Conhecido por ser um dos maiores pegadores de pênaltis da história das Copas, o ex-goleiro Sergio Goycochea acredita que esta virtude está sendo pouco valorizada nos dias de hoje. Em entrevista realizada na Casa da Conmebol, na região central de Moscou, o argentino analisou a situação da seleção do seu país, relembrou os tempos de Beira-Rio nos anos 1990 e fez elogios ao arqueiro brasileiro Alisson.
— É um grande goleiro. Gosto da sua postura, e do jeito como defende as bolas. Historicamente, até a aparição de Taffarel, sempre se criticou muito os goleiros brasileiros. Me parece que isso não é mais um problema para o Brasil há muito tempo. Agora, se encontrou um grande goleiro, e não se sofre como se sofria muitos anos atrás — disse o ex-jogador, que disputou as Copas de 1990 e 1994 pela Argentina.
Goleiro do Inter entre 1995 e 1996, Goycochea relembrou o ano em que viveu em Porto Alegre. Apesar do mau momento pelo qual passava a equipe colorada, o ex-goleiro guarda boas lembranças da sua vida na Capital
—Tenho as melhores recordações. Foi um grande ano em Porto Alegre. Tive a má sorte de conviver contra um grande time do Grêmio, mas desfrutei muito da cidade. Foi só um ano, mas encontrei uma torcida maravilhosa. Um jogo no Beira-Rio era um acontecimento. Foi legal poder desfrutar dos gaúchos colorados — relembrou.
Goycochea entrou para a história das Copas ao pegar três pênaltis nas decisões contra Iugoslávia e Itália, nas quartas e nas semifinais, respectivamente, do Mundial de 1990, na Itália. O ex-atleta acredita que os goleiros pegadores de pênaltis sofrem de uma espécie de injustiça nos dias de hoje.
— Pegar pênaltis é uma virtude especial que está sendo pouco valorizada. Se diz que é roleta russa ou loteria e eu não concordo. Pesam muitas coisas no momento. Tem que estar com o emocional tranquilo, tem que ter potência nas pernas e tem que saber "ler" o chute. O batedor percorre um caminho de uns 12 segundos. Neste momento passa um filme pela cabeça do goleiro. Neste período, eu analisava um monte de coisas. Nunca "chutei" um canto. Sempre tinha informações (sobre o batedor) — explica.
O momento turbulento da Argentina também foi assunto na entrevista de aproximadamente 50 minutos. Goycochea reconhece que o momento do time de Sampaoli não é bom, mas vê uma exigência demasiada sobre a seleção de seu país.
— Gostaríamos que a seleção argentina jogasse melhor. A Argentina de fato não está no momento que deveria estar, mas às vezes temos que deixar de lado a exigência. Somos muito exigentes. Nós colocamos questões que não tem a ver com a realidade, como slogans de "somos os melhores do mundo". Uma Copa é muito difícil. Um exemplo disso é que o último campeão do mundo (Alemanha) ficou fora da primeira fase — opinou.
No mata-mata, as individualidades acabam fazendo a diferença
GOYCOCHEA
Para Goycochea, a partir das oitavas de final da Copa, começa um novo torneio. Além disso, apesar das zebras que marcaram a primeira fase, ex-goleiro não crê em surpresas daqui para frente.
— Acho que não vamos ter um novo campeão do mundo. Será Brasil, Argentina, Uruguai, França, Inglaterra ou Espanha. Começa agora uma nova competição. Agora, as individualidades têm uma importância maior que em uma competição de longo prazo. No mata-mata, as individualidades acabam fazendo a diferença — finalizou.