Serão 11. Mais a Dona Vera, a mãe coruja do Gabriel Jesus, a Dona Vavá, a mãe guerreira e inspiradora do Taison, a Dona Marlene e o Seu Antônio, os pais do Douglas Costa, a Roseli, a mineira de sorriso fácil e mãe do Fred. Entrarão em campo também contra a Costa Rica na hora do seu café da manhã a Gláucia, a mulher que dá suporte ao Fernandinho, a Laís, mulher do Ederson e mãe da Yasmin e de mais uma menina que chegará semanas depois da Copa. E ainda a Larissa, a Bella e a Valentina, as mulheres da vida de Roberto Firmino.
Por isso, Zero Hora foi ao hotel dos familiares dos jogadores da Seleção, um cinco estrelas com praia privada em Sochi, pedir que enviassem aos jogadores uma palavra de apoio, uma mensagem escrita mais pelo coração do que pela mão. São as cartas da Rússia. Nada mais justo abrir esse espaço. São esses e também os outros familiares dos demais jogadores aqui no país da Copa que dividem com eles momentos de alegria e angústias. E, vou te contar, neste momento são mais angústias do que alegrias depois do empate insosso contra a insossa Suíça.
Tite abriu as portas de Sochi e da Seleção para os parentes. Imaginou que o ambiente familiar amenizaria a pressão que recai sobre os ombros dos jogadores no Mundial. Mas desconfio também que sua decisão fosse uma carta na manga para o caso de a confiança do time, tão elevada até desembarcar na Rússia, sofresse algum abalo. E ela sofreu.
Todos nós sabemos que é justamente nas horas de aperto que a família da gente entra em campo. A Seleção está nesta situação. Nestes três dias sob o sol que lembra o dos trópicos em Sochi, só amenizado pelo vento do Mar Negro, percebeu-se cenhos franzidos e sorrisos mais escassos. Havia, sim, uma preocupação no ar depois do 1 a 1. Principalmente, pela dimensão tomada pela partida contra a Costa Rica. Pode-se dizer que o Brasil vai encarar um inesperado desafio na fase de grupos. É contra a Costa Rica, é verdade, mas o jogo virou uma encruzilhada. Um empate não elimina, mas deixa a Seleção muito a perigo. Derrota… Bom, deixa pra lá, nem quero pensar de tão desastroso que seria.
Tite sabe a exata noção do tamanho que esta partida ganhou. Por isso, evitou provocar mais tensão nos jogadores. Nada de reuniões, conversas particulares ou cobranças. A rotina seguiu a mesma traçada lá atrás, quando a Seleção iniciou a preparação na Granja Comary. Depois do treino de segunda-feira, todos foram liberados para passar a noite com os familiares. A única exigência era se apresentar até as 11h na terça-feira. Assim, foi possível cruzar com Fred e a dona Roseli caminhando pelas ruas arborizadas de Sochi. No hotel da Seleção, Marcelo e Casemiro foram vistos tomando café da manhã como hóspedes quaisquer. Marquinhos foi encontrar o pai, o irmão e alguns amigos que vieram de São Paulo.
Nos treinos, seguiu-se o ambiente familiar. Danilo bateu bola com o pequeno Miguel, que fez até um amigo novo, o Liam, filho do Marcelo. Ao lado deles, a Sara se divertia e fazia o pai e volantão Casemiro se derreter com tanta doçura. No dia seguinte, quando expirou a janela de 20 minutos da imprensa, um batalhão de familiares foi ocupar o espaço destinado para elas no campo anexo ao Swissôtel Resort — metade do alambrado tem até capas de cor diferente para demarcar o espaço delas. Ao final, Alisson postou em seu Instagram sua foto sorridente com a filha, Helena, com a hashtag #maioramordomundo.
Assim, com filhos, pais e mulheres, os jogadores da Seleção se prepararam para jogo decisivo das 9h desta sexta-feira, em São Petersburgo. Na cidade construída para ser sua por Pedro, o Grande, o Brasil encontra antes do previsto a sua encruzilhada nesta Copa do Mundo. Precisa vencer a Costa Rica para abrir os caminhos às oitavas de final e aliviar as angústias criadas pelo empate na estreia.
E, quando a gente está angustiado, nada melhor do que receber o carinho da família. Ou as cartas da Rússia.