Vinte e seis anos e quinze dias depois da conquista do tri de Ayrton Senna na Fórmula-1, a família voltou a alcançar um título mundial. A honra coube ao sobrinho Bruno, que no sábado (18) se sagrou campeão da série LMP2, a mais numerosa e competitiva das quatro categorias do Campeonato Mundial de Endurance – FIA WEC, graças a uma dramática e suada vitória nas 6 Horas do Bahrein, 9ª e última etapa da temporada. Depois de se revezarem na ponta em boa parte da prova com os únicos rivais em condições de derrotá-los no campeonato, Bruno e seus companheiros da Rebellion Racing, os franceses Julien Canal e Nicolas Prost, ganharam pela quarta vez em 2017.
Como se imaginava, o epílogo entre os protótipos da LMP2 foi recheado de emoções. Na batalha final, o forte trio da Jackie Chan DC Racing – integrado pelo chinês Ho-Pin Tung, o britânico Oliver Jarvis e o francês Thomas Laurent – dependia somente das próprias forças para chegar ao título. No entanto, apenas a vitória os levaria a descontar a desvantagem de quatro pontos em relação ao time de Senna. E eles em vários momentos estiveram à frente, ameaçando o sonho do brasileiro e seus parceiros, que largaram em segundo – logo atrás dos rivais e dos poles André Negrão, Nicolas Lapierre e Gustavo Menezes.
Para aumentar ainda mais a carga emocional, uma pane na direção quase derrubou Senna.
— Foi muito louco. Perdi o power steering e o carro ficou extremamente pesado de dirigir. Precisei resetar o volante para ver se ele voltava a funcionar direito e deu certo. Foi muito tenso, mas felizmente incrível. Estou sem palavras. Foram quatro vitórias nas últimas cinco corridas. Mal dá para acreditar — comemorou Bruno, recebido no pit lane por Canal e Prost depois de cruzar a linha de chegada 10 segundos antes de Jarvis.
Prost, ausente da corrida em Nurburgring por conflito de datas com a rodada da Fórmula E nos Estados Unidos, não pôde festejar o título, mas seu trabalho foi exaltado por Bruno.
— Ele perdeu uma prova, mas de resto fez tudo o que pôde para nos ajudar — agradeceu.
Bruno é o segundo brasileiro a vencer no Mundial de Endurance – o primeiro foi Raul Boesel, pela Jaguar, em 1987. E o final de semana no circuito de Sakhir foi particularmente iluminado para os nomes mais ilustres da história do automobilismo brasileiro. Na véspera, Pietro Fittipaldi – neto de Emerson Fittipaldi – assegurou a conquista da World Series, enquanto no sábado, Nelsinho Piquet subiu ao pódio da LMP2 com o 3º lugar ao lado de Mathias Beche e David Heinemeier Hansson.
Foi a recompensa por um campeonato marcado pela incrível recuperação da tripulação do Oreca 07-Gibson da Rebellion Racing. Os três chegaram a ficar 46 pontos atrás do carro 38 da equipe de propriedade do astro chinês de filmes de ação Jackie Chan, que abriu grande frente na classificação por conta da vitória e da pontuação dobrada nas 24 Horas de Le Mans. A reação veio a partir da segunda metade do ano, quando Bruno, Canal e Prost ganharam no México, no Japão e na China antes de fecharem o calendário com chave de ouro no Bahrein.