De quatro em quatro anos, o mundo respira a Copa do Mundo. São programações especiais, promessas, fantasias e festas que giram em torno da maior competição esportiva do planeta. Incontáveis fãs se reúnem para assistir aos melhores jogadores em campo. Junto disso, o álbum de figurinhas do evento não fica de fora e é atração para torcedores e torcedoras de todas as idades.
Para completar a edição de 2018, que está disponível na versão normal e a de capa dura, são necessárias 682 figurinhas. Há quem já tenha atingido o objetivo, quem busca pela segunda vez, quem está muito próximo e também os que desistiram no meio. Em Porto Alegre, grupos de troca foram criados nas redes sociais para facilitar a prática e bancas de revistas e shoppings viraram pontos de encontro para os fanáticos pelo "esporte".
Desde 2010, uma esquina de Porto Alegre virou ponto de encontro de crianças, adolescentes, adultos e idosos ansiosos para encontrar os cromos que precisam. Nos finais de semana, uma legião de pessoas vai à Rua José de Alencar com Múcio Teixeira, no bairro Menino Deus, para realizar as trocas. O segurança noturno Ricardo Neglia, que está sempre lá, aproveitou o sucesso do local e criou o grupo Confraria das Figurinhas no Facebook e no WhatsApp, para facilitar o encontro dos colecionadores.
— O dono da banca abria os pacotinhos e vendia avulso, aí o pessoal começou a ir todos os sábados. Sempre estou ali aos finais de semana durante todo o ano. Não faço apenas o álbum da Copa, apesar de que ser o que mais faz sucesso. Aproveitamos a tecnologia para criar os grupos, mas é só pra facilitar que o colecionador complete o álbum. Não ganhamos nada com isso - explicou.
Quem aproveitou o sucesso do álbum deste ano foi Antônio Vilela, proprietário da banca de revistas Vilela, na esquina entre as ruas Felipe de Oliveira e a Vicente da Fontoura. Apesar de lembrar que as vendas já estão bastante reduzidas em comparação com o mês passado, garante que nunca havia visto nada parecido. Vivela revelou que, em 2014, não chegou a comercializar nem 10 álbuns de capa dura e nem os 80 mil pacotes de figurinhas que havia previsto, mas que, nesta edição, já foram mais de 400 álbuns e que já ultrapassou a marca dos 150 mil pacotes de figurinhas vendidos.
— Foi realmente muito bom. Ainda vende, mas bem menos. Teve cliente que comprou até a caixa fechada, que custa R$ 2,4 mil (com seis mil figurinhas). Depois, ele me explicou que estava mandando para os netos, que moram na Suíça. Espero que ano que vem tenha Copa de novo - brincou.
O advogado Eduardo Mainardi, de 25 anos, conseguiu a maioria das figurinhas trocando com amigos, mas, no final, esbarrou nas brilhantes. Como algumas pessoas só trocavam as brilhantes por outras brilhantes, foi obrigado a comprar mais pacotes para terminar e, quando conseguiu, acabou com mais de 300 repetidas.
— Não sei descrever direito qual é a sensação de completar. Feliz, mas ao mesmo tempo me dei conta de como é uma coisa inútil. Depois que terminei, coloquei em uma gaveta onde já tenho outros que fiz, principalmente das Copas, que faço desde 1998 e que nunca mais vou mexer. O mais legal é a função de fazer o álbum, trocar figurinhas, interagir com pessoas estranhas de todas as idades. Depois que tu completa, perde a graça — avaliou.
Depois de terminar o álbum de 2014 sozinha, a publicitária Gabrielli Tiburi, de 28 anos, dividiu a missão com seu namorado em 2018. Decidiram que só encomendariam da editora se o álbum ainda estivesse incompleto após o início da competição. Para atingir o objetivo, começaram a frequentar pontos de troca. Tiveram de comprar algumas pelo caminho, mas a última, a Legends do Brasil de 1958, foi trocada.
— O mais difícil é que não foi suficiente trocar só com meus colegas de trabalho. Passamos a ir todos os finais de semana em pontos de troca para conseguir completar. A última figurinha que conseguimos foi trocada, e não comprada, por isso foi muito comemorada - disse.
Ainda estão faltando cerca de 40 figurinhas para o álbum de Júlia Crippa ficar completo. A engenheira de 27 anos diz que já conseguiu as mais importantes, de jogadores como Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, e que, agora, precisa de poucos jogadores e alguns cromos especiais. A estratégia adotada para concluir a missão é sempre levar o bolinho de repetidas no ponto de trocas que fica em frente ao Santander Cultural, no centro de Porto Alegre.
Na mesma situação de Júlia está o estudante Tiago Knijnik Tubiello, de 25 anos. Ele conta que ainda faltam exatamente 40 figurinhas e, para completar, entrou em um grupo no Facebook onde pretende encontrar as que faltam entre os membros.
Outro que está na missão de completar o álbum é Pedro Watenberg, de apenas cinco anos. Só que, na realidade, ele já está no segundo. Karina Trachtemberg, sua mãe, está ajudando o pequeno pela segunda vez. Agora, o álbum é para seu irmão, Antônio, de apenas cinco meses.
— Ele completou o primeiro de várias formas. O pai ajudou, trazia os amigos e ele trocava com os tios. Fora isso, criamos um grupo no WhatsApp com as das mães do colégio, que se ajudavam. Depois da aula, ele trocava com os amigos. Na reta final, os avós dele que moram no Uruguai, mandaram a última, que era a 00, de ônibus. Lá o álbum é igual, só muda a numeração. Tive que ir até a rodoviária buscar — divertiu-se Karina.
Além de ser legal, colecionar o álbum está rendendo outras coisas para Pepê. A atividade está ajudando na missão de aprender os números, e ele se conformou em tomar a vacina da gripe em troca de 10 pacotes de figurinhas.
Há também quem preferiu não entrar na brincadeira. Isadora Soibelman, de 25 anos, pensou em fazer o álbum logo que ele foi lançado, já que muitas pessoas na agência onde trabalha começaram a colecionar, mas o projeto ficou pelo caminho. A publicitária garante que não se arrependeu da decisão, apesar de ter acompanhado de perto a diversão dos colegas.
— Eu vi a pilha da galera e pensei em fazer também, mas aí comecei a ver o preço e li algumas reportagens que diziam que o valor mínimo que eu teria de gastar pra completar o álbum e pensei que não valia a pena gastar esse dinheiro todo pra uma coisa que eu não iria nem guardar como recordação. Desisti porque era muito dinheiro para uma coisa que iria me dar um pouco de diversão no momento, mas que depois não seria importante — concluiu.