Lewis Hamilton demonstra a cada dia estar mais à vontade no Brasil. Após a etapa do mundial de Fórmula 1 em Melbourne, na Austrália, o heptacampeão veio a São Paulo para uma palestra. O inglês discursou durante quase uma hora na manhã desta quarta-feira (13), falou sobre racismo e enalteceu Ayrton Senna, um de seus ídolos.
Hamilton foi o principal palestrante do VTEX Day, maior evento de varejo, negócios e inovação digital da América Latina, realizado no São Paulo Expo. No palco, o piloto da Mercedes foi bastante aplaudido. Ainda mais depois de ele dizer que se sente "um pouco brasileiro", arriscar algumas palavras em português e estender a bandeira do país ao final de sua participação.
— Este é o maior público que já vi. Tem um pouco de Brasil em mim — iniciou Hamilton, após arriscar um "bom dia", diante de quase 10 mil pessoas.
O piloto revelou também conversas que tem com Neymar:
— Ele me convida para vir ao Brasil todos os anos. Quero passar mais tempo no país e aprender mais dessa cultura.
Parte significativa da palestra foi dedicada à sua história de vida. Um garoto negro, oriundo de uma família de classe média de uma cidade do interior do Reino Unido, que driblou as adversidades para se tornar o maior campeão da F1 e um dos principais esportistas da história.
— Sempre fui o único negro nos boxes. Quando eu perguntava o motivo, nunca ouvi uma resposta satisfatória. Acho que eles não estavam realmente interessados em achar uma resposta — afirmou Hamilton, um dos mais importantes ativistas contra o racismo no esporte mundial.
Em 2020, ele criou a Comissão Hamilton, com o apoio da Mercedes, para estimular a diversidade no automobilismo. Também é de sua autoria a Mission 44, uma fundação que capacita profissionais e inclui pessoas negras, em parceria com a fundação de caridade educacional Teach First.
O projeto visa formar 150 professores negros para lecionar disciplinas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática nos próximos dois anos em comunidades carentes na Inglaterra:
— Fizemos este trabalho e já começamos a ver algumas minorias representadas no esporte. Meu objetivo é ver um esporte mais diversificado em 10 ou 15 anos — projetou o heptacampeão, disposto a ampliar a diversidade na Fórmula 1.
O público assistiu a vídeos da trajetória do britânico, desde o início do kart, até momentos marcantes de sua carreira, como a vitória épica conquistada no GP de São Paulo no ano passado, ocasião em que celebrou com a bandeira do Brasil. Fato que está na memória dos brasileiros órfãos de Ayrton Senna.
— Ayrton era o piloto que eu queria ser. Eu jogava futebol, via a seleção brasileira. Mas quando voltava da escola, gostava de ver o Ayrton. Fazia isso todo dia — relatou.
Quando recebeu a notícia da morte do ídolo brasileiro, em maio de 1994 , Hamilton afirmou ter tido dificuldades em aceitar o fato:
— Quando Ayrton morreu eu estava correndo. Meu pai sempre não me deixava chorar. Então tive que me afastar por alguns instantes — revelou.
Por fim, o britânico reconheceu que a categoria carece de um representante do Brasil:
— Nós definitivamente precisamos de outro piloto brasileiro na Fórmula 1.