O diretor de Estratégia Política do movimento Todos Pela Educação, João Marcelo Borges, demonstrou preocupação em relação ao fato de a educação infantil estar entre os primeiros níveis com retorno presencial previsto no Rio Grande do Sul, como foi anunciado pelo governo do Estado nesta quarta-feira (27). Em entrevista ao Estúdio Gaúcha, Borges disse que o início das aulas desses alunos permite a retorno dos pais ao trabalho, mas que outros fatores complicam essa retomada:
— Em particular, no âmbito das creches, há uma discussão hoje entre os especialistas sobre a real possibilidade dessa retomada. Dado que uma criança muito pequena não tem condições de usar máscara. Mesmo na pré-escola, crianças de quatro, cinco anos dificilmente vão conseguir manter distanciamento. Então, essa é uma etapa da educação básica bastante preocupante, que vai ser interessante observar no caso do Rio Grande do Sul como isso será feito.
O plano do Estado também prevê o ensino médio como um dos primeiros níveis com retorno presencial, planejando o retorno por meio dos extremos. No entendimento do governo, as crianças têm mais necessidade de atendimento presencial e alunos que estão prestes a concluir a educação básica e, possivelmente, ingressar no Ensino Superior, precisam reforçar o ensino.
Ao analisar a estrutura do ensino à distância no Brasil, o diretor do Todos Pela Educação diz que a diferença da educação no âmbito remoto reflete a desigualdade social brasileira:
— Esses são problemas da desigualdade brasileira. Por muitos anos, décadas, séculos, o Brasil ouviu desigualdade como se fosse mais uma característica certamente negativa, mas o Brasil conviveu com isso. Agora, muita gente está descobrindo as reais manifestações da desigualdade. A desigualdade é uma injustiça. Ela limita as oportunidades das pessoas, compromete o desenvolvimento dessas pessoas e da sociedade como um todo.
Segundo o diretor, nem mesmo as escolas particulares estavam preparadas para a questão do ensino remoto, que era mais utilizado no ensino superior. Ele entende que o ensino à distância desenvolvido nesse período é um “redutor de danos” e uma importante ferramenta para manter o vínculo da escola com os alunos.
— Em termos pedagógicos, não havia preparação, porque não se trata apenas de ensino remoto. Trata-se de ensino remoto às pressas. Fomos obrigados de um dia para o outro a sair de dentro da sala de aula, ficarmos em alguma medida presos em casa e tentar estruturar alguma oferta.
Borges avalia que ainda não dá para dizer que este ano é um ano perdido do ponto de vista pedagógico, mas destacou que a solução não ocorrerá em 2020, pois o calendário letivo deve invadir 2021.