Por Roberto Meyer da Silva
Contador, pai de duas alunas
Na semana passada, a seção Duas Visões, publicada no caderno DOC de 11 e 12 de julho, publicou dois artigos mostrando visões diferentes sobre um mesmo assunto, o retorno às aulas presenciais. Li atentamente as considerações do Dr. Alexandre Vargas Schwarzbold, médico, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e presidente da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia (SRGI). Li igualmente as considerações do Sr. Bruno Eizerik, presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS).
A posição do especialista em infectologia é a de que, em suas próprias palavras, “não temos nenhuma das condições epidemiológicas que possibilitem que 2 milhões de estudantes e 100 mil professores se reencontrem para retomar as aulas presenciais”. A posição do presidente do Sinepe-RS é a de que, nas suas próprias palavras, “estamos preparados, com todos os protocolos exigidos, para retornar às atividades presenciais”.
A questão que apresento é a de que ninguém está perguntando qual a posição dos pais ou responsáveis, que abrangem uma faixa de idade que vai desde os mais jovens até os idosos (60 anos ou mais), como é o meu caso. Podem se manifestar o presidente da República, os ministros de Estado, o governador, o prefeito, o especialista, o líder de setor de atividade, o chefe, mas entendo que a palavra final deverá ser do indivíduo, pois é este que é infectado pelo vírus e, como já está mais do que provado, pode até ser morto por ele.
A voz do indivíduo, no caso, todos os pais e responsáveis pelos alunos, não está sendo ouvida. Não estão nos perguntando o que achamos, o que pretendemos e o que desejamos. Se decidirmos que nossos filhos não irão à escola, pois os mesmos estariam expostos ao risco de serem infectados e poderiam trazer a infecção para nossos lares, está decidido e ponto final. Ao fim e ao cabo, quem manda somos nós, pois as escolas, principalmente as privadas, nos servem prestando um serviço contratado, portanto devem nos ouvir e nos respeitar, algo que não está ocorrendo.
Nós, pais, somos movidos pela preocupação com a saúde dos nossos filhos, bem como das nossas famílias. Essa é a fonte maior de nossas preocupações e decisões neste momento, além de sobreviver ao caos econômico. A escola faz parte desse universo, mas é, para nós, um aspecto entre tantos outros que temos de levar em consideração no nosso dia a dia.
O assunto do coronavírus está longe de ter sido plenamente esclarecido, nos parecendo haver mais dúvidas do que certezas a respeito do mesmo. Exemplo dessa situação é a posição divergente entre duas pessoas com alto grau de formação e conhecimento, como as citadas no início deste texto. Os cientistas sequer sabem ainda qual a verdadeira extensão do estrago que esse vírus pode deixar no organismo, após a cura do paciente. Uma vacina, na melhor das hipóteses, só estará disponível no mercado a partir de 2021. Nos últimos dias, após uma intensa pressão de centenas de especialistas de todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi obrigada a reconhecer que o vírus pode ser transmitido pelo ar, não somente por gotas ou contato, e que isto é uma ameaça em ambientes fechados e com pobre ventilação. A situação, então, está assim: se os especialistas ainda não sabem tudo sobre o problema, como as autoridades poderiam estar devidamente preparadas para lidar com esse problema?
Está na hora de as escolas entrarem em contato com os pais dos seus alunos e perguntarem o que eles acham, pois correm o risco de abrirem suas portas e nenhum estudante entrar por elas.