Quando um alimento alcança a mesa do consumidor, ele já passou por um longo e cuidadoso processo, que depende de um profissional ainda pouco conhecido: o cientista de alimentos.
Com a possibilidade de atuar em diferentes etapas da produção, as opções no mercado para quem escolhe esse curso são diversificadas.
Na indústria, o profissional pode trabalhar na elaboração de ingredientes e novos alimentos, na redução de desperdícios de matéria-prima ou mesmo averiguando a ação de equipamentos industriais. No campo, ele tem capacitação para acompanhar a carne "da porteira à geladeira", levando em conta o transporte e a conservação, como expõe o professor do curso da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Pedro Luiz Manique Barreto. Em agências de vigilância, esse cientista pode analisar se determinado alimento está adequado para consumo.
Quando formado, há ainda a opção de atuar como consultor em mercados, inspecionando ou avaliando a fabricação de produtos e até em controle de importação e exportação, como complementa a coordenação do curso da UFSC. O objetivo do profissional é o alimento em si, considerando-se também os efeitos que ele terá no corpo. Por isso, pode ser função avaliar a qualidade de um pão fabricado no mercado ou elaborar comidas específicas voltadas para crianças e idosos ou para quem tem alguma doença ou disfunção.
- São os chamados alimentos funcionais que, de alguma maneira, promovem saúde ou previnem alguma patologia - explica o professor Pedro Barreto.
Ambiente de trabalho diversificado
Na UFSC, o curso foi lançado em 2009 e deve formar a primeira turma no ano que vem. Na instituição, a faculdade tem duração de nove semestres e envolve disciplinas como bioquímica, microbiologia de alimentos e tecnologia das fermentações e de produtos de origem animal.
O ambiente de trabalho é diversificado: pode ser em laboratórios de indústrias, em agências de vigilância ou em estabelecimentos de um modo geral, realizando consultorias. O cientista de alimentos atua em toda a cadeia produtiva dos produtos alimentícios.
O profissional também elabora aquela tabelinha nutricional que tem atrás da caixinha do achocolatado ou da barrinha de cereal. É ele quem formula e analisa essas composições.
- Foi um pouco complicado ver a produção de salsichas, mas eu não vou deixar de comer cachorro-quente por causa disso - brinca a estudante Caroline Louise Floriani, que está na oitava fase do curso.
Por outro lado, algumas disciplinas costumam ter um resultado bem prático, como explica a aluna que pretende trabalhar no processamento de alimentos nas indústrias:
- Quando acabamos os experimentos sobre tecnologia da panificação, podemos comê-los no final da aula.
Conheça o curso
A coordenadora do curso de Ciência e Tecnologia da UFSC, Marilde Bordignon Luiz, e a Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Edna Regina Amante, esclarecem:
Do que é preciso gostar
O aluno precisa gostar de enfrentar desafios, na solução de problemas da indústria de alimentos, em análises, em processamento, em novos produtos e demandas específicas da área de alimentos que requerem conhecimento em química, bioquímica, microbiologia.
Salário
O piso da profissão segue determinações de lei federal. A remuneração prevista é de seis salários mínimos para 30 horas semanais e de oito salários para 40 horas.
Mercado
O food scientist é ainda desconhecido no Brasil, mas existe a necessidade do profissional, que tem uma formação diferenciada, com ênfase em ciência e tecnologia. O Brasil tem muitas matérias-primas e produtos pouco conhecidos ou estudados, além daqueles tradicionais que estão no mercado.
Unipampa oferece o curso no RS
O curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos é oferecido, no Estado, pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no campus Itaqui. A graduação é presencial e tem duração de quatro anos. Com 50 vagas por ano, o bacharelado tem aulas pela manhã e à tarde. Entre as disciplinas obrigatórias, estão química, microbiologia, bioquímica e estatística. O ingresso na Unipampa é feito por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), baseado na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A unidade não oferece dormitório para estudantes, mas é possível concorrer a bolsas de auxílio-moradia, transporte e alimentação, conforme a renda.