Um Jô diferente daquele das noitadas em Porto Alegre e Belo Horizonte, nas passagens por Inter e Atlético-MG, é o líder de um focado vestiário do Corinthians que surpreende no início do Brasileirão. O comportamento transformado do centroavante, aliado aos gols em jogos decisivos, tem sido um dos combustíveis da campanha que coloca o time de Fábio Carille na ponta da competição.
Jô credita a mudança à religião. Agora evangélico, o atacante revelou, em entrevista ao Globoesporte.com em outubro do ano passado, que já não bebia há dois anos. Na ocasião, citou o álcool como principal propulsor do comportamento errático fora dos campos:
– Coloco a bebida primeiro, porque ela te leva a outras situações. Exemplo: eu poderia começar a beber aqui em casa, com dois, três amigos, com a minha esposa. Começava a beber, aí o espírito começa a ficar inquieto. Você quer sair. Aí, se eu não tivesse jogo, começava a beber em casa. E saía. Te leva pra noite, te leva a fazer coisas que você não queria.
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O novo Jô se mostrou logo na apresentação ao Corinthians, em novembro passado. Trazido do futebol chinês, não pôde atuar até o fim da temporada por ter desembarcado após o fim do período de inscrições do Brasileirão. Dedicou-se integralmente, porém, aos treinos para entrar voando em 2017. E entrou.
Os gols em clássicos foram a marca de Jô na campanha do título do Paulistão. No vestiário, a história de superação de obstáculos o transformou em referência para os mais jovens.
– Quando ele chegou, ainda havia uma certa desconfiança de que esta mudança era só no discurso. A cada clássico, ele foi ganhando força. É o cara que chega cedo nos treinos, que se dedica. Não há nenhuma reclamação em relação ao comportamento dele – elogia Diego Ribeiro, setorista do Corinthians do site Globoesporte.com.
– A respeito do Jô, muito se falou quando ele foi contratado em novembro do ano passado. Desde o começo ele foi muito esforçado, trabalhou com o grupo, fez cobranças mesmo sem poder jogar. É um cara positivo no dia a dia – destacou, recentemente, o técnico Fábio Carille.
A dedicação tem surtido efeito em campo. O centroavante é peça importante da equipe. Costuma sair da área e abrir espaço para que os companheiros entrem na área. Não deixa, porém, de ser o finalizador mais letal do time: com quatro gols, é o artilheiro do Corinthians no Brasileirão.
Ainda que a confiança tenha feito o time desandar a fazer gols nas últimas rodadas (foram 10 em três jogos), a equipe foi construída de trás para frente, bem ao estilo das mais vitoriosas passagens de Mano Menezes e Tite pelo clube.
– O Corinthians recuperou essa identidade que remete a 2008, quando o Mano chegou para a disputa da Série B. São times muitos intensos, agressivos na marcação. O jogador sabe, quando chega ao Corinthians, que tem de recompor, marcar, fechar espaços – analisa Paulo Calçade, comentarista dos canais ESPN.
O estilo de defesas sólidas, seguras, fez com que o clube se notabilizasse pelas vitórias por 1 a 0. Foi assim que chegou ao título mundial em 2012, com Tite. Mas na passagem seguinte do atual treinador da Seleção Brasileira, já em 2015, o estilo era mais envolvente. Tite havia mudado e tinha peças para montar uma equipe mais criativa. Quando saiu, a diretoria buscou, sem sucesso, nomes que seguiam essa ideia de propor o jogo, como Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira.
Carille, que trabalhava no clube desde 2009, recebeu a oportunidade para reconstruir um time que já não tinha recursos técnicos para praticar um futebol vistoso. Poucos esperavam, mesmo após o título paulista, que estivesse na liderança do Brasileirão. Assim como poucos esperam que se mantenha lá, por conta de uma suposta fragilidade do elenco.
– É um grupo melhor do que se imaginava. Nesses últimos meses o time foi descobrinho e recuperando peças em que ninguém acreditava, como Marquinhos Gabriel e Giovanni Augusto. São jogadores que encorpam o grupo. O Carille disse, desde o início, que antes de buscar reforços era preciso tentar recuperar esses jogadores – lembra Ribeiro.
Talvez o mais evidente caso de recuperação seja o de Jô. É por isso que ele é tão símbolo desse Corinthians em que ninguém acredita, mas já se ensaia para incomodar muita gente em 2017.
* ZH Esportes