Com a chegada dos últimos meses de 2023 e o verão que se avizinha, os trabalhos temporários surgem como uma alternativa. Tanto para quem está desempregado quanto para aqueles que querem um complemento de renda. Segundo estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mais de 15,4 mil vagas serão abertas nesta modalidade, durante esta temporada, pelos setores de comércio e serviço no Rio Grande do Sul.
Garantir uma destas oportunidades, porém, exige preparo e alguns cuidados por parte dos candidatos. Camila Korsack, especialista em recrutamento e seleção da GP Temporários, que agencia trabalhadores nesta modalidade, diz que o primeiro ponto de atenção para quem disputa uma posição é ter clareza sobre o que se quer.
– É importante saber o que está buscando e comunicar isso com objetividade ao procurar a vaga. Tanto na hora de abordar o recrutador quanto no próprio currículo, que deve ter algumas informações básicas – diz, sobre a melhor maneira de elaborar o documento (veja as dicas na página ao lado).
Seleções remotas
Há outro aspecto da comunicação que deve ser observado com mais cautela pelos candidatos, segundo Camila. É o digital. Isso porque, com a pandemia, os processos seletivos se tornaram massivamente remotos e, para tanto, passaram a lançar mão de cadastros online, entrevistas por videochamada e outros recursos disponíveis na internet.
– Percebemos muita dificuldade por parte dos candidatos com essas ferramentas, que são cada vez mais comuns. Por outro lado, há facilidade para usar as redes sociais, por exemplo – compara.
E, diante desse cenário, cita outro conselho: dedicar um tempo a entender melhor sobre esse universo. Fazer buscas na internet sobre o funcionamento e a utilização das ferramentas online de seleção e, até mesmo, quais informações fornecer.
Além disso, Camila pontua que, por trás das muitas etapas que compõem os processos atualmente, há, entre outras intenções, a de confirmar se o candidato está realmente interessado pela vaga.
– Muitas vezes, as seleções são morosas, demoradas, mas são importantes para a empresa conhecer o perfil do candidato e saber se ele está mesmo dedicado à vaga. E acontece de, no meio do caminho, muitos desistirem – explica.
Postura e comportamento
Nas três operações do lojista Carlos Klein, localizadas na Capital e na Região Metropolitana, os processos de seleção também se tornaram digitais. Saíram de cena os cartazes de “Há vagas” colados na vitrine e passaram a ser usadas as postagens em redes sociais.
– É mais fácil de alcançar as pessoas dessa forma, e ainda conseguimos já conversar por mensagem, conhecer um pouco do candidato – comenta.
De acordo com ele, aliás, é neste instante que os interessados pelas vagas começam a ser avaliados. Sobretudo, pela postura adotada pelo candidato nestes momentos.
– Procuramos pessoas que não tenham experiência, porque nós ensinamos as técnicas de vendas e atendimento. Então, os tópicos comportamentais são mais importantes. Entre eles, pontualidade, interesse em aprender, ter pesquisado sobre a empresa e a área de atuação dela previamente – cita Carlos.
Estes pontos, levantados pelo lojista, são também itens a serem observados por aqueles que desejam uma efetivação. Afinal, é o desempenho durante o temporário que viabilizará ou não a contratação em definitivo.
Chance de mostrar serviço
Para a auxiliar de logística Catiuscia Vargas de Azevedo, 41 anos, o trabalho temporário foi como um contrato de experiência. Ou, ao menos, ela encarou dessa forma quando foi contratada por uma indústria de Gravataí, cidade em que reside.
_ Fiz um contrato de três meses, que foi prorrogado por mais dois. Depois, fui efetivada. É como qualquer trabalho, com salário e benefícios iguais _ salienta.
A observação destes aspectos só foi possível porque Catiuscia pôde tirar todas as suas dúvidas durante a seleção. É que ela vinha de uma série de outras vivências como colaboradora efetiva e desconhecia as características e condições do trabalho temporário.
_ Todas as questões e qualquer visão negativa de trabalho temporário que eu tinha foram esclarecidas. Foi uma experiência como as outras, uma chance de mostrar o meu serviço _ fala.
Com mais conhecimento, ela aproveita para deixar uma dica aos que estão buscando uma vaga:
_ Aconselho a sempre dar o melhor de si, como se fosse efetivo. Não podemos encarar como "foi só o que apareceu". Tem que gostar. Senão, vai ficar frustrado e ainda tirar a vaga de outro, o que não é vantajoso para ninguém.
"Ganho mais assim"
Foi pensando no que era mais vantajoso para si que Adelir Lopes de Oliveira, 56 anos, decidiu que não buscaria mais por trabalhos efetivos.
_ Trabalhei muito de carteira assinada, mas, no início da pandemia, fui demitida. Depois de um tempo, me chamaram de volta e eu fiquei seis meses. E então a covid-19 se agravou novamente e fui demitida outra vez _ relembra a moradora de Sapucaia do Sul.
As frustrações de uma demissão levaram-na a, desde 2021, trabalhar apenas de forma temporária, geralmente, prestando serviços a hotéis como camareira. Os acordos de prestação de serviço, que podem ser diários ou por períodos mais longos, levam a um dia a dia com menos rotina.
_ Vou para onde sou solicitada. Não me prendo muito a fazer amizades, porque meu foco é trabalhar e prestar meu serviço da melhor maneira. Mas me dou bem com as pessoas e crio relação com quem tem esse mesmo objetivo _ define.
A inconstância de colegas e locais de trabalho está longe de ser ruim, na visão de Adelir, que interpreta sua escolha sob outro ponto de vista:
_ Nem todos pensam como eu, mas ganho mais assim, sempre tenho trabalho. E, no momento, acho que isso me serve bem.
Dicas
- Tenha clareza sobre quais tipos de oportunidade está buscando.
- No currículo, deve constar nome, idade, cidade, bairro, telefone (sinalize se há WhatsApp), um contato para recados (não esqueça de dizer quem é o dono dessa linha, se pai, mãe, cônjuge ou outro) e o seu e-mail. Tudo precisa estar atualizado.
- Não é necessário colocar endereço no currículo, nem mesmo número de documentos como RG e CPF.
- Descreva a sua formação acadêmica, pontuando se está completa ou em andamento, e as três últimas experiências da forma mais detalhada possível. Se puder personalizar o currículo, opte por descrever as experiências que se relacionam mais com a área da vaga pretendida.
- Se não tiver experiências anteriores, cite suas habilidades e o que gosta de fazer.
- Pesquise sobre o funcionamento de processos seletivos, sobre o sistema online em que precisará se cadastrar e sobre a empresa que está oferecendo a vaga.
- Pense e planeje a forma como vai se comunicar com quem está selecionando. Se for falar, ensaie antes. Se for escrever, releia e veja se não há erros antes de enviar. Não use palavras que desconhece e, na dúvida, pesquise.
- Procure adotar um tom formal quando for contatar a empresa ou ser entrevistado. Seja mais casual apenas se o selecionador der espaço. Evite soar ansioso por um retorno e fazer questionamentos incisivos ou agressivos.
- Se fizer uma entrevista por vídeo, prepare-se e arrume-se como se fosse ser presencial. Além disso, busque um local silencioso e bem iluminado. Se tiver problemas de conexão, peça desculpas e explique o que está ocorrendo.
- Seja pontual, inclusive em ligações ou videochamadas.
- Demonstre interesse e, na hora da entrevista, não deixe de falar sobre seus conhecimentos e o que descobriu nas pesquisas prévias sobre a empresa e a área de atuação.
- Se tiver dúvidas, peça licença e pergunte.
- Evite criticar ou falar mal de empresas em que já tenha trabalhado.
Fonte: Camila Korsack, especialista em recrutamento e seleção da GP Temporários, e Carlos Klein, lojista.
*Produção: Guilherme Jacques