Quando aos 28 minutos do segundo tempo a cabeçada do colombiano Yerry Mina selou o destino do Senegal, tirando a simpática seleção africana da Copa na Rússia, Khalifa Lebe, 31 anos, sentado ao chão do apartamento no centro de Porto Alegre em frente à TV, se desesperou.
— Não podemos perder — gritou em português, para, em seguida voltar a xingar o árbitro em wolof, o principal dialeto do país que contabiliza 17 etnias.
O gol da Colômbia veio enquanto a pizza margherita ainda estava no forno da residência transformada em arquibancada para outros 13 imigrantes senegaleses. Era com ela que eles comemorariam a classificação para as oitavas de final. O empate era suficiente. Desde cedo, a bandeira vermelha, verde e amarela do Senegal decorava a parede do apartamento. Na hora do hino nacional, quem estava no chão se levantou em sinal de respeito. Todos cantaram. Por alguns minutos, Omar Mourid, 27 anos, cinco deles morando em Porto Alegre, lembrou da família que deixou em Kaolack, no interior do país.
— As pessoas no meu país começaram a gostar mais do futebol depois que o Senegal venceu a França, na abertura da Copa em 2002 — explicou.
Os olhos dos senegaleses estavam voltados para Mané, o camisa 10, craque do Liverpool e esperança da seleção. Aos 16 minutos, quando ele caiu na área, os torcedores comemoraram como e fosse gol. Um pênalti àquela altura praticamente encerrava a questão. Com a verificação eletrônica, o juiz cancelou a marcação.
— O árbitro de vídeo está acabando com a graça da Copa — protestou Khalifa, que morou em Caxias do Sul e hoje trabalha como frentista na zona sul de Porto Alegre.
Até o intervalo, os senegaleses estavam confiantes. Mesmo com uma falta a favor perto da área, em uma das boas chances do Senegal, Mor Ndiaye, 32 anos, muçulmano e presidente da Associação dos Senegaleses de Porto Alegre, pegou seu tapete e deixou por alguns instantes o grupo. Rezou voltado para Meca. Eram 12h25min. Poucos minutos depois, veio a cabeçada do colombiano Yerry Mina. Pape Diop, 26 anos, há quatro no Brasil, silenciou. Os últimos minutos foram com as palmas das mãos unidas em frente à boca, como se pedisse aos céus um milagre. Não deu.
Com o fim da partida, Khalifa se recolheu a um quarto e chorou. Depois, pegou sua mochila com o símbolo do Inter e deixou o apartamento sem se despedir. Os demais estavam resignados.
— Futebol é assim — disse Omar, que vestia a camisa 20 de Keito Baldé.
Pape deu voz ao sentimento em comum a partir de agora:
— Nos sentimos brasileiros, escolhemos o Brasil para viver e trabalhar e, agora, vamos torcer pelo Brasil na Copa.