Virtual tricampeão da Fórmula-1, Lewis Hamilton alcança o feito do maior ídolo sem o mesmo reconhecimento diante da superioridade da Mercedes. Mas vê no maior rival, Sebastian Vettel, a chance de reeditar uma rivalidade à altura do duelo entre as McLaren para virar lenda.
Motivos não faltam para acreditar em uma disputa histórica nos próximos anos. Os dois somam 42 vitórias - uma a mais do que Senna e nove a menos do que Alain Prost, o eterno oponente do brasileiro. Enquanto Hamilton tem 49 poles, o alemão soma 42. E, para o inglês, a temporada de 2016 valerá o tetra, o mesmo número já alcançado por Vettel nos áureos tempos de Red Bull (2010-2013).
Quando Senna e Prost duelaram pela primeira vez, em 1988, vale lembrar que a McLaren era igual à Mercedes de hoje: imbatível. Naquele ano, venceu 15 das 16 corridas - desempenho melhor do que a flecha de prata de 2015. Mas por que, então, a F-1 daquela época parecia melhor? Simples: havia um grande duelo em condições iguais.
Desde a ferrenha batalha, a categoria só teve lampejos de intensa rivalidade, como entre Michael Schumacher (Ferrari) e Mika Hakkinen (McLaren), de 1998 a 2000. Isso se deu, em especial, pelo domínio absoluto de três times. Tanto que, nos últimos 15 anos, os maiores expoentes acoplaram o sobrenome das equipes às glórias: o Schumacher da Ferrari, o Vettel da Red Bull e, agora, o Hamilton da Mercedes. Epopeias justas construídas com dedicação ao volante e excelência dos carros, mas sem tanta emoção pela falta de brigas árduas por vitórias.
É por isso que o renascimento da Ferrari neste ano, comandado por Vettel, tem tudo para apimentar a disputa pela taça e pintar um horizonte mais competitivo, principalmente a partir de 2017, quando a F-1 terá novas regras que poderão reduzir a diferença entre os carros e fazer, outra vez, um campeonato ser decidido no braço.
No esporte, a rivalidade impulsiona. É como o Gre-Nal no futebol ou a disputa entre Roger Federer e Novak Djokovic no tênis, por exemplo. Hoje, porém, a F-1 tem a Mercedes, uma equipe muito superior às demais e que faz o carro ser mais determinante do que o piloto no resultado. E aí, mesmo diante de recordes sendo quebrados em sequência, a sensação de muitos torcedores é de que as corridas não têm graça.
Hamilton - que pode confirmar o título domingo nos Estados Unidos - chegou a dizer recentemente que adoraria ter contra Vettel um duelo como o de Senna e Prost. Nas entrelinhas, por mais surreal que pareça, o inglês foi claro: quer que o rival tenha um carro tão bom quanto ele. A loucura faz sentido. Afinal, apesar de somarem sete títulos e superarem lendas nas estatísticas, ambos miram algo mais: fazer história acelerando o coração dos fãs.