Não há dúvida de que a Geral do Grêmio mudou a forma de torcer no país: destacou-se mundialmente pela cantoria incansável, pela criatividade das músicas e pelo espetáculo da avalanche. O problema é que o próprio clube, encantado com o poder de pressão da organizada - e com a evidente popularidade da torcida -, aos poucos foi criando um monstro.
As regalias que a Geral recebeu na gestão de Paulo Odone, com dinheiro para viagens, ingressos para revender e livre acesso aos jogadores, instituíram entre os líderes da organizada uma sensação de prestígio e poder inabaláveis. Com o aumento da torcida, a Geral elegeu sete conselheiros do clube. Seus líderes não aceitam ser tratados como torcedores quaisquer. Por isso, no domingo, membros da torcida atacaram com voadoras e socos PMs que retiraram das arquibancadas o Gaúcho da Geral - que, até aquele momento, não havia sido agredido pela polícia.
Quando assumiu o Grêmio, Fábio Koff cortou as benesses da organizada. Nas últimas semanas, o vice-presidente Nestor Hein tem acompanhado os jogos no setor da Arena onde fica a Geral, para identificar e coibir os brigões. A gestão atual, no entanto, não adotou ações concretas para punir conselheiros ligados à torcida que se envolvem em pancadarias. Um deles, Messias Stroschein Soares, foi um dos mais violentos no último conflito com os PMs.
Ao recomendar ao Ministério Público que o Gre-Nal tenha só uma torcida, a BM pressiona o Grêmio por atitudes mais enérgicas e deixa um recado: se sozinha a Geral provoca tumultos incontroláveis, imagine contra o arquirrival.
É provável que o Judiciário proíba de entrar nos estádios torcedores envolvidos na briga do fim de semana. Mas, como ZH mostrou na série de reportagens Drible na Justiça, publicada em julho de 2012 e em março deste ano, também é provável que boa parte deles descumpra a ordem judicial. A impunidade, motivada por uma legislação branda, agora é a regalia da qual a Geral dispõe.