O maior trauma da história da Seleção Brasileira é um assunto praticamente ignorado na Alemanha. O fatídico 7 a 1 da Copa de 2014 é pouco (ou nada) comentado pela imprensa local ou até mesmo por jogadores e torcedores alemães, apesar de ser um tema exaustivamente relembrado pelos brasileiros, às vésperas do reencontro entre as duas seleções, no amistoso desta terça, no Estádio Olímpico de Berlim.
— Acredito que o 7 a 1 é algo muito mais importante para os brasileiros do que para os alemães. Aquele jogo não tem essa importância toda para nós. Foi algo especial, mas para nós a final contra a Argentina (vencida pela Alemanha por 1 a 0) foi muito mais — explica a jornalista Kerstin Von Kalcreuth, da rádio nacional alemã ARD.
— Para vocês, brasileiros, esse 7 a 1 ainda é uma coisa muito grande. Mas faz quatro anos. Claro que foi um grande jogo, mas hoje em dia isso não é um assunto muito falado aqui. É passado — completa o repórter Kal Schiller, do jornal Hamburguer Abbendblatt.
No vestiário da seleção alemã, o 7 a 1 também é um tema pouco comentado, dias antes do amistoso.
— Para a gente, isso daí (7 a 1) já passou. Dá para entender que os brasileiros ficaram tristes, mas eles se desenvolveram muito nos últimos anos. Dá para ver hoje um nível bom no Brasil, não dá para comparar com o time daquele tempo (2014) — elogia o meia alemão Ilkay Gundogan.
Nas entrevistas, tanto da Alemanha como do Brasil, quando o assunto 7 a 1 surge, isso ocorre quase sempre por parte da imprensa brasileira, como conta a intérprete brasileira Raquel Rosa, 31 anos, que mora há 20 anos no país e é responsável pela tradução das coletivas das duas equipes nesta semana que antecede o amistoso.
— As perguntas (sobre 7 a 1) vêm mais da parte brasileira. Dos alemães, vêm mais perguntas táticas, sobre quem vai jogar, ou quem vai para a Copa. As questões deles não são focadas nisso. Eles não tem a noção do nosso trauma — revela Raquel.
Nas ruas, os torcedores alemães também aparentam ter "esquecido" o 7 a 1, pouco comentam o tema e sequer fazem chacota quando encontram brasileiros.
— Nunca conheci um alemão que tenha tocado nesse assunto antes do que eu. Sempre que falei sobre isso com os alemães, fui eu quem puxei o tema. Não vejo os alemães dando uma importância para isso ou fazendo piada. É muito claro que o 7 a 1 foi muito mais trágico para nós do que motivo de orgulho para eles, pois eles respeitam muito o futebol brasileiro. Os alemães ficaram felizes foi de ganhar a Copa do Mundo — constata o advogado João Felipe Kayser, 28 anos, que mora há um ano e meio em Berlim.
Se o assunto 7 a 1 é muito mais recorrente no lado brasileiro, chegou a hora então de exorcizar o fantasma e virar a página, como espera o zagueiro brasileiro Miranda.
— Aquilo lá (7 a 1) ficou para a história, mas hoje a Seleção está muito melhor preparada. A gente martela muito sobre esse 7 a 1 porque não é normal aquilo ocorrer em uma seleção como a brasileira. Mas todo europeu respeita o Brasil. Eles sabem que aquele jogo é passado — destaca Miranda, que atua na Internazionale.
— Nós jogadores queremos escrever uma nova história — finaliza o defensor.