"Seus dados são os de uma atleta de 22 ou 25 anos", declarou o médico da Seleção, Nemi Sabeh Junior, sobre Formiga, de 41 anos, um fenômeno da natureza e quebradora de recordes do futebol mundial, que na França disputa sua sétima Copa do Mundo. E como titular.
No domingo (9), após quase uma hora de jogo no estádio dos Alpes, em Grenoble, com 2 a 0 a favor no placar, uma das rápidas atacantes jamaicanas apostou corrida com Formiga e a brasileira foi capaz de afastar o perigo.
A árbitra alemã Riem Hussein, porém, viu falta no lance e Formiga explodiu de raiva. O replay mostrou uma recuperação limpa, um esforço físico e coordenado excepcional para alguém que supera as quatro décadas de idade.
Manter vivo o fogo competitivo é o que permitiu a esta meia colecionar recordes de longevidade no mais alto nível nos últimos 24 anos, desde que estreou na seleção com 17 anos.
— Minha viagem até aqui não foi fácil. Especialmente quando estava começando, com meus irmãos em casa. Eles não queriam que eu jogasse. Ninguém queria ver uma mulher jogando, essa é a verdade — lembra Miraildes Maciel Mota, a Formiga, ao ser questionada sobre a evolução do futebol feminino nas últimas três décadas.
Tirando a primeira, nos Estados Unidos, em 1991, Formiga participou de todas as Copas do Mundo. Na França 2019, joga sua sétima edição, tornando-se a primeira atleta, tanto no feminino como no masculino, a alcançar este número.
Formiga é também a mais velha a disputar a competição, superando a americana Christie Rampone, que disputou a Copa do Mundo do Canadá-2015 aos 40 anos.
A meia brasileira também disputou as seis edições dos Jogos Olímpicos desde que o futebol feminino entrou no programa olímpico em Atlanta-1996. Sua maior conquista: a prata em Atenas-2004.
— É um dos maiores exemplos que temos no mundo, não é deste planeta. Aos 41 anos, ela acaba de renovar com o PSG. É uma grande referência e não poderia ficar de fora de nosso projeto — elogiou o técnico da seleção brasileira, Vadão, ao publicar a lista de convocadas para a Copa.
Vadão já deixou claro que a criação do jogo brasileiro depende de Formiga.
— Ele nos falou de quanto a seleção precisava de nossa experiência dentro e fora de campo — completou a atacante Cristiane, de 34 anos, autora dos três gols da vitória do Brasil na estreia contra a Jamaica, ao comentar a conversa que teve ao lado de Formiga com Vadão antes de voltarem à Seleção.
Ao lado e Marta, seis vezes melhor do mundo, Cristiane e Formiga formam o trio de lendas do futebol feminino brasileiro, grande esperança de uma boa campanha da seleção na Copa do Mundo da França.
Desde 2017, Formiga joga no PSG, com o qual iniciará daqui a alguns meses sua 26ª temporada como profissional. No clube parisiense, ela divide a capitania com a espanhol Irene Paredes.
— Aprendi a ser mulher muito cedo e prevalecer sobre a dor. Isso me ajudou a me levar onde estou agora. Agora eu sou o orgulho da família — completou Formiga, após 187 jogos e 26 gols pelo Brasil.