– Um monstro! Coutinho é um monstro.
Você nem imagina de quem veio a definição acima. Jamais imaginará. Por que ela veio de ninguém menos do que Lionel Messi. Depois do primeiro treino do carioca de 26 anos no Barcelona, a repórter Cristina Cubero, do diário catalão Mundo Deportivo, repetiu o protocolo de telefonar para o astro argentino em busca do seu parecer sobre um novato. E Messi foi curto como seus dribles e gigante como seu futebol na avaliação do companheiro.
Será desse Coutinho "monstro" que precisaremos nesta sexta-feira (22), na tarde (manhã no Brasil) de vento gelado do Mar Báltico que açoita São Petersburgo. Porque o Brasil e o mundo sabem que Neymar chega para a partida contra a Costa Rica com algumas restrições depois da série de pancadas no tornozelo direito sofridas na estreia. O meia-atacante do PSG treinou e mostrou-se recuperado das dores, conforme as imagens do treino fechado em Sochi, mas está fora de sua plenitude.
Por isso, nunca Philippe Coutinho foi tão importante como agora. O empate na estreia fez da partida em São Petersburgo um jogo de um resultado só. Qualquer outro que não seja a vitória nos empurra para o perigo e o constrangimento de voltar da Rússia mais cedo. A Costa Rica, todos sabemos, virá com linha de cinco na defesa e rezando para o tempo correr mais rápido do que o relógio. Assim, mais do que nunca, Tite precisará de seus craques. Podemos dizer que Coutinho é um deles.
Talvez pelo temperamento ele passe um pouco despercebido, sem receber a dimensão merecida. A Seleção tem ídolos de sobra que reluzem sem fazer força. Vejamos: Neymar é nosso craque, Gabriel Jesus, o goleador carismático, e Marcelo, a sumidade vestida de lateral-esquerdo. E Coutinho? Bom, o guri criado e educado no Vasco, nascido em Rocha, no subúrbio carioca, parece antiaderente a adjetivos. Sorri sem jeito quando os repórteres o elogiam. Um deles perguntou-lhe se grandes atuações na Copa poderiam colocá-lo no vértice do triângulo de melhores do mundo com Messi e Cristiano Ronaldo. O meia ruborizou:
– Sempre disse que não gosto de falar de mim mesmo, não é algo que tenho na cabeça (ser o melhor do mundo). O que tenho na cabeça é sempre me preparar, aprender, evoluir dentro dessa competição. Fazer o melhor para chegar ao objetivo de ser campeão. Sobre ser o melhor do mundo, estar entre esses jogadores, deixo para as pessoas de fora.
Avesso a badalações, o jogador se casou com a primeira namorada
Com essa resposta educada, humilde e sincera, não há como não desejar Philippe Coutinho como genro. Se dentro de campo Messi o define como monstro, fora dele, pelo comportamento, ele seria o cara para casar com sua filha. Essa percepção é ampliada pelo comportamento discreto e a vida regrada. Coutinho é o filho temporão. Quando nasceu, seus irmãos tinham 15 e 19 anos. São eles que o guiam na carreira, dão dicas. O meia casou-se com a primeira namorada. Conheceram-se em em Rocha, aos 14 anos. Com 18, já moravam juntos. Hoje, são pais da pequena Maria, de dois anos.
Mais ou menos nessa época do casamento, Coutinho veio para a Europa, se aventurar na Inter de Milão. Padeceu, jogou pouco e mal. Foi encontrar o lugar ao sol na acolhedora Barcelona, no Espanyol. Dali, saltou para o Liverpool. Foram cinco anos e 41 gols na Premier League. Nenhum outro brasileiro fez tanto. Por isso, ele chegou ao Barcelona com status de estrela, ao custo de R$ 633 milhões e com multa de R$ 1,6 bilhão.
Em Barcelona, o meia ocupou a casa que era de Cèsc Fábregas em Castelldefels, distrito dos astros do clube nas imediações da cidade. É vizinho de Suárez, amigo desde os tempos de Liverpool, e também de Messi. A convivência com os platinos é estreita. É comum vê-lo compartilhando da roda de mate com eles. A amizade com duas das estrelas do grupo, é claro, ajudou a acelerar seu entrosamento ao novo clube.
Nada dessa badalação parece afetar o meia. Trata-se de um sujeito sossegado. Na entrevista coletiva concedida aqui em Sochi, sempre que ficava com dúvida sobre alguma pergunta, recorria ao assessor de imprensa Vinícius Rodrigues. Ouvia-a outra vez e respondia de forma ponderada. E limpa. Um repórter questionou-o sobre a dureza da marcação em Neymar e, diante do risco de o parceiro desde a sub-15 ficar de fora, as pancadas dos costa-riquenhos sobrarem para ele.
– Eles vão bater. Mas estamos falando de Copa do Mundo – desidratou.
Coutinho parece estar pronto para brilhar aqui na Rússia. Sem alarde e de forma discreta, ele começou contra a Suíça a escrever sua Copa com gol e a eleição pela Fifa como melhor em campo. Mas não o elogiem em público. O caçula temporão do arquiteto José Carlos e da dona de casa Diná enrubesce.
– Me sinto muito mais à vontade em campo do que aqui, diante de vocês – resumiu o camisa 11 da Seleção que joga como um típico camisa 10, mas sem fazer barulho.