Seis em cada 10 professores formados entre 2010 e 2020 cursaram graduações a distância. O dado faz parte de levantamento realizado pelo Todos Pela Educação com base no Censo da Educação Superior, realizado anualmente pelo Ministério da Educação (MEC), focando em concluintes dos cursos de licenciatura e de Pedagogia.
Entre os cursos de formação inicial de professores, o percentual de graduados em educação a distância (EaD) é de 61%, sendo 57% das matrículas em instituições privadas e 4% em públicas. Quando se olha para as graduações de outras áreas, porém, a proporção cai para 25% — 24% na rede privada e 1% na pública.
A alta proporção preocupa especialistas na área. Coordenador de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Ivan Gontijo destaca que a diferença gritante entre o percentual de EaD em cursos de licenciatura e Pedagogia e as demais graduações demonstra que este é um fenômeno específico da formação de professores que precisa ser trazido para debate público.
— A EaD tem um custo mais baixo e, nos cursos de formação de professores, oferece um potencial de empregabilidade alto. No entanto, se não regularmos esse mercado, o que acontece é a proliferação de cursos de baixa qualidade. Precisamos trazer esse assunto para o debate público para que o Ministério da Educação enfrente a situação — analisa Ivan.
O especialista destaca que os cursos EaD são importantes enquanto exceções à regra, para permitir o acesso, por exemplo, de pessoas que moram em cidades mais remotas que não têm cursos superiores na área, ou àqueles que só assim conseguiriam conciliar o estudo com o trabalho e os cuidados com a família. No entanto, pontua a importância das atividades práticas nesses cursos.
— A “culpa” não é de quem opta por fazer esses cursos, afinal, são mais baratos e oferecem uma flexibilidade de horários maior. O problema é que a regulação que o Ministério da Educação faz sobre esses cursos é frágil. Precisamos entender qual a qualidade das graduações em EaD que temos hoje e melhorar os instrumentos de mensuração dessa qualidade — defende o coordenador.
Hoje, o MEC avalia os cursos de graduação, sejam presenciais ou a distância, por meio do Conceito Preliminar de Curso (CPC). As notas, que vão de 1 a 5, são divulgadas no e-MEC. Conforme Ivan, grande parte dos cursos tem recebido o conceito 3, uma nota intermediária, que deixa dúvidas sobre como interpretá-la.
— Toda a forma como essa regulação acontece deixa difícil entender quais cursos são bons e quais são ruins e precisam ser fechados. Precisamos melhorar essa régua, para incentivar a ampliação dos cursos bons e iniciar de forma mais contundente o fechamento dos cursos ruins — explica o especialista.
Patricia Alejandra Behar, professora da Faculdade de Educação e dos cursos de pós-graduação em Educação e em Informática na Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), observa que nos últimos anos houve um aumento expressivo no número de cursos EaD, mas ainda faltam pessoas capacitadas para ministrar essas formações com qualidade. No entanto, ressalta a seriedade do assunto quando se fala em formação de professores.
— É preciso tempo e prática para formar professores, e essa modalidade (EaD) precisa ser muito melhor regulamentada e fiscalizada pelo MEC. O curso a distância deve ter um modelo pedagógico por trás que seja muito bem estruturado, o que não está acontecendo em todas as instituições — observa a pesquisadora.
A docente defende que é preciso haver um paradigma epistemológico que embase o curso, que leve em conta o perfil do aluno e tenha estratégias pedagógicas que deem dinamicidade. Ela cita quatro elementos necessários para isso: é preciso pensar no conteúdo, na metodologia, na organização e na plataforma a ser utilizada.