O grito engasgado na garganta desde o último fim de semana, agora ecoa no país inteiro: o Corinthians é campeão brasileiro. O empate sem gols deste domingo, no Pacaembu, foi o bastante para o Corinthians dar a volta olímpica em cima do Palmeiras.
As homenagens e o minuto de silêncio a Sócrates, eterno ídolo corintiano, embalaram os 11 guerreiros que subiram ao gramado do Pacaembu sem atraso, cientes de que a glória dependia só de si. Se o momento político do clube já não se assemelha em nada à Democracia do início dos anos 1980, em campo - o futebol regular mostrado durante a competição - o Doutor diria que está à altura da história que ele ajudou a construir.
Os olhos estavam vidrados no gramado do Pacaembu, mas os ouvidos grudados no rádio de pilha traziam boas e más notícias do Engenhão. O Palmeiras dominou o primeiro tempo e a tensão tomou conta. Nada que pudesse atrapalhar a festa. Um empate era o bastante, e o Timão jogou pela igualdade.
O empate que garantiu o emprego de Tite, quase demitido diversas vezes e agora na seleta lista de técnicos campeões, deu o título. Pela primeira vez em 101 anos de história, o Corinthians tem mais títulos brasileiros que o arquirrival (nos nacionais, Verdão leva vantagem com oito).
Expulso, Valdivia ainda colaborou com o título rival e mais uma vez decepcionou em um clássico contra o arquirrival. A 11ª colocação, intermediária, foi justa para uma equipe que brigou até o último minutos, mas foi só coadjuvante na temporada. Perdeu a chance de decidir. Aos mais de 30 mil torcedores corintianos no Pacaembu, somado aos milhões pelo Brasil, o trauma de 2010 foi superado: Corinthians é campeão!
Domínio do Palmeiras
O clássico começou quente. Em menos de cinco minutos, as cinco faltas e um cartão amarelo mostrado no Pacaembu - para Patrik - representavam bem a tensão e a responsabilidade que recaía sob as duas equipes. Ainda assim, o ritmo lento era ditado pelo Corinthians. Pelas laterais, no entanto, o Verdão encontrou o caminho.
Aos poucos o Palmeiras foi se soltando, prendeu mais a bola em seu campo ofensivo e passou a levar perigo, como aos 16 min. Marcos Assunção lançou com capricho para Patrik, mas o meia se apressou: arriscou de primeira e mandou à esquerda do gol defendido pro Julio Cesar. Foi o bastante para tirar o fôlego das duas torcidas.
O empate ainda dava o título ao Timão, mas o Palmeiras jogava tranquilo, no campo de ataque - o destino do Brasileirão, naquele momento, estava em suas mãos. Sustos mesmo, entretanto, só foram dois já nos últimos minutos: um para cada equipe. Aos 40, Cicinho chutou rasteiro e a bola desviou em Leandro Amaro, dentro da pequena área. De terceiro reserva da zaga alviverde, ele quase terminou o ano como herói.
Aos 44, o troco alvinegro: Alessandro fez boa jogada e tocou para Willian. O atacante preferiu cair pedindo pênalti, e Liedson chutou prensado, para fora. E a primeira etapa acabou sem nenhuma finalização certa, mas com a promessa de um segundo tempo ainda mais emocionante.
A consagração
A segunda etapa começou como se fosse outro jogo no Pacaembu. O Corinthians, finalmente, mostrava ímpeto de campeão e invertia os papéis do primeiro tempo: marcava bem e atordoava o Verdão no campo de defesa. Mas Valdivia sabia que o ano não foi dos melhores, que devia à sua torcida. Estava determinado a definir o Dérbi. Só não esperava que fosse negativamente.
Tite comemora seu primeiro título Brasileiro
Fotos: Alex Silva/AE
Aos dois minutos de bola rolando no segundo tempo, o Mago dividiu bola com Jorge Henrique e foi imprudente: deixou o braço na cara do atacante adversário. Nessa hora, reclamação não adianta: o meia foi expulso. Ao mesmo tempo, o radinho de pilha avisou: gol de empate do Flamengo no Engenhão. Não adiantava, os deuses do futebol pareciam ter escolhido o novo dono da taça. Prendendo a bola no campo de defesa e cozinhando o resultado, o Corinthians estava ciente disso.
Felipão tentou escalar João Vitor e Fernandão para reequilibrar a partida, já que jogava com um a menos. Com Márcio Araújo na lateral, o Palmeiras passou a sair mais, não sentiu falta de Valdivia. Deola só foi trabalhar aos 19 minutos, quando Liedson fez boa jogada, passou por Gerley e o goleiro afastou no tapa. Mas o Palmeiras cresceu e saiu para o jogo mesmo assim.
Aos 26 minutos, Marcos Assunção cruzou na grande área com perigo, Fernandão desviou de cabeça e bola explodiu na trave. No rebote, Luan tentou o chute e bola vai para fora. Talvez a melhor chance da partida, talvez o que tenha tirado o calmo Wallace do sério. No lance seguinte, o zagueiro improvisado no meio acertou Maikon Leite e levou o vermelho. A esta altura, eram dez contra dez.
Os ânimos ficaram mais exaltados, os jogadores do Corinthians sentiam o título chegando e pareciam desesperados, querendo acelerar o relógio. Um gol bem anulado do Palmeiras, marcado por Henrique, só aumentou a tensão. Mas a torcida já fazia a festa, o grito de "é campeão" era inevitável, o resultado no Engenhão ajudava. Tudo ajudava. Só foi preciso segurar o resultado para confirmar. Uma pena que Jorge Henrique resolveu provocar e a briga começou. João Vitor e Castán foram expulsos, Luan e Jorge Henrique trocaram agressões e deram sorte em terminarem a partida no campo.
FICHA TÉCNICA
CORINTHIANS 0 X 0 PALMEIRAS
Estádio: Pacaembu, São Paulo (SP)
Data/hora: 4/12/2011 - 17h (de Brasília)
Árbitro: Wilson Luiz Seneme (Fifa-SP)
Auxiliares: Emerson Augusto de Carvalho (Fifa-SP) e Marcelo Carvalho Van Gasse (Fifa-SP)
Renda e público: R$ 1.326.367,00 / 36.708 pagantes
Cartões amarelos: Alex, Jorge Henrique, Alessandro, Chicão (COR); Patrik, Leandro Amaro, João Vitor (PAL)
Cartões vermelhos: Valdivia, 2'/2ºT (PAL); Wallace, 28'/2ºT (COR); João Vitor, 45'/2ºT (PAL); Leandro Castán, 45'/2ºT (COR)
CORINTHIANS: Julio Cesar; Alessandro, Paulo André, Leandro Castán e Fábio Santos; Wallace, Paulinho, Alex, Jorge Henrique (Moradei, 48'/2ºT), Willian (Chicão, 30'/2ºT) e Liedson (Edenílson, 40'/2ºT). Técnico: Tite.
PALMEIRAS: Deola; Cicinho (Maikon Leite, 25'/2ºT), Leandro Amaro, Henrique e Gerley; Márcio Araújo, Marcos Assunção, Valdivia, Patrik (João Vitor, 8'/2ºT), Luan e Ricardo Bueno (Fernandão, 12'/2ºT). Técnico: Luiz Felipe Scolari.