Gestão profissional, investimentos em craques, aposta na base e troca de técnico no início do ano coincidem nos três principais candidatos ao título nacional. Zero Hora investigou os segredos de Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG, os líderes do Brasileirão.
PALMEIRAS
Estava na segunda divisão o Palmeiras quando o milionário Paulo Nobre, acionista de um fundo de investimentos, ganhou a eleição e assumiu a presidência de um clube à beira do colapso. Agiu como mecenas, com o coração: transformou as dívidas bancárias em dívidas para si, o que reduziu os juros e recuperou a imagem no mercado financeiro. Depois disso, agiu como gestor: contratou uma equipe profissional para comandar a principal paixão.
Alexandre Mattos, bicampeão brasileiro com o Cruzeiro, e Cícero Souza, ex-Grêmio, chegaram para dirigir o futebol palmeirense. O CT recebeu melhorias, houve reformulação no staff e investimentos em contratações. O novo estádio, Allianz Parque, possibilitou a criação de um programa de sócio-torcedores e fidelização que levam a uma ocupação média de 32 mil pagantes e renda de R$ 2 milhões por jogo.
Na opinião de Cícero Souza em entrevista à Rádio Gaúcha, "o futebol moderno exige que 11 jogadores criem ações ofensivas com a bola e que os 11 jogadores criem ações defensivas sem a bola". E foi com essa filosofia que o Palmeiras montou o grupo de jogadores e escolheu os treinadores. Primeiro, Marcelo Oliveira, cujo trabalho campeão da Copa do Brasil de 2015 durou até a Libertadores de 2016. Depois dele, Cuca, que estava na China, assumiu o comando de um grupo de jogadores recheado de boas opções.
Por exemplo: Vagner; Fabiano, Thiago Martins, Edu Dracena, e Zé Roberto; Gabriel (Matheus Sales) e Arouca; Allione, Cleiton Xavier (Vitinho) e Rafael Marques; Lucas Barrios (Alecsandro) foram os jogadores usados pelo treinador para enfrentar o Botafogo-PB. À exceção de Edu Dracena, todos os demais são reservas.
O grupo vasto dá a possibilidade de Cuca girar os jogadores, promovendo o rodízio que exigem as cerca de 75 partidas do ano.
– Não é o melhor time da história do Palmeiras, que já teve a Academia e o supertime da Parmalat dos anos 1990, mas pode ser campeão. Parece ser equilibrado e até agora tem, mesmo, sido – opina o comentarista da Fox Sports Mauro Beting.
Neste grupo há um craque. Negociado com o Manchester City por R$ 120 milhões – depois de receber uma ligação do próprio Pep Guardiola –, Gabriel Jesus consolidou-se como goleador e estrela do time. Apesar da badalação de, inclusive, ser o centroavante da Seleção, mantém o foco nos objetivos do clube, garante Cícero Souza.
FLAMENGO
Foram dois anos de sacrifícios financeiros e reestruturação para que o Flamengo chegasse à 27ª rodada do Brasileirão brigando pela liderança cabeça a cabeça. Em segundo, um ponto a menos do que o Palmeiras, o time carioca colhe os frutos de profissionalizar a gestão, arrumar a casa e montar o projeto que fizesse o clube de maior torcida do país voltar a ser protagonista.
Presidente do Flamengo desde 2012, Eduardo Bandeira de Mello, executivo do BNDES, cumpriu boa parte de sua promessa de campanha, a de criar um comitê para gerir o futebol e outro para administrar a dívida. O enxugamento foi o início da retomada. Gastando menos foi possível investir mais.
Para isso, reduziu a importância política no futebol. O principal carro-chefe do clube ganhou força profissional. Uma das medidas foi buscar no rival Vasco o executivo Rodrigo Caetano. Ao mesmo tempo, o CT Ninho do Urubu recebia investimentos. Traçado o perfil necessário, a hora era de investir. No início do ano, Muricy Ramalho começaria um trabalho já visando ao topo da tabela. Acometido por problemas de saúde, o técnico precisou sair. Ficou 11 rodadas mantendo Zé Ricardo na interinidade. Os bons resultados deram tranquilidade para efetivá-lo.
– No nosso modelo de gestão, não há mais espaço para um técnico com superpoderes. Zé Ricardo é mais uma peça, importante, claro, na engrenagem interdisciplinar que comanda o futebol dentro da nossa filosofia – explica Rodrigo Caetano.
Os jogadores também entenderam o objetivo do clube. A garimpagem do mercado funcionou: vieram "refugos" como Réver e Fernandinho, da Dupla, outros receberam investimentos mais altos, como os argentinos Cuéllar e Mancuello e algumas apostas deram resultado, como o goleiro Muralha e o volante Willian Arão. E, claro, o craque do time, Diego.
– Foi uma contratação cara, mas que devolveu o poder de mobilização da torcida, que lotou até aeroporto. Ele devolveu a auto-estima – aponta o colunista do jornal O Globo Carlos Eduardo Mansur.
Com um grupo de jogadores qualificado, a comissão técnica mais distribuída e a vantagem de ter torcida em todo o país, nem mesmo o fato de não ter o Maracanã ou sequer jogar no Rio tem afetado.
– No início, o Mané Garrincha seria mais usado, mas em uma praça pouco acostumada a receber partidas, esgotou-se. Mas em Cariacica o time se encontrou, deu certo. Agora, imagino que se o Flamengo chegar nas últimas rodadas com chances de ser campeão, o Maracanã e o público carioca podem fazer a diferença – aposta Mansur.
ATLÉTICO-MG
No Atlético-MG, a gestão não é tão profissional como em Palmeiras e Flamengo. Ainda que tenha um diretor executivo profissional, Eduardo Maluf – que precisou ficar afastado por questões médicas –, o presidente do clube, Daniel Nepomuceno, é vereador em Belo Horizonte pelo PSB. Não tentou a reeleição para se dedicar ao clube, mas não descarta buscar uma vaga como deputado estadual.
Sucessor de Alexandre Kalil, que é candidato a prefeito em BH pelo PHS, Nepomuceno deu andamento às mudanças da gestão. Uma delas foi o investimento no CT Cidade do Galo, que foi até escolhido como QG pela delegação argentina durante a Copa do Mundo de 2014. Houve apostas na base e, principalmente, na qualificação do grupo de jogadores.
Robinho é o exemplo desta aposta. Em parceria com a fornecedora Dry World, não se furtou de pagar quase R$ 800 mil mensais para ter o craque em seu elenco. Queria ganhar o bi da Libertadores. Sob comando de Diego Aguirre, foi às quartas de final, mas caiu para o São Paulo pelo gol qualificado.
Optou por mudar a comissão técnica: veio o ex-jogador do Atlético e campeão pelo Cruzeiro Marcelo Oliveira. Pouco depois, o grupo estelar – Victor, Marcos Rocha, Léo Silva, Erazo, Douglas Santos, Rafael Carioca, Cazares, Pratto e Robinho são ou foram de suas respectivas seleções nacionais – ganhou outro reforço: o centroavante Fred.
– Me surpreende muito quando traz um atleta que já provou que quer jogar e falam que não vai dar certo, como não vai dar certo? Por quê? – indagou, em entrevista ao canal PFC. – Acho que o futebol ideal é ter um terço da sua base, um terço de atletas para grupo e um terço de contratações de alto nível – completou.
Para acomodar este grupo todo, Marcelo Oliveira adaptou Pratto a uma função de armador, ladeado por Robinho e Cazares (ou Clayton, contratado do Figueirense). Ainda que não exiba um futebol encantador, consegue vencer quase sempre, principalmente em função do talento dos jogadores.
– Considero o melhor elenco do campeonato. E, se ganhar, poderá entrar para a história como o melhor de todos os tempos do Atlético-MG a ter sido campeão. É mais forte do que o de 1971 – considera Mauro Beting.
Ainda que mantenha o Independência quase sempre cheio, o sonho do Atlético-MG é construir o próprio estádio e concluir um programa de sócio-torcedores como o de Inter e Palmeiras.
*ZHEsportes