Estivesse na sua Caxias do Sul, Tite daria um pulo em Nossa Senhora do Caravaggio. Agradeceria pela classificação, é evidente. Mas, podem apostar, pediria forcinha para a santa da qual é devoto. Principalmente, para que protegesse seus laterais. Até porque, hoje, só conta com dois para enfrentar o México. Parece ironia, mas a bruxa resolveu atacar a posição em que o Brasil têm os dois melhores do mundo.
É bem possível que Marcelo enfrente o México na segunda-feira, em Samara. As notícias divulgadas pela CBF são de que a medicação surte efeito e há evolução rápida. Só que perdê-lo aos oito minutos da decisão contra a Sérvia mostrou que a vida anda dando algumas rasteiras em quem joga pelas beiradas do campo na Seleção.
Primeiro, foi Daniel Alves. Lateral-direito da seleção da Fifa na temporada 2016/2017, jogador com o maior número de faixas no peito em todo o planeta e, principalmente, ao menos para Tite, o líder do vestiário da Seleção. Às vésperas da convocação, rompeu ligamento cruzado anterior do joelho direito e só volta a jogar em 2019. A estada de Daniel Alves na Rússia, no entanto, limitou-se a um almoço com os jogadores na quarta-feira e a um lugar nas tribunas de honra do Spartak Stadium contra a Sérvia.
Danilo assumiu o seu lugar. Uma substituição natural e, até certo ponto, tranquilizadora. Afinal, se trata de um lateral-direito de 35 milhões de euros, buscado pelo Manchester City a pedido de Pep Guardiola. Danilo atuou na estreia, contra a Suíça e, no último treino antes da Costa Rica, teve uma lesão muscular no quadril — algo raro até entre jogadores. Neste momento, é paciente da clínica de fisioterapia montada pela CBF no cinco estrelas Suissôtel.
No lugar de Danilo, quem entrou foi Fágner. Sabe que a troca foi até positiva. O lateral do Corinthians assumiu o posto com naturalidade e foi até mais produtivo do que Danilo. Só que ele também vem de lesão muscular. Quando entrou contra a Costa Rica, havia 54 dias que não participava de uma partida. Hoje, como virou o único lateral-direito disponível, é cuidado como um cristal.
Na entrevista coletiva em que concedeu aqui em Sochi, Fágner foi questionado sobre sua condição de titular e o risco de deixar o time em caso de um infortúnio. Sua reação mostra bem a aura sobrenatural que paira sobre a posição.
— Já bati três vezes na madeira aqui. Por que você quer me tirar do time? — indagou, em tom de brincadeira.
Em Moscou, foi a vez de a bruxa atacar o lado esquerdo. Se Daniel Alves era o líder da Seleção, Marcelo integra com Neymar e Coutinho o trio de fora de séries do time. É sempre a possibilidade de uma jogada inesperada ou de um lance imprevisível para quebrar marcações. A contratura na região lombar sofrida contra a Sérvia não é rotineira em jogadores. Ainda mais com oito minutos de jogo.
Coube a Filipe Luis entrar em um jogo quente e tenso. Não era a estreia em Copa do Mundo que esperava. Mas lançou toda a sua experiência para tomar o controle da situação. Não foi fácil, admitiu ao final da partida, na zona mista.
— Estamos preparados, treinando forte desde o início, lá na Granja Comary. Não é fácil suprir a ausência do Marcelo, mas o time não notou a saída dele. Se o Tite precisar ali na frente, sabe que pode contar — avisou.
O jogo no Spartak Stadium, aliás, foi apenas o quinto desde a cirurgia na fíbula, sofrida em março. O que só comprova de que a bruxa resolveu mesmo atacar os laterais da Seleção. E não é de hoje.