Foi de encher os olhos de holandeses, australianos e brasileiros. Iluminado por um raro sol nestes dias úmidos e cinzentos de inverno, o Beira-Rio viu a Holanda conquistar sua segunda vitória na Copa do Mundo e garantir-se nas oitavas de final com uma rodada de antecedência. Batida por 3 a 2, a Austrália foi brava, esteve na frente no placar e valorizou o resultado. Como os números são implacáveis, está eliminada.
Ciente de sua inferioridade técnica, a Austrália teve a humildade de marcar com uma aplicação comovente. As tarefas mais pesadas couberam a Spiranovic, que colou no grandalhão Van Persie, a Wilkinson, que perseguiu Robben em cada espaço do gramado e ao volante Jedinak, incansável na missão de evitar que a bola chegasse a Sneijder, o centro criador da Holanda.
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Com essa estratégia, aliada a um trabalho coletivo dos atacantes, que impediram os avanços dos alas e volantes, a Austrália bloqueou a Holanda e se impôs de forma inesperada na partida. A poderosa equipe que havia massacrado a Espanha por 5 a 1 na estreia viu-se acuada, submetida, muitas vezes, ao constrangimento de apelar para os balões. O estádio, que começou favorável aos holandeses, aos poucos trocou de lado, percebendo que a Austrália era quem dava espetáculo.
A 19 minutos, em seu único descuido, Wilkinson tomou drible de corpo de Robben, que partiu do meio-campo com a bola colada ao seu pé esquerdo, aproximou-se da área e bateu cruzado, vencendo o goleiro Ryan. Ao fazer 1 a 0, a Holanda passava a impressão de uma nova vitória fácil.
Bastou somente um minuto para que ela fosse surpreendida. Mc Gowan ergueu a bola do lado direito na direção da área, De Vrij foi encoberto e Cahill, com um chute perfeito, de pé esquerdo, empatou. O Beira-Rio incendiou, emocionado pela qualidade do espetáculo.
A Holanda escapou da virada aos 30, em chute perigoso de Bresciano, após cruzamento de Leckie, um dos destaques da partida.
Cobrados no intervalo, os holandeses, já sem o esquema com três zagueiros, partiram para a reação na afase final. Sneijder quase marcou aos cinco minutos, em chute defendido por Ryan. Mas a tarde ainda reservava surpresas. Aos 8 minutos, Bozanic, que recém entrada, cavou pênalti ao chutar sobre o braço de Janmaat. Na cobrança, Jedinak acertou o canto direito de Cillessen e fez 2 a 1 para a Austrália.
Depay, que havia substituído o lesionado Martins Indi, criou, aos 12 minutos, o lance que resultou no chute de forte, de canhota, de Van Persie, fazendo 2 a 2. Não havia como desviar os olhos do campo.
A Austrália pode ter sido traída pela inexperiência. Em seu melhor momento, deixou de matar o jogo no cabeceio de Leckie, nas mãos de Cillessen. O castigo veio na sequência. E foi duro. Depay investiu com liberdade e chutou de longe, vencendo Ryan, que falhou. O 3 a 2, a esta altura, já era merecido.
O quarto quase saiu aos 28, em chute de De Jong, defendido por Ryan. Nesta parte do jogo, começava, finalmente, a sobressair a qualidade de Robben e Van Persie. Pela primeira vez na partida, tudo estava em seu devido lugar. De novo, a Holanda candidata-se a chegar longe em uma Copa.
HOLANDA: Cillessen; Vlaar, De Vrij e Martins Indi (Depay, 47'/1º); Janmaat, De Guzman (Wijnaldum 32'/2º), De Jong, Sneijder e Blind; Van Persie (Lens, 42'/2º) e Robben. Técnico: Louis Van Gaal.
AUSTRÁLIA: Ryan; Wilkinson, Spiranovic e Davidson; McGowan, Jedinak, McKay, Bresciano (Bozanic, 6'/2º) e Oar (Taggart, 31'/2º); Leckie e Cahill (Halloran, 23'/2°). Técnico: Ange Postocoglou.
Gols: no primeiro tempo, Robben (H), aos 19 minutos e Cahill (A), aos 20. No segundo, Jedinak (A), aos 8, Van Persie (H), aos 12 e Depay (H), aos 22.
Cartões amarelos: Cahill (A), Van Persie (H)
Arbitragem: Djamel Haimoudi (Argélia), auxiliado por Redouane Achik (Marrocos) e Abdelhak Etchiali (Argélia).
Público: 42.877
Local: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.
ZERO HORA