Após mais uma polêmica envolvendo o Ministério da Educação, com o recuo da pasta em relação a uma portaria que suspendia por dois anos a avaliação da alfabetização das crianças, a presidente-executivo do Todos pela Educação, Priscila Cruz, criticou a condução das políticas educacionais pelo ministro Ricardo Vélez Rodríguez. Priscila, que lidera o movimento da sociedade civil criado em 2006 com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade da educação, disse em entrevista à Rádio Gaúcha nesta terça-feira (26) que a área tem passado por uma situação delicada nos últimos meses, sem receber a atenção necessária.
— O que temos visto é um ministro que não tem preparo para gestão ou para formular políticas. Há uma falta de prioridade para a educação e uma equipe do MEC desarticulada, composta por grupos que só trazem prejuízos. O que aconteceu ontem é um exemplo claro disso — afirmou Priscila.
Na segunda-feira, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão vinculado ao MEC, publicou portaria para alterar as regras do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), definidas na gestão anterior, de Michel Temer. A prova para medir o nível de alfabetização dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental foi adiada em dois anos, de 2019 para 2022. Após repercussão negativa, o ministro publicou uma nova portaria nesta terça, revogando a primeira.
O documento de ontem, inclusive, motivou o pedido de demissão da secretária de Educação Básica do MEC, Tania Leme de Almeida. Ela alegou não ter sido consultada sobre a decisão de suspender a avaliação. Esta é a terceira baixa no alto escalão da pasta em menos de três meses. A ex-secretária fazia parte do corpo técnico do ministério, não ligado a militares ou a Olavo de Carvalho, conselheiro do presidente Jair Bolsonaro.
Para Priscila, a escolha de Ricardo Vélez Rodriguez para ministro da Educação foi o principal motivo para que, agora, tantas pessoas estejam saindo ou sendo demitidas do MEC.
— Ele nunca teve experiência com políticas públicas de educação e não tinha uma rede de pessoas para ter como equipe. Vários grupos foram indicando pessoas e isso foi compondo um mosaico de grupos não articulados dentro do MEC, o que culminou nessa inoperância e nessas quedas sucessivas — disse.
Segundo ela, isso se dá pela falta de prioridade em relação à educação no país.
— Da mesma forma que temos um ministro forte para Economia, um ministro forte para a Segurança Pública, o Brasil também deveria dar a mesma atenção para a educação. Por que a gente tolera um ministro da Educação que não é preparado para o cargo? Um país que não investe em educação é um país eternamente fadado ao subdesenvolvimento —afirmou Priscila.
Ao ser questionada sobre quais seriam as medidas que o governo deveria começar a utilizar para melhorar a educação no país, a presidente do Todos pela Educação sugeriu, entre outras, o atendimento à primeira infância, a implementação de uma política nacional de alfabetização e "fechar a torneira do analfabetismo".