GaúchaZH relembra, em quatro etapas, a carreira de Tite como jogador, do início na Serra ao calvário das lesões no Guarani. Abaixo, a quarta fase da trajetória, em que retorna ao Esportivo. Depois, transfere-se ao Guarany de Garibaldi, onde começa a vida de treinador.
Quando voltou ao Esportivo, em 1989, Tite sabia que a sequência de lesões nos joelhos limitava seus movimentos. O irmão Miro conta que, para ter mais segurança, Tite só jogava com joelheira, que era pintada com tinta da cor da pele para não chamar atenção. Mesmo com dores lancinantes, fez bons jogos no Campeonato Gaúcho. No time, teve a companhia de um meio-campista de cabelos encaracolados e perna direita habilidosa: Toninho Ferreto. Hoje, aos 53 anos, Toninho não precisa pensar muito para enumerar elogios ao ex-colega de time. Fala sobre o foco que não desviava por um minuto, da liderança que cativava os colegas e do olhar compenetrado.
– Quando ele ia bem, todos iam bem – compara Toninho, hoje empresário em Bento.
Ainda em 1989, Tite foi seduzido pelo então técnico do Guarany de Garibaldi, Celso Freitas, para acumular as funções de atleta e preparador físico. Topou. Mas atuou em poucas partidas. Aos 28 anos, pensou seriamente em dar novo rumo à vida. Quem sabe fora do futebol? Não precisou. Foi convidado para assumir como treinador da equipe. Topou outra vez.
No Guarany, Tite cativa seus primeiros comandados
Em Garibaldi, reencontrou um amigo dos tempos de Caxias. Giba, o lateral-esquerdo, viu de cara que Tite tinha tudo para ser um técnico de sucesso:
– Ainda me arrepio só de lembrar das palestras. Ele pegava forte no braço. Os dedos dele ficavam marcados na gente. O homem nasceu para isso.
O jeito agregador, firme e ousado logo tomou conta do vestiário do Guarany. Kid, ex-zagueiro do clube, estilo guarda-roupa, cita o poder de "hipnotizar os jogadores" nas palestras. Ele diverte-se ao puxar do fundo do baú uma história que jamais esquecerá. Era um confronto entre Guarany e Brasil de Farroupilha, em 1990. Fumaceira grande. Vitória do time de Garibaldi por 1 a 0, com direito a troca de socos ao final. Ainda no vestiário, jogadores esfarrapados, adrenalina a mil, o técnico convocou todos a ir ao Santuário de Caravaggio para agradecer:
– Caminhamos quatro quilômetros ainda vestidos com o uniforme, uns com sangue no rosto. Mas cada passo valeu a pena.
A caminhada até Caravaggio para agradecer
Vinte e cinco anos depois, no fim de 2015, as câmeras de TV apontaram para Tite enquanto ele percorria um caminho bem mais curto, ao entrar no gramado de São Januário para comandar o Corinthians. Naquele jogo, poderia conquistar o título brasileiro. Antes da partida, o técnico parou com o olhar perdido, mirando o horizonte. Fazia alguma reflexão sobre a campanha corintiana naquela temporada, ou procurava absorver a grandeza do momento de mais uma taça que se aproximava? Nada disso.
Depois do jogo, o título garantido, revelou que havia aproveitado a coincidência de estar no mesmo estádio para voltar no tempo e "reviver" o gol pelo Guarani em 1986.
– Com as lesões, não imaginava que pudesse voltar a jogar futebol. Quando cheguei ao estádio, fiquei olhando para o local onde a bola tinha entrado. Onde eu tinha saltado para o cabeceio, onde eu corri para comemorar – confessou, à época, ao programa Os Donos da Bola, da TV Bandeirantes.
Não importa o quão difícil seja a missão. Pode ser a escolha de apenas 23 jogadores, a ser revelada nesta segunda, entre uma pilha de talentos, ou a conquista da Copa do Mundo com o Brasil depois de 16 anos. Tite acredita que pode.