Por Bruno Eizerik
Presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS)
A espécie humana sempre teve medo. Talvez, e isto é só uma teoria, tenhamos chegado onde chegamos, como espécie, por nosso sentido de preservação. O medo, que às vezes nos move e em outras nos deixa paralisado, é ainda maior contra um inimigo invisível que se instala em nosso organismo e nos mata. Entretanto, existem outras forças que movem a humanidade e a fazem romper o medo e dar um passo à frente. Se não fossem elas, o homem não teria saído de dentro da caverna, mesmo sabendo que animais ferozes rondavam seu abrigo, assim como não teria saído para navegar pelos oceanos. Sem essa força, o homem não teria feito todas as descobertas que fez até hoje e, nisto, incluo o computador no qual, neste momento, estou escrevendo este artigo.
Pensem no que é a evolução humana. Se é incrível a arte rupestre, é um absurdo eu estar escrevendo em um teclado e o texto aparecer em uma tela touch screen.
Não sou médico, mas tenho ouvido muitos. Alguns dirão: já passou da hora de sair de casa, pois, enquanto não tivermos uma parte da população com o vírus, estaremos condenados a ficar para sempre em casa. Outros dirão: ainda não chegamos no pico. Os médicos estão divididos, e olhem que eles são especialistas no assunto.
Sou um educador, não tenho dúvida alguma que a única maneira de colocar nosso país nos eixos é investir no ensino. Não importa se esse ensino é público ou privado, o que importa é que seja de qualidade. Não importa se o ensino é presencial ou remoto, o que importa é que seja de qualidade.
A pandemia nos mostrou que pode haver ensino remoto ministrado para alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, algo que era inimaginável alguns meses atrás. Vi crianças sendo alfabetizadas de forma remota, e isto é um fato. As aulas remotas deixaram as salas de aula do tamanho do planeta.
É certo que, neste novo momento, a família vem sendo mais exigida, mas sempre acreditei que não se aprende somente na escola. A participação da família sempre foi e continuará sendo fundamental na aprendizagem das crianças. Estudos comprovam que filhos de famílias nas quais os pais têm maior escolaridade têm mais chances de ter melhor resultado na escola.
O Estado teve o seu tempo para se preparar para enfrentar esta pandemia. Recursos não nos faltaram para a construção de hospitais, e tristemente ainda assistimos casos de superfaturamento e desvio de recursos. Talvez o que nos falte sejam profissionais para atender esses leitos criados, mas esta conta deve ser debitada para nossos governantes que só falam de educação em ano eleitoral. Veremos pessoas morrerem porque não investimos em educação como deveríamos ter feito. Milhares de jovens gostariam de ser médicos ou enfermeiros – que nos fazem falta hoje –, mas programas tão importantes como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) foram abandonados por sucessivos governos.
O protocolo para o setor foi construído com detalhes por especialistas na área da saúde, tem mais de 30 páginas e todos os itens serão cumpridos rigorosamente por nossas instituições.
No setor educacional, as instituições privadas reagiram frente à pandemia, mantendo seus serviços através do ensino remoto. E, agora, estão preparadas para o retorno. Por isso, entendemos que aquelas instituições que se sentirem aptas, cumprindo os protocolos de segurança determinados pelos agentes de saúde, devem ter o direito de voltar a receber os seus alunos.
Estamos preparados, com todos os protocolos exigidos pela Vigilância Sanitária, para retornar às atividades presenciais com segurança. Não voltaremos da mesma forma que era antes. O retorno será gradual, e defendemos que cada instituição defina quais estudantes voltarão primeiro. As regras de distanciamento impõem determinações como, por exemplo, menos alunos por sala de aula, menos circulação na escola para evitar aglomerações, aferição de temperatura e a higienização de ambientes, que constituem uma rotina severa, que será seguida. O protocolo para o setor foi construído com detalhes por especialistas na área da saúde, tem mais de 30 páginas e todos os itens serão cumpridos rigorosamente por nossas instituições, a fim de garantir que esse retorno seja de fato seguro.
Não sou um Bartolomeu Dias, que contornou o Cabo da Boa Esperança, mas, tendo em vista todas as variáveis de que dispomos neste momento, tenho convicção de que chegou a hora de voltarmos às aulas presenciais. Já está na hora, cercados de toda segurança, de sairmos da caverna.