Sem piloto garantido em 2017, o Brasil vive uma dificuldade maior do que a falta de vitórias: sequer é competitivo. Apesar de só 21 pilotos terem vencido os 303 GPs desde 2000 – apenas seis foram campeões mundiais –, a atual temporada dos brasileiros é a pior desde 2010. Felipe Massa está em 10º lugar, e Felipe Nasr é o 22º entre os 24 que já correram em 2016.
A distância da luta por vitórias faz com que o interesse pelo esporte venha caindo. Um dos reflexos recentes disso foi a decisão da TV Globo, dona dos direitos de transmissão no Brasil, de não exibir mais os treinos de classificação, apenas as corridas.
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– A audiência e o interesse não caíram. Claro que não se pode comparar com 2008, quando Massa disputou o título, a internet era mais fraca e não havia tanta TV a cabo. Há um público fiel. A diferença é o torcedor de ocasião, que só vê se tiver um brasileiro vencendo – diz Rafael Lopes, produtor de automobilismo da TV Globo e comentarista do site Globoesporte.
Repórter especializado em F-1, com mais de 400 coberturas in loco desde 1987, Livio Oricchio vê com preocupação o futuro do país na categoria. Enquanto Massa anunciou a aposentadoria, Nasr negocia com vários times para 2017 – as chances de ficar na F-1 são boas, mas o desafio é garantir um carro competitivo. Oricchio pondera que Nasr não deve ter chance em um time de ponta, mas vê na brusca mudança no regulamento em 2017 a chance de ele se posicionar.
– Nasr é rápido e consistente, o que na F-1 conta. A revisão das regras pode ser boa caso vá para um time como a Force India. Mas o problema é o pós-Nasr. A chance de outro brasileiro chegar à F-1 até 2020 é pequena, a não ser que surja um fenômeno.
Todos os analistas ouvidos por ZH apontam Sérgio Sette Câmara como a principal promessa do Brasil em um futuro breve, mas frisam que ele precisa mostrar resultado:
– Tem de começar a mostrar que é vencedor. Não precisa ser necessariamente campeão, mas disputar título e brigar por poles e pódios regularmente – diz Oricchio.
ENTREVISTA
“Hoje me falta um carro melhor”, diz Felipe Nasr
Após estrear com um surpreendente 5º lugar na primeira corrida de 2015, Felipe Nasr pena na Sauber, único time que não pontuou no ano. Ainda em busca de uma vaga para 2017, Em entrevista por e-mail a ZH, ele fala sobre o momento e suas perspectivas na F-1.
Como avalia o ano na Sauber?
Tem sido difícil, mas é nessas horas que mais se aprende. A equipe tem história na F-1 e está lutando. Recebeu a boa notícia de um novo grupo de investidores, o que dá um fôlego. Até o fim do ano, pelo menos, é aqui que tenho de conseguir resultados.
Você estipula data para um pódio ou vitória? O que falta?
Seria muita pretensão colocar prazo. Falta, principalmente, um carro melhor do que aquele que tínhamos no ano passado.
Você já provou que, com carro bom, é capaz de brigar lá na frente. O que espera para o futuro?
Me resta mostrar talento a cada oportunidade, não desistir e trabalhar. Não adianta reclamar ou esperar as coisas caírem do céu. Tem de arregaçar as mangas e acelerar.
Até que ponto o dinheiro de patrocínios influencia na hora de buscar uma vaga na F-1?
O dinheiro sempre foi um combustível fundamental. Na F-1, mais ainda. Os pilotos são braços comerciais das equipes e patrocinadores. A escolha é baseada no momento esportivo e econômico.
A ascensão de pilotos mais jovens que você, inclusive em grandes equipes, te preocupa?
Só mostra que basta darem um bom carro a um jovem piloto de talento que ele é capaz de vencer.
Falta, ao país, investir em formação de pilotos visando a F-1?
Uma coisa não depende da outra. França e Itália têm indústrias automobilísticas muito desenvolvidas, programas para jovens pilotos e nem por isso há garantia. É igual ao futebol: há fases e pronto.
ENTREVISTA
“Sonho em levar o Brasil ao topo”, afirma Sérgio Sette Câmara
Uma das promessas do Brasil, Sérgio Sette Câmara está em ascensão. Aos 18 anos, já faz parte do programa de jovens pilotos da Red Bull. Em julho, testou pela primeira vez um carro de F-1, em Silverstone. Em entrevista a ZH, ele fala sobre o desafio de chegar à F-1.
Como foi a primeira experiência guiando um carro de F-1?
Espetacular. Busquei aprender o máximo. Foram 81 voltas, mais de 400 quilômetros. Sabia que seria rápido, mas o torque do motor superou as expectativas. Não errei e me senti muito útil para o time.
Como fazer parte do programa de jovens pilotos da Red Bull te ajudará a chegar na F-1?
É muito importante, pois abre portas e permite andar nos melhores simuladores do mundo. Já fiz pódio, recorde de pista e mostrei que sou rápido. Falta um pouco de consistência. Agora vou buscar ficar no top 3 da F-3 Europeia.
Quem são seus ídolos?
Eu me inspiro em três grandes pilotos: Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo e Ayrton Senna.
Como vê o papel do piloto em uma F-1 cada vez mais técnica?
Acho positivo. Gosto de ver o piloto fazendo diferença com a estratégia e o controle do carro.
Como avalia o incentivo para a formação de pilotos no Brasil?
Falta apoio no Brasil, mas não é necessariamente culpa da CBA. Na Inglaterra, eles dão teste de F-1 para piloto que anda bem, pagam inscrição. A federação francesa leva até fisioterapeuta para eventos. Mas fora estes dois, não vejo muito apoio. O Brasil está ali, na média. Não posso reclamar.
Que mensagem você deixa para o torcedor brasileiro?
Peço que tenha mais paciência, pois está vindo uma geração forte. Darei o meu melhor. Sonho levar a bandeira do Brasil lá para cima.