Morreu, neste sábado (22), o médico e professor Moacir Vitorino Jardim, aos 89 anos, em Pelotas, na região sul do Estado. A informação foi divulgada pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), onde Jardim lecionou por mais de 50 anos. A causa da morte não foi divulgada.
Decano do curso de Medicina da instituição, Jardim é considerado uma figura importante para a consolidação do ensino desta área no Rio Grande do Sul. Natural de Belo Horizonte, em Minas Gerais, Jardim viajou para Pelotas para ajudar na idealização e construção do curso de Medicina da UCPel, a convite de Dom Antônio Zattera, fundador da universidade, mas acabou ficando.
— Eles conseguiram autorização para montar o curso de Medicina, mas precisavam de um corpo docente. Antônio Zattera ficou sabendo que em Minas Gerais tinha um jovem médico que era craque em morfologia e foi até lá tentar convencer ele a participar desse projeto. Jardim estava prestes a embarcar para os Estados Unidos para estudar, mas sua mãe disse para ele vir até Pelotas ajudar Antônio. Ele veio e nunca mais foi embora — conta o reitor e ex-aluno de Jardim, José Carlos Pereira Bachettini Júnior.
O mineiro ministrou a primeira aula do curso de Medicina da UCPel, criado oficialmente em dezembro de 1962. Até pouco tempo, todos os alunos do curso tinham aula com ele já nos primeiros semestres. Segundo Bachettini, a universidade já formou mais de 5 mil médicos e Jardim esteve presente na trajetória acadêmica da maioria desses profissionais. Ele também foi o primeiro diretor do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP), em Pelotas.
— Falar sobre a Católica é falar sobre Jardim, eles estão muito vinculados. Eu, como médico, olho para a saúde pública de Pelotas e consigo ver o legado que ele deixou — ressalta o reitor, que foi aluno de Jardim na década de 1980.
Para Cayo Moraes Lopes, atual coordenador do curso, função que Jardim também já ocupou, o mineiro ainda deixou um legado na educação e na universidade. A maioria dos professores pelotenses da UCPel foram alunos de Jardim e, hoje, buscam seguir o exemplo dele.
— Ele tinha um perfil de professor sério, mas com certo grau de humor e leveza. Ele buscava ajudar os alunos a encarar a medicina como uma profissão, e não como um comércio. Ensinava a importância de ajudar o próximo. Ele é um exemplo de professor, médico e ser humano — conclui.
Em Pelotas, constituiu família, fez amigos e montou outros negócios, sendo um produtor rural da região. Gostava de estudar e de manter contato com os ex-alunos e colegas de profissão. Bachettini conta que costumava ter longas conversas com Jardim e que o professor estava sempre disposto a ouvir e aconselhar.
— Chegou um momento em que ele não conseguia mais dominar as novas tecnologias. Ele veio conversar comigo, preocupado, e eu disse que ele não precisava disso. Mas ele queria aprender. No outro dia, chegou com um laptop embaixo do braço e fizemos um intensivo. Ele era assim, muito fiel e apaixonado pela docência — lembra o reitor e amigo.
Em dezembro de 2022, o curso comemorou 60 anos de existência. Jardim participou das comemorações, com saúde e lucidez, contando histórias e sendo homenageado pela trajetória trilhada junto à universidade.