A Copa do Mundo na Rússia tem exigido o máximo de concentração de Tite. No maior desafio de sua vida, o comandante tem procurado ficar o mais focado possível no trabalho, em postura semelhante à adotada nas vésperas de grandes clássicos no Brasil, como um Corinthians e Palmeiras ou, até mesmo, um Gre-Nal.
Nesses dias, como foi na primeira semana de Rússia, o técnico mergulha em seus pensamentos na busca por alternativas para melhorar o rendimento da Seleção Brasileira. O dia é baseado praticamente em assistir a vídeos, aplicar treinos, discutir aspectos com sua comissão técnica, ver vídeos novamente, decifrar dados do departamento de análise de desempenho e voltar a ver vídeos. Nada de leitura sobre outros assuntos ou qualquer distração.
Nesse período de confinamento mental do treinador, quem o acompanha sabe que não é aconselhável incomodá-lo. Pessoas que o cercam costumam não incomodar, nem levar qualquer assunto que não seja de suma importância. Coisas triviais são tratadas depois, ou se o treinador tomar a iniciativa. Em Sochi, Tite tem um de seus assessores e seu empresário, mas o contato entre eles tem sido pouco. Mesmo com a esposa Rose, que também está hospedada no hotel em que ficam os familiares. Eles já passaram momentos juntos, mas bem menos do que quando o treinador está em desafios mais tranquilos.
Tite estava muito tenso antes da estreia, natural por se tratar do desafio da sua vida. Antes do jogo contra a Suíça, então, em quase nenhum momento saiu dessa rotina rígida. Depois do empate por 1 a 1 em Rostov, porém, conseguiu aliviar a tensão e se permitiu momentos de mais descontração.
Na terça-feira (19), no primeiro treino aberto à imprensa depois da atuação frustrante na estreia, Tite estava brincalhão, sorrindo muito. Participou da roda de bobinhos com os jogadores, a mesma roda em que Neymar saiu sentindo dores no tornozelo direito. Rara interação desse tipo com o elenco, que o aproxima dos atletas.
— Ele sofreu um pouquinho ali, mas a gente combinou que se ele errasse, um de nós que iria para o meio da rodinha. Ele é o chefe, né? — brincou Philippe Coutinho, em entrevista após a atividade.
Na quarta-feira (20), novamente Tite apareceu fazendo atividades com os jogadores, arriscando até chutes. Um momento de mais leveza para quem, aos 57 anos, tem o pesado desafio de conduzir o Brasil ao hexa. Leveza que ele procurou passar para os jogadores.
Mesmo com a atuação ruim, Tite manteve toda a programação prevista antes da partida. Na segunda, os jogadores ganharam folga após o treino e só se reapresentaram ao meio-dia de terça. As visitas dos familiares seguiram como combinado, com filhos dos atletas aos montes em campo, interagindo com os país. O clima foi mais leve na segunda semana de trabalhos na Rússia. Tite espera que essa energia permita ao Brasil bater a Costa Rica na sexta em São Petersburgo e encaminhar classificação para as oitavas de final. Assim, ele ficará muito mais relaxado.