No Rio Grande do Sul, 44% dos jovens entre 15 e 29 anos trabalham e não estudam. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2023, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta sexta-feira (22). Cada grupo de jovens tem diferentes motivações para não seguir estudando ou ampliando a sua qualificação.
É o caso de Ana Luiza Gregol Fagundes Vargas de Souza, 23 anos. Atualmente, a jovem trabalha como designer de unhas em um salão de beleza no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, e não pretende ingressar em um novo curso, em função da falta de disponibilidade de tempo para se dedicar aos estudos. Ela concluiu o Ensino Médio em 2022.
— A minha rotina é muito corrida, tenho que estar no salão às 8h30min e depois saio às 20h. Não tenho tempo disponível para fazer outro curso, minha rotina não permite. Cheguei a fazer um curso para me especializar em manicure e pedicure no Senac, em 2019. Não é um curso técnico, mas para mim foi bem importante, foi o que abriu as portas para o meu trabalho atual — conta.
Para o fiscal de caixa Allyson Hoffmann, 23 anos, seria interessante fazer graduação, mas a falta de recursos e de tempo para estudar ainda não permitiu concretizar esse plano. O jovem concluiu o Ensino Médio em 2017.
— Minha rotina é da casa para o trabalho e do trabalho para casa. Tem dois cursos que eu gostaria de fazer, penso em fazer Biologia ou Letras - Inglês. Mas não tenho condições para pagar um curso. A solução seria ingressar em uma universidade pública, mas não teria tempo para estudar para o vestibular. Eu trabalho a semana toda, de segunda a sábado, e às vezes no domingo. Seria complicado — relata.
"Nem-nem": cai proporção de jovens que não trabalham nem estudam
O RS é o segundo Estado com o menor percentual de jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham. Conforme os dados de 2023, 12,6% da população gaúcha nesta faixa etária se enquadra nesse perfil. Considerando o cenário nacional, a proporção é de 19,8%.
Veja, abaixo o ranking por Estado de pessoas de 15 a 29 anos que não trabalham e não estudam (considerando escola, cursos pré-vestibular, técnico de nível médio, curso normal ou qualificação profissional):
- SC: 11,3%
- RS: 12,6%
- DF: 13,8%
- PR: 14,7%
- SP: 15,1%
A proporção da população gaúcha que nem estuda e nem trabalha já apresentava queda em 2022, em relação à pesquisa anterior, feita em 2019. E em 2023, o número diminuiu novamente. No ano pré-pandemia, 14,5% da população se enquadrava na categoria, em 2022 a porcentagem foi para 13,9%. Em 2023, o percentual caiu para 12,6%.
Considerando a distribuição étnico-racial no Estado, 11,4% da população branca do RS de 15 a 29 anos nem estudava e nem trabalhava em 2023. Quanto às pessoas negras, 15,7% se enquadram neste perfil. Já entre as mulheres gaúchas, elas representam praticamente o dobro de pessoas que não têm ocupação e não estudam, em relação aos homens.
Enquanto a população masculina do RS representa 9,1% das pessoas neste perfil, as mulheres equivalem a 16,4%. Apesar do número alto, quando comparado ao percentual de homens, a proporção de mulheres no perfil “nem-nem” no RS é menor que a brasileira, de 25,6%.
Estudo e Trabalho
No Rio Grande do Sul, 21,8% da população de 15 a 29 anos concilia os estudos com o trabalho, sendo que essa é a maior proporção entre os Estados. Em nível nacional, 15,3% da população brasileira dessa faixa etária estuda e trabalha. No extremo oposto da lista está o Acre, onde apenas 7,3% da população desse grupo etário se ocupa com trabalho e estudos ao mesmo tempo. Maranhão, Pernambuco e Amapá também têm proporção abaixo de 10%:
- RS: 21,8%
- SC: 21,4%
- DF: 20,7%
- MT: 19,5%
- PR: 18,8%
Entre os gaúchos, as pessoas negras equivalem a 18,5% dos que estudam e trabalham ao mesmo tempo. No Brasil, a porcentagem de pretos e pardos nesta condição é de 13,2%. Quanto à população branca do Estado, cerca de 22,9% estudam e trabalham. Em âmbito nacional, a porcentagem é de 18,4%.
Em relação à questão de gênero, o RS é o Estado com maior proporção de mulheres que conciliam trabalhos com estudos. São 23,1% delas, enquanto no Brasil a porcentagem é de 16%. A população gaúcha masculina não fica muito atrás. Conforme os dados, o RS tem a segunda maior porcentagem de homens que estudam e trabalham, com 20,5%, ficando atrás apenas de Santa Catarina, com 20,8%. No país, são 14,6% dos homens nesta condição.
*Produção: Yasmim Girardi