Há, na educação do Rio Grande do Sul, um desafio a ser enfrentado: a repetência. Um terço dos alunos gaúchos do Ensino Médio está pelo menos dois anos atrasado na escola, acima da média brasileira e do sul do Brasil. Os dados são de 2018 e foram anunciados na manhã desta sexta-feira (16) pelo governo estadual.
Os índices de aprovação no Estado também precisam melhorar: no Fundamental, 88% dos estudantes gaúchos foram aprovados em 2017, contra 91% a nível nacional. No Ensino Médio, as taxas são piores: 72,8% dos alunos gaúchos foram aprovados, frente a 83,1% na média brasileira.
Estudo realizado pela Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag) avaliou como o Estado está em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Social da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação. Em 2015, nações de todo o mundo firmaram metas que precisam ser atingidas até 2030, envolvendo aprendizado, matrículas e combate à evasão.
O resultado mostra que o Rio Grande do Sul precisa combater a repetência e a evasão. O estudo também mostrou que o Rio Grande do Sul está abaixo das metas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O indicador que aponta a qualidade da educação vai de zero a 10 e leva em conta desempenho em matemática e português, além da repetência nas escolas. No Estado, não foram atingidas as metas no Fundamental.
Quanto ao aprendizado no Ensino Médio, há desafios. Em português, há mais jovens com conhecimento em nível de proficiência zero do que com domínio em nível intermediário. Em matemática, a proporção de conhecimento em nível zero e intermédia é quase igual.
O secretário estadual da Educação, Faisal Karam, reconheceu os baixos indicadores na área, mas afirmou que as notas no Ideb abaixo da meta no Rio Grande do Sul são puxadas para baixo por uma falta de precisão no sistema que registra as matrículas estudantis. O Ideb, diz, leva em conta repetência e evasão escolar. Em escolas públicas, como as matrículas para o ano seguinte são feitas automaticamente, muitas vagas são reservadas sem que haja, de fato, interessante do estudante. Em 2019, ele citou, há 860 mil alunos matriculados na rede pública no Ensino Médio, sendo que 110 mil nunca compareceram.
As pesquisas mostram que a distorção idade-série é influenciada pelo fator econômico e social, por raça, gênero e por onde o estudante mora. Reprova-se não porque não se sabe ler e escrever, mas porque não se consegue compreender o conhecimento da escola e aplicar para lidar com os problemas do dia a dia.
CLARICE TRAVERSINI
Professora na Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
— Estamos fazendo a correção para não ter mais matrículas automáticas de quem repetiu ou evadiu. Até o final de 2020, teremos um sistema em todas as escolas do Estado que irá comunicar os pais que o aluno não está em sala de aula. Isso não retira nossa obrigação de melhorar o ensino, mas precisamos melhorar o fluxo — afirmou.
Questionado se o modelo cearense de incentivo à educação pode ser adaptado ao Rio Grande do Sul (o governo de Eduardo Leite estuda repartir a municípios o valor do ICMS de acordo com o bom desempenho em escolas, além de formar professores de forma contínua), Karam afirmou que trazer o modelo para a realidade gaúcha não é fácil e que exigirá uma série de análises. No último Ideb, 77 das cem melhores escolas públicas de Ensino Fundamental do Brasil eram do Ceará.
— O Rio Grande do Sul tem muito mais escolas do que o Ceará. Lá, são 1 milhão de alunos, enquanto aqui são 2,5 milhões. Por lá, foi um projeto de governo que envolveu várias secretarias. A escola de melhor índice (em educação) adotava a escola que tinha pior índice, a escola com o segundo melhor índice adotava a que tinha o segundo pior. É um processo interessante, mas não pode ser adaptado do mesmo jeito — disse o secretário estadual da Educação.
Pesquisas nacionais e internacionais apontam saídas que governos podem adotar para combater o atraso escolar, destaca Clarice Traversini, professora na Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisadora do currículo e da escola contemporânea. Entre as soluções, estão investir em contraturno e educação integral, financiar a formação continuada de professores, favorecer o pertencimento do aluno à escola com discussões que sejam próximas à realidade e olhar para o estudante como indivíduo. De forma geral, no entanto, ela destaca que, sozinha, a escola não dá conta de resolver repetências e abandono.
— As pesquisas mostram que a distorção idade-série é influenciada pelo fator econômico e social, por raça, gênero e por onde o estudante mora. Reprova-se não porque não se sabe ler e escrever, mas porque não se consegue compreender o conhecimento da escola e aplicar para lidar com os problemas do dia a dia — pontua.
Matrículas na Educação Infantil aumentam
Desde 2015, houve expansão de matrículas na pré-escola (19%) e nas creches (16%). No entanto, o ritmo de aumento na oferta de vagas em creches está baixo, mostrou reportagem de GaúchaZH publicada no fim do ano passado. Um a cada três municípios gaúchos matriculava crianças de quatro e cinco anos na escola. Nesse ritmo, todas as crianças dessa idade só estariam estudando em 2021, indicou previsão feita com base em inteligência artificial.
O raio-X do governo do Estado divulgado nesta sexta-feira indica que aumentaram as matrículas de crianças negras na pré-escola, o que favorece o combate à desigualdade social. Por outro lado, professores da pré-escola têm menos curso superior do que em outros Estados.
Confira resultados do estudo
Distorção idade-série no Ensino Médio
- RS: 34,7 a cada 100 alunos
- Brasil: 28,2 a cada 100
- Sul do Brasil: 26,1
Distorção idade-série no Ensino Fundamental
- RS: 19,9 a cada 100 alunos
- Brasil: 17,2 a cada 100 alunos
- Sul do Brasil: 14,9 a cada 100 alunos
Ideb nos anos iniciais do Fundamental em 2017 — Brasil X RS
- RS: 5,8
- Meta RS: 5,9
- Brasil: 5,8
- Meta Brasil: 5,5
Ideb nos anos finais do Fundamental em 2017 — Brasil X RS
- RS: 4,6
- Meta RS: 5,3
- Brasil: 4,7
- Meta Brasil: 5