Os sérvios são grandes, mas não são dois. Por isso, vão voltar para a Sérvia enquanto o Brasil está nas oitavas de final da Copa da Rússia. Nesta quarta-feira (27), noite em Moscou, sessão da tarde por aí, a Seleção venceu por 2 a 0 e avançou. Agora, é o México, segunda-feira, em Samara.
A eliminação da Alemanha criou uma excitação ainda maior na torcida brasileira. Parecia que o fardo carregado desde 2014 havia sido tirado das costas de todos. Incluindo o time. A Seleção entrou em campo leve, sem apressar o jogo e agindo com uma naturalidade que parecia a dos trabalhos recreativos sob o sol de Sochi.
Isso que os sérvios tinham tamanho assustador. A Fifa, no Estádio Spartak, colocou as tribunas de imprensa a menos de cinco metros do gramado. Quando os sérvios entraram em campo, rapaz, parecia um time de basquete calçando chuteiras.
O técnico Mladen Krstajic mudou o time e trocou três jogadores em relação à derrota para a Suíça. Nessas mexidas, ele recuou o craque da equipe, Milinkovic-Savic, e posicionou-o ao lado de Matic. A ideia era dar estatura à frente da área (Milinkovic tem 1m92cm, e Matic, 1m94cm) e encorpar ainda mais o meio-campo. Assim, quando o Brasil tinha a bola, um fileira de cinco armários de vermelho congestionava o meio-campo. Atrás, outra linha de quatro.
Parecia que não haveria espaço para transitar. Só parecia. A ideia de Tite foi liberar geral o drible. Pediu que aflorasse o DNA brasileiro diante de um time alto, mas de cintura dura e, por consequência, lento na recuperação. Neymar entendeu o recado e começou cedo. Com um minuto, deu caneta em Tadic e, 47 segundos depois, acionou Coutinho. O chute bateu em Jesus na área. Aos três, Jesus perdeu livre diante do goleiro.
A Seleção, enfim, estava confiante. Tinha naturalizado a Copa. Nem mesmo a lesão nas costas de Marcelo e sua saída (quem sabe até da Copa) abalou. Filipe entrou comedido, um tanto nervoso, mas o Brasil seguiu ativo. A torcida veio junto. Se entusiasmou e soltou o “ôôô, o campeão voltou”.
A Sérvia se encolhia e saía com um pelotão ao encontro do centroavante Mitrovic, que batia sozinho de frente com Thiago e Miranda. Levou perigo em dois lances, todos bloqueados pela defesa.
Aos 17, o Brasil mostrou a fórmula para se infiltrar na marcação sérvia. Miranda tocou para Jesus, que de primeira acionou Neymar. O lançamento buscou Paulinho, que entrava a jato no meio da defesa. Só que saiu forte demais.
Aos 19, Neymar lançou Jesus na área. Ele se enroscou com o zagueiro, e a bola sobrou limpa para Neymar. Só que o chute parou em Stojkovic.
Os sérvios saíam de trás sem muita objetividade. Mas rondavam a área brasileira, sempre a partir de Tadic, da direita para a esquerda. Aos 33, ele cruzou e Mitrovic deu de puxeta, por cima. A torcida vermelha se empolgou e, em um grito uníssono, rugiu:
— Srbiá! Srbiá! Srbiá!
Durou dois minutos. Coutinho, como um clássico camisa 10, recebeu a bola na linha do meio-campo, pela esquerda. Parou o pé em cima dela, respirou e esperou o momento exato para lançar Paulinho. Outra vez, ele entrava como um jato entre os zagueiros. Kostic saiu atrasado na perseguição e só viu o brasileiro, com a ponta da chuteira branca direita, encobrir Stojkovic . Um golaço. E histórico. Foi o seu 13º, o que faz dele o volante com mais gols na história da Seleção. E olha que ali jogavam fenômenos como Falcão, Gérson e Zito, só para citar três.
O primeiro tempo ainda teve, no final, um chute de Neymar bem diante da tribuna de imprensa, da quina da área. A bola fez uma curva e passou a centímetros da forquilha, como diriam os mais velhos.
A Sérvia, é claro, veio para o segundo tempo mais ousadinha. Saiu atrás do empate e deixou espaço. Aos 11, Coutinho arrancou em contra-ataque da defesa e acionou Neymar livre. O chute saiu em cima de Stojkovic.
O jogo ficou quente. Aos 15, Tadic cruzou, Alisson tirou mal, mas a sorte o bafejou. A bola bateu em Fagner e voltou em duas mãos. A partir daí, foram dois minutos de pânico. Mitrovic perdeu dentro da grande área. Em seguida, Tadic fez duas jogadas de perigo dentro da área, pela esquerda.
A torcida sérvia sentiu o momento e urrou outra vez, em uníssino. O time ganhou confiança. O Brasil, que estava tão bem, deu sinais daquele time inconfiável da estreia e do primeiro tempo contra a Costa Rica. Aos 19, Mitrovic cabeceou, e Alisson defendeu. Tite mudou o time. Tirou Paulinho e colocou Fernandinho.
O jogo começava a encrespar. O Brasil saiu duas vezes com Neymar e ganhou dois escanteios. No segundo, aos 19, ele colocou na cabeça de Thiago Silva. Era o 2 a 0, na bola alta, na arma dos sérvios. Se gol tem hora certa, esse foi de precisão germânica. Se bem que hoje não é o melhor dia para esse adjetivo.
A partir do gol, a Seleção voltou a jogar com confiança. Neymar passou com lençol sobre Milinkovic, o jogador por quem o Manchester United quer pagar quase R$ 466 milhões. No lance seguinte, Filipe Luís chutou de longe, e Stojkovic quase aceitou. A torcida brasileira veio abaixo: "Sai do chão, sai do chão, quem é pentacampeão".
Com a bola no pé, a Seleção passou a controlar o jogo e a criar. Neymar teve duas boas chances de marcar. Uma, numa chicoteada na bola, mandou por cima. Na outra, apanhou a bola na área, livre, e tentou encobrir Stojkovic .
A esta altura, já se ouviam batucadas de um samba sem muito compasso na noite de Moscou. Mas estava valendo. Afinal, a Seleção mostrou, enfim, um futebol que nos convenceu. Como cantou a torcida, o "campeão voltou".
A análise dos colunistas:
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COPA DO MUNDO — GRUPO E — 3ª RODADA - 27/6/2018
SÉRVIA
Stojkovic ; Rukavina, Milenkovic, Veljkovic e Kolarov; Matic, Sergej, Tadic, Ljajic (Zivkovic, 29'/2°) e Kostic (Radonjic, 36'/2°); Mitrovic (Jovic, 43'/2°).
Técnico: Krstajic Mladen
BRASIL
Alisson; Fagner, Thiago Silva, Miranda e Marcelo (Filipe Luís, 9'/1°); Casemiro; Willian, Paulinho (Fernandinho, 20'/2°), Philippe Coutinho (Renato Augusto, 34'/2°) e Neymar; Gabriel Jesus
Técnico: Tite
Gols: Paulinho (B), aos 35 minutos do primeiro tempo, Thiago Silva (B), aos 22 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Ljajic, Matic, Mitrovic (S)
Arbitragem: Alireza Faghani, auxiliado por Reza Sokhandan e Mohammadreza Mansouri (trio iraniano)
Público: 44.190
Local: Estádio Spartak, em Moscou, Rússia
PRÓXIMO JOGO — OITAVAS DE FINAL
BRASIL x MÉXICO
SEGUNDA-FEIRA — 2/7 — 11H
Ouça os gols da partida:
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