame em que se tem as manhas para passar de fase. Desde 2016, quando Tite assumiu o time, os sustos para conseguir um lugar no Mundial cessaram. A facilidade para garantir a vaga mostra a solidez do trabalho do treinador, mas a ausência de um grande desafio, exceção feita à Argentina, pode distorcer os parâmetros sobre as reais chances da Seleção Brasileira no Catar em 2022.
Ao automatizar os macetes, o Brasil também passou a apresentar um futebol diferente. Na caminhada para a Copa da Rússia, as atuações eram vistosas. Mas desde a eliminação nas quartas de final para Bélgica o desempenho em campo teve menos brilho. O futebol mais opaco se reflete nos números.
Para ir ao Mundial anterior, a Seleção marcou 41 gols, média de 2,27 a cada 90 minutos, e sofreu 11. Na atual campanha, o ataque foi menos efetivo marcando 27 vezes, pouco mais de 2 gols por jogo em média, e a defesa mais sólida, sendo vazada em quatro oportunidades. Nada que afaste os brasileiros de estar entre os mais credenciados ao título.
— O Brasil está do grupo de favoritos, mas esse grupo ainda é muito grande. Vai ser refinado nos próximos 12 meses. A Alemanha vem subindo de produção e vai chegar forte.No papel, a França é a seleção mais forte — opina Gustavo Hoffman, comentarista dos canais Disney.
A opinião é corroborada por Bruno Formiga, comentarista do TNT Sports.
— O Brasil está na segunda prateleira dos favoritos. Na primeira está somente a França — explica.
Mesmo sem empolgar, o Brasil foi apontado como o principal favorito pelo jornal The Guardian. Na avaliação do periódico, o time de Tite tem grandes jogadores em quase todas as posições. As exceções, segundo a análise, seriam as laterais. França e Alemanha, nesta ordem, completam os três mais cotados a erguerem o troféu no Catar. O top 10 apresenta, na sequência, Inglaterra, Espanha, Argentina, Bélgica, Itália, Dinamarca e Holanda. Em resumo, são brasileiros e argentinos contra as potências europeias, como de costume.
A diferença, desta vez, é que houve pouco intercâmbio entre seleções da América do Sul e da Europa durante este ciclo. São 1090 sem enfrentar uma equipe do Velho Continente. A última vez foi na vitória por 3 a 1 sobre a República Tcheca, em 26 de março de 2019. Em quase seis anos à frente da Seleção, Tite encarou nove partidas contra europeus, com seis vitórias, dois empates e uma derrota.
— É ruim para a gente, mas é ruim para eles também. O (Gareth) Southgate, técnico da Inglaterra, reclamou esses dias que é muito ruim ter essa percepção do nível de enfrentamento entre as seleções — ressalta Formiga.
Pelo calendário da Fifa, entre maio e junho de 2022 há datas para quatro amistosos. O quarteto de jogos para a Seleção deve contemplar adversários da Europa e da África para que Tite possa medir a força de sua equipe contra adversários de diferentes escolas. Até lá restam quatro partidas pelas Eliminatórias onde o Brasil já “zerou” a fase.